Capítulo 1

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Eu o conheci na situação mais sem noção possível.

Deitada no meu quarto, com o celular do lado, exausta depois de voltar do trabalho, escutando meu pai cozinhando alguma receita mirabolante.

Eu amava trabalhar na Jam House, era o melhor estúdio de toda a Austrália, então eu passava o dia todo lidando com artistas incríveis, rodeada de música.

Era, com certeza, o ponto alto da minha vida.

Quando o amigo de infância do meu pai, Scott Miller, gerente da JH me ofereceu um estágio lá, eu senti que era impossível minha vida dar errado a partir dali. Ali eu começava a ter algo que eu prezava e queria manter. Um motivo para acordar todos os dias. Eu ainda me odiava, claro, mas eu finalmente achei uma inspiração pra tentar virar o jogo.

O celular tocou e a pessoa do outro lado da linha começou falando tão rápido, enrolado e cheio de sotaques misturados que eu mal entendi.

Olhando pra trás, eu queria ter fingido demência e desligado o telefone naquela hora, mas como eu ia adivinhar que aquele seria o gatilho para as minhas visitas ao céu e ao inferno?

- O quê? - eu respondi o mais alto possível, sem gritar, para a pessoa do outro lado da linha parar de falar e me ouvir.

Escutei o cara respirar fundo, como se estivesse infinitamente impaciente.

- Eu. preciso. que. você. venha. até. o estúdio. pois. eu. estou. trancado. do. lado. de. fora. - as palavras saíram pausadas e um pouco tropeçadas.

Ele parecia... bêbado?

- Quem é que está falando?

Não é tarde o suficiente pra quem quer que seja estar ligando pra uma estagiária?

- Não importa, é o seu trabalho. - ele respondeu em um exemplo perfeito de escrotice humana.

Droga.

Só podia ser um daqueles filhos da puta que se acham donos do mundo.

O lado ruim de trabalhar na JH era esse: lidar com babaca em crise de estrelismo.

Eu já o odiava, sem saber quem era.

De qualquer forma, era mesmo o meu trabalho.

Vesti o cardigã azul escuro que estava pendurado na cadeira da minha escrivaninha, vasculhei minha bolsa para pegar as chaves do estúdio.

Desci as escadas e avisei ao meu pai que voltaria em uma hora no máximo.

- Ok, mas pega o meu carro. Tá na época de trocar os seus pneus e ontem choveu um pouco, a rua pode estar molhada.

- Tudo bem, pai - beijei sua bochecha enquanto ele não tirava as mãos dos legumes.

Ele apontou para as chaves do sedan, em cima da mesa.

- Cuidado na rua!

- Sempre! Te amo.

Ouvi ele gritando um "também te amo" depois de já ter fechado a porta da frente.

Por que eu não fiquei em casa e aproveitei aquele jantar maravilhoso que meu pai estava preparando? Por que eu tive que colocar o trabalho acima da minha saúde mental justamente naquele dia?

Bem, agora já era.

...

Estacionei na calçada em frente à JH e avistei a sombra sentada nas escadas.

O cabelo loiro brilhante era suficiente pra eu saber que era mesmo algum músico famoso tendo ataque de estrelismo.

Nojo.

Lover of Mine | Luke HemmingsWhere stories live. Discover now