Capítulo 56

799 67 282
                                    


É coisa da minha cabeça?

Coloco os pés no chão frio, tentada a correr pra porta da frente, mas o que eu estou esperando?

Pauso a melodia suave fechando com o controle da TV e me levanto sem me importar com o que estou vestida ou se estou calçando qualquer coisa.

Esse som de alguém batendo na porta é familiar demais para que eu não me afogue em hipóteses.

Desço as escadas tentando controlar a minha ansiedade e a sala escura parece bem clara, tudo porque eu realmente quero ver.

Ver quem está atrás da porta.

Me aproximo da maçaneta totalmente sem força para sustentar os argumentos que me levaram a voltar pra Sydney.

Preciso aliviar a tensão.

Giro a maçaneta e puxo a porta de uma vez deixando um suspiro pesado escapar, mas o que vejo não é o que eu esperava.

Não há ninguém.

Observo a varanda pequena e a grama bem cortada na entrada. Não há carro estacionado na rua e menos ainda qualquer pessoa à vista.

Franzo a testa e aceito a decepção.

Por que eu tomo decisões esperando o efeito contrário delas?

Porra, Julie.

Imagino a cena de fora e realmente me sinto patética.

De pijama, descabelada e com essa cara de trouxa, abrindo a porta da frente na madrugada esperando que o mundo não fosse como ele é.

Mil vezes patética.

Eu estou tão exausta de sofrer por isso e por tudo. Tão cansada de ser afetada mesmo de longe.

Tranco a porta e volto pra cima convencida de que fiquei doida de vez.

...

Já faz quase uma semana desde que voltei pra Sydney. Embora eu tente, parece que essa não é a minha vida.

Falta gente.

Eu nunca tive o sonho de me mudar pra América e ter uma vida perto dos ricos e famosos. Eu quero sim trabalhar como assessora pra alguém importante ou, quem sabe, até escrever pra uma revista importante, mas em qualquer lugar que me deixe feliz.

Eu não quero que ninguém ache que eu me deslumbrei com Los Angeles, mas também não quero que pensem que estou sentindo falta deles. Então a melhor decisão é esconder qualquer sentimento de não pertencimento à minha cidade natal.

Não falei mais com Calum, e espero que ele não tenha notado que eu não protestei quando ele mencionou o episódio em Amsterdã. Ainda não é a hora de revelar sobre a recuperação da minha memória.

O cerco vai fechar em algum momento, eu sei.

Voltei à minha rotina na Jam House e na faculdade. Fazia muito tempo que eu não pisava no campus e foi bom ver alguns rostos.

Eu tenho apenas duas aulas na semana e estou grata por essa fase estar acabando. Perdi completamente a rotina de estudo e não sei se daria conta de mais um período.

Depois do expediente, sigo para o supermercado no centro da cidade.

Ando ocupando minhas horas livres com atividades bobas, tipo comprar comida no meio da semana quando não há necessidade pra tal.

Tenho certa preocupação em dirigir, afinal, os flashs de memória ainda aparecem sem avisar, mas uma ida rápida ao mercado não deve fazer mal.

Insisti pra John pelo telefone de que não precisava da companhia dele. Eu preciso criar laços com a cidade novamente, e não vou conseguir fazer isso com outra pessoa me vigiando.

Lover of Mine | Luke HemmingsOù les histoires vivent. Découvrez maintenant