O céu já tinha escurecido enquanto eu pegava a direção nas ruas que já conhecia.

Durante todo o meu "retiro", não fui à casa dos garotos e nem tive vontade. Tudo ali parecia confuso demais para a nova Julie.

Eu estava leve demais para lidar com bagagem alheia. Troquei algumas mensagens com Calum, mas ele respeitou o meu afastamento.

Quem mais me viu nesses dias foi Josh, muito pelo motivo de que trabalhávamos juntos e as nossas visitas à Jam House de L.A. eram constantes.

Avistei um novo restaurante de comida japonesa sendo inaugurado na esquina da avenida principal, a dois quarteirões do hotel. Será que meus chinelos brasileiros eram apropriados para entrar lá e pedir alguma coisa pra viagem?

Los Angeles é uma cidade costeira, mas todo mundo tá sempre muito bem arrumado, era difícil escolher uma peça de roupa pra sair de casa. Como meu único compromisso depois de certo horário era velejar sozinha e conversar com um idoso abusado, eu estava me vestindo com roupas leves o suficiente para operar o veleiro e cobertas o suficiente pra não parecer destapada quando eu parasse na padaria.

Mas essa não era uma noite para padaria. Tinha um baita de um restaurante lindíssimo me fazendo aguar de vontade.

Fui em direção à faixa de pedestre para atravessar.

Aconteceu rápido demais.

Em um segundo eu tentava enxergar a lotação entre as pilastras de madeira dentro do restaurante, no outro a rua estava de cabeça pra baixo e tudo escureceu.

Escuro. Tudo escuro.

Ouvi um ou dois barulhos, portas se abrindo. Vozes que eu não conhecia.

Silêncio. Bip bip e mais silêncio.

Porta abrindo e fechando. Bip Bip Bip Bip Bip...

Algo repuxando a minha veia.

"Ela tá acordada?"

Eu queria dizer que estava, mas era como se eu não mandasse no meu corpo.

Mais portas, mais vozes. Um toque na minha mão. Um aperto na minha mão.

Bip Bip Bip.

Silêncio. O silêncio era o que mais durava.

"Ela escuta?"

Se eu escuto? Claro que eu escuto.

Eu não ouvia a voz do meu pai. Onde ele tava? Nem Hannah.

"Dra. Stone, já administrei o calmante mais leve"

Barulho da TV, algum desenho animado, notícias do dia, bip bip.

Silêncio.

"Vocês não podem demorar"

Haviam vários sotaques, falas misturadas.

Uma mão na minha mão, outra e outra e outra.

Alguém chorando. Quem estava chorando?

Quis mexer a minha mão para pedir pra pessoa parar de chorar. Era uma mulher.

Silêncio. Longo silêncio no escuro.

Bip bip.

"Você precisa ir embora, o horário de visitas acabou"

Porta fechando.

"Os sinais são bons"

Silêncios, bips.

"Tente falar com ela"

Lover of Mine | Luke HemmingsWhere stories live. Discover now