Capítulo 30

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Eu dei uma desculpa esfarrapada pra Lia e voltei pro meu quarto. Precisava de tempo para processar a informação.

Que porra tinha acontecido na madrugada anterior?

Costumava achar que Luke seria a pessoa que me contaria algo do tipo. Não que eu acreditasse que fosse acontecer, mas me peguei imaginando as possibilidades algumas vezes.

O que aconteceria se Luke não fosse mais dela? Eu estava quase acostumada com o fato de que ele não seria de mais ninguém, e eu estava apenas aproveitando as últimas migalhas.

Enquanto tentava arrumar meus pensamentos, ouvi a campainha do quarto tocar. Talvez fosse Josh me buscando para ir ao espaço onde seria o show naquela noite, mas ainda era cedo pra isso.

Sem pensar muito, fui direto para a porta.

Quando abri, não era Josh, era Luke.

- Hey. - me assustei.

Eu nunca me acostumei com as reações que a imagem dele me causava.

- Hey... posso entrar? - Luke parecia incomodado.

Abri espaço para ele, que passou por mim e foi direto para a cama, onde deitou exatamente como fazia no meu quarto há tempos atrás.

A cena me pegou de surpresa e me despertou para a saudade que eu tinha de estar isolada com ele.

- Precisamos conversar. - ele falou, se virando para mim.

O tom de voz dele me arrepiou, e não foi um arrepio bom. Parecia tenso e cauteloso. Um "precisamos conversar" nunca é acompanhado de uma notícia boa.

Não era assim que eu esperava receber a notícia do seu término com Sierra.

- Ok...- sentei na poltrona na frente da cama.

Ele se sentou também, unindo as mãos, levando um tempo para achar as palavras certas.

Às vezes eu só queria sacudí-lo e implorar para que falasse comigo sem filtros, como fez no avião.

Luke mexeu no cabelo, inquieto, e voltou a juntar as mãos na frente do corpo.

- Eu terminei com a Sierra.

Pensei em fingir que estava ouvindo primeiro dele, mas eu não sabia mentir pra Luke. Decidi confessar a fofoca de Lia.

- Ah...eu sei. A notícia meio que correu rápido nos bastidores. - revelei, sem mencionar o nome da minha fonte.

Ele abriu a boca pra falar algo, mas nada saiu. Olhou para os lados, passou as mãos no cabelo de novo e finalmente encontrou meus olhos, ainda tenso.

Por que ele não falava logo?

- Há algo mais? - perguntei, querendo acabar logo com a expectativa.

Luke pensou, mordendo os lábios.

- A minha gestão me proibiu de ser visto com outra pessoa até o nascimento do bebê, ou até um momento mais propício. - ele praticamente cuspiu as palavras.

Pronto, ali estava.

Havia sempre algo no caminho.

Eu não sabia o que dizer, mas a minha falta de reação gritava muito. O universo conspirava para que nós dois fôssemos adiados. Não importava o quanto esticávamos as mãos, nossa sina era estar fora de alcance.

Luke ainda tentava se explicar.

- Eu rompi com a mãe do meu filho enquanto ela ainda está grávida. - ele levantou as mãos, rendido - Não posso ser visto com outra mulher de forma alguma.

Respirei fundo, querendo dizer que não era culpa dele, mas era sim. Era minha culpa também. Só Sierra não tinha culpa nisso tudo, nem a criança que chegaria. Infelizmente, tudo fazia sentido.

De tudo que podia acontecer, aquele ainda era o melhor cenário: a coisa certa estava sendo feita.

Mesmo que mantivéssemos nossa estranha "amizade" em segredo, viver em turnê implicava a presença de muita gente nos rondando. Qualquer um poderia vazar a informação.

- Eu entendo - soltei, por fim. Não queria que ele se sentisse pior do que devia.

- Podemos ser amigos? - ele perguntou, parecendo ter horror à palavra, mas ainda assim tentando fazer dar certo.

- Não é tudo o que somos? - forcei um sorriso, revirando os olhos.

Ele se levantou e foi na minha direção, estendendo a mão pra mim. Aceitei. No fundo da minha mente, eu sabia que Luke e eu nunca seríamos só apenas amigos. Ele também sabia.

Aquilo ali era apenas um adiamento. Gostava de pensar que nós dois éramos inevitáveis.

- Me prometa que vai tentar também, de verdade, e eu vou contar os dias até poder fazer o que quero contigo. - ele piscou.

E assim, em um segundo, me tirou as esperanças e me devolveu o ar ao mesmo tempo.

Inevitável. Irresistível.

- É assim que você quer tentar ser meu amigo?

Luke riu, soltando a minha mão e rodando pelo quarto.

- A gente nunca vai conseguir - ele balançou a cabeça, revelando o óbvio.

Seria cômico se não fosse trágico. Era rir pra não chorar. Por que a gente ainda fingia?

- Meu deus, eu te odeio...- cedi e ri dele, de mim e da situação.

Ele refletiu sobre as minhas palavras e eu quase desejei não tê-las dito, mesmo que tenha sido brincadeira.

- Deveria - ele soltou com um sorriso infeliz.

Luke foi em direção à porta e eu o acompanhei.

Ele colocou a mão na maçaneta e se virou pra mim. Encarei o azul dos olhos dele e o cacho loiro ornando seu rosto. Cada detalhe decorado no fundo da minha mente.

- Você vai esperar por mim?

Era incrível como Luke conseguia me pegar de surpresa.

A resposta estava na ponta da minha língua, mas eu não sabia como proferir.

Esperar pelo quê? Eu queria ouvir exatamente pelo que estaria aguardando, mas nem Luke teria aquela resposta. Tínhamos meses pela frente e mudanças aconteciam em um segundo.

Esperar pelo quê, Luke Hemmings?

Nas pontas dos meus pés, aproximei meu rosto do dele e senti seu perfume. Passei a ponta do meu nariz na linha da barba por fazer.

De todas as respostas que pairavam na minha mente, preferi entregar a ele a ambiguidade que nos era tão familiar.

- Você vai voltar? - perguntei, no pé do ouvido dele.

O olhei nos olhos. Luke examinou meu rosto e sorriu.

A gente se entendia daquela forma.

Ele abriu a porta e saiu.

Talvez eu devesse mesmo odiá-lo, mas a verdade era que eu não conseguia. Das mil e uma coisas que ele me fazia sentir, ódio não era e nunca seria uma delas.

O vai e vem, os erros, as incertezas, tudo era suprimido pelo êxtase da espera e o alívio da chegada dele.

Ele me virava do avesso e eu ainda queria mais. Quanto mais eu experimentava, mais eu desejava e, mesmo transbordando, eu ainda não estava cheia.

Luke Hemmings era como uma droga, e eu estava tentando controlar o meu vício.

Lover of Mine | Luke HemmingsWhere stories live. Discover now