Os primeiros dias após aquela fuga

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- É claro que não meu amor! Você é a pessoa que mais confio nesse mundo! Eu tenho certeza que fui o único homem de sua vida e espero ser sempre daqui pra frente. Vou modificar a frase. No seu caso não vale, porque fui o único homem de sua vida. Não tens como comparar.

- E para quê comparar, se o prazer que sinto em estar com vosmicê não tem nem descrição, quanto mais comparação! Diz Pérola de forma carinhosa, quando os dois se beijam intensamente e começam a fazer amor mais uma vez naquela noite de ventos frios, em meio a uma mata fechada, ao lado de uma fogueira feita para os proteger durante a noite! Eles estavam irradiando felicidade naquele momento! A sensação de liberdade vivida por aqueles que nunca a tiveram, não tinha descrição!

Naquela mesma noite, na segunda após aquela fuga, Tenório pede para Scarlett:

- Senhora, eu quero ir também na busca por esses dois. Eu quero encontrá-los. Terei o prazer de lhe entregar aqueles dois insolentes!

- Não Tenório, nesse momento eu prefiro que vosmicê fique aqui comigo criando as estratégias de captura. Não pagaremos mais caçadores de recompensa, pois já foram enviados homens para todos os lugares da Bahia. Artur e Pérola não têm experiência em fuga, rapidamente teremos notícias deles. Assim que tivermos, aí sim, quero que vosmicê vá e os busque pra mim.

- Tudo bem senhora. Estou aqui a disposição para agir conforme a senhora deseja. Afirma Tenório.

- Lembre-se, quando isso acontecer eu quero que esses dois sejam capturados vivos. Eu quero Artur e Pérola vivos na minha fazenda, pois quero os castigar como nunca castiguei ninguém nesse mundo, para que sirvam de exemplo aos demais escravos. Afirma Scarlett com um tom sombrio.

- Sim senhora. Será da forma que a senhora deseja! Afirma Tenório quando aquela conversa é finalizada.

No terceiro dia após a fuga, Pérola e Artur estavam caminhando e cavalgando mais para o sertão da Bahia, em meio a um sol escaldante, em uma parte mais aberta, com menos água e alimento disponível. Eles começam a sentir, pela primeira vez, o peso mais intenso que aquela viagem estava a trazer. Muito cansado, Artur estava preocupado, pois sabia que Pérola estava a enfraquecer depois desses dias a dormir pouco e cavalgar muito, em meio a aquele sol de verão com altíssimas temperaturas do sertão da Bahia. Foi quando ele entendeu que eles poderiam e deveriam diminuir um pouco o ritmo, se aproveitando que já estavam muito distantes da fazenda de Scarlett e que, provavelmente, ela não os encontraria daquele ponto em diante.

Naquela noite, eles resolvem parar mais cedo, por volta das 10 horas para dormir, pois estavam muito cansados e sentiam que os seus cavalos também estavam exaustos depois de tanto tempo a viajar. Então, naquela noite, eles apenas descansam, trocando poucas palavras, o que demonstrava que estavam a sentir cada vez mais o peso daquela viagem, depois de percorrer mais de 80 quilômetros durante o dia.

O dia 06 de dezembro de 1795 amanhece, e aqueles dois levantam um pouco mais descansados, após conseguirem dormir por mais de nove horas, pela primeira vez, após o início da viagem. Assim que acordam, eles se beijam e demonstram a paixão que tinham um pelo outro com palavras carinhosas, dizendo que estavam onde mais desejavam naquele momento, um nos braços do outro, pela primeira vez livres! Naquele dia, eles pegaram alguns pontos mais planos na margem de um rio, o que dava a eles a possibilidade de colher mais frutos, tomar água mais vezes e hidratar os cavalos, fazendo com que aquela viagem fosse menos cansativa. Mais tranquilos, pela distância que já haviam percorrido, Artur e Pérola até se arriscam a tomar alguns banhos no meio daquela viagem, quando encontravam lugares mais belos, para poderem se livrar do calor. Viajar nas margens dos rios era algo que trazia um certo conforto aos viajantes naquele período em que tudo era muito inóspito.

Na fazenda, Scarlett já estava desesperada. Já haviam passado 4 dias daquela fuga e não havia nenhum sinal de que Artur e Pérola seriam capturados. Naquela noite, ela chamou Antônio e Tenório para uma conversa, visando redefinir os termos da busca. Já no começo daquele dialogo, Tenório pegou um mapa e começou a explicar para Scarlett:

- Senhora, já buscamos em todas as fazendas vizinhas, vilarejos, vilas, povoados, entre outros locais possíveis, informações sobre esses dois escravos e ninguém tem nenhuma pista. Provavelmente, eles estão viajando por matas fechadas para não serem avistados por ninguém e pelo fato de eles serem brancos, não levantam muitas desconfianças ou chamam a atenção. Por isso, temos ainda mais dificuldade de encontrá-los.

- Tenório, por favor, continue os esforços que puder para essa busca. Eu não estou a conseguir dormir pelos prejuízos que tenho tido e pela minha revolta desses escravos.

- Sim senhora. Faremos isso. Acho que agora temos que expandir a nossa busca. Pelo tempo que já passou, eles podem já ter passado dos 180 quilômetros de raio que programei com os capturadores contratados. Acho que agora podemos os deixar livres para buscá-los, pois será impossível manter essa comunicação e uma busca organizada. Temos que confiar no instinto caçador dos capturadores.

- Sim Tenório, se acha que esse é o melhor caminho, pode ser dessa forma. Como estão os nossos gastos Antônio? Questiona Scarlett com um semblante preocupado.

- Estão preocupantes senhora. Até o momento já gastamos 3 vezes o valor de Pérola e Artur, que são escravos que valem uma verdadeira fortuna. Eu estou muito preocupado, porque as expedições apenas começaram e ainda prometemos pagar altos valores as pessoas que dessem pistas deles e uma fortuna ainda maior para aquele que os capturasse.

- Minha nossa. Estou vendo que esses escravos estão a dar muito mais trabalho do que eu imaginei. Maldito Artur e maldita Pérola! Eu quero ter o gostinho de ter esses dois de novo nas minhas mãos! Eu vou acabar com eles! Diz Scarlett a gritar de forma severa, quando complementa a sua fala questionando: - O que recomenda Antônio?

- Eu recomendo que todos os recursos daqui pra frente, sejam pagos pelos próprios caçadores de recompensa. Que não seja dado nenhum recurso adicional para as expedições senhora. Caso contrário, as suas finanças podem ir rapidamente a ruína.

- Faremos dessa forma. Tenório, não contrataremos mais ninguém daqui pra frente. Deixaremos que os homens que estão a procura deles continuem até encontrá-los. Manteremos apenas os recursos que prometemos, o resto eles fazem com recursos próprios.

- Sim senhora! Amanhã mesmo libero todos os capturadores para a busca livre e informo a eles que terão que caminhar com recursos próprios. Afirma Tenório, enquanto aquela senhora concorda, balançando a sua cabeça positivamente.

Então aquela conversa é encerrada, com Scarlett indo para o seu quarto e ficando mais uma noite sem dormir.

Em dois dias seria o seu aniversário e tudo que ela desejava de presente era receber a notícia de que aqueles dois escravos foram encontrados. Ela planejava castigar Pérola e Artur de forma que ela nunca havia castigado nenhum outro escravo antes. A afronta daqueles dois em fazer com que ela fosse humilhada em público e perdesse tanto dinheiro era para ela, talvez, maior do que as afrontas de Justina. Portanto, em sua mente, ela teria que ser muito mais severa com eles caso os capturasse do que foi com aquela escrava. Ela estava a planejar ser mais severa, especialmente com Pérola, a qual ela não tinha nenhum interesse carnal. Essa eu mato aos poucos, conforme fiz com Justina. Eu mato ela, com castigos terríveis, para que aprenda a nunca mais me afrontar dessa forma! Artur, vou castigá-lo até achar que está bom! Depois eu o deixo um tempo na lavoura e ele vai me implorar para retornar para a casa grande! Quando isso acontecer, eu quero ele de volta para satisfazer os meus desejos carnais. Pensava Scarlett.

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now