O domingo

610 65 37
                                    

No domingo, logo pela manhã, Scarlett acorda, faz a sua primeira refeição do dia e pede para que os seus matadores de aluguel lhe acompanhem até o vilarejo, pois ela queria ir a missa.

Ao chegar em frente a igreja ela encontra boa parte da sociedade e as pessoas a olham de uma forma mais carinhosa do que nos dias anteriores, certamente, após escutarem que ela em seu depoimento se mostrou frágil e dependente de um marido na câmara.

Scarlett mesmo sendo muito má com os seus escravos, era uma senhora muito religiosa e gostava de frequentar as missas sempre que possível. Depois da morte do marido se afastou um pouco da igreja no seu momento de luto e em meio as dificuldades para controlar os seus escravos, mas, estava muito feliz em retornar nesse fim de semana.

Pouco antes da missa iniciar, ela encontra com Josefa em meio aos bancos. Elas se cumprimentam e a sua melhor amiga senta ao seu lado para acompanhar a cerimônia. Ao final da missa Josefa chama Scarlett para uma visita e elas saem juntas da igreja. Na saída Scarlett é cumprimentada por muitos homens, que tinham o sonho de poderem cortejá-la um dia. Alguns daqueles homens foram os próprios julgadores dela no decorrer daquela semana, participantes da câmara local. Scarlett os trata de forma muito agradável, continuando a lhes dar uma certa esperança de que no futuro eles tivessem alguma chance com ela, para ganhar tempo, conforme Josefa havia lhe recomendado.

Após conversar com todos aqueles homens de forma muito harmônica, aquela senhora vai até a casa de Josefa para conversar um pouco:

- E os seus escravos estão respeitando as suas ordens agora? Questiona Josefa.

- Mas, é claro que sim. Estão trabalhando como nunca. E olha que nem precisei ainda usar a minha arma secreta como a senhora me recomendou, só fiz medo neles.

- Aquele ferro quente é a pior punição que um escravo pode receber, eles tem pavor só em imaginar serem marcados por aquilo. Diz Josefa.

- E quem não teria senhora. Eu já vi o meu pai marcar um escravo com aquilo, eu não imagino a dor que ele sentiu. Por sua reação, aquilo parece não ter comparação com nenhuma outra sensação tenebrosa nessa terra. Diz Scarlett a imaginar novamente aquela cena.

- Eu também já vi essa cena algumas vezes e não é bela realmente, a dor deve ser algo imensurável realmente, nem quem a sente acho que teria condições de descrevê-la. Diz Josefa.

- Eu não quero nem imaginar. Mas, se for preciso, conforme prometi, irei utilizá-lo como recurso. Eu disse a eles que quem me desrespeitasse daqui pra frente seria castigado com ele e não exitarei em usá-lo caso isso aconteça. Pra falar a verdade eu tenho uma certa vontade de usar isso em alguém, sentir esse poder em minhas mãos.

- Senhora! Como pode ser tão cruel, isso não é trabalho para uma dama.

- Chicotear os escravos também não é, mas, eu faço isso desde nova e sinto um prazer enorme enquanto faço. Pra falar a verdade, era uma das minhas ações favoritas quando era adolescente. Pegava os escravos mais jovens e os levava para a mata. Os ameaçava de inventar alguma coisa para o meu pai que eles fizeram e eles se desesperavam, então eu dizia que não iria fazer nada se eles me deixassem surrá-los. Obviamente que serem castigados por mim era muito menos doloroso do que pelo meu pai ou um capataz. Eles aceitavam sempre a minha proposta. Então lhes aplicava boas surras com varas encontradas na própria mata. Eu adorava ver aqueles escravos a apanhar. Eu sentia todo o poder nas minhas mãos. Diz Scarlett de forma direta sem demonstrar nenhum remorso de punir escravos tão jovens sem nenhum motivo.

- Senhora. Como podia fazer isso com os pobres escravos. Que maldade! Só castigamos escravos quando eles fazem alguma coisa de errado. Repreende Josefa.

- Escravos são objetos senhora, temos o direito de fazer o que quisermos com eles pelo nosso bel prazer. São seres pagãos, sem alma, não merecem respeito. Eu tenho prazer em castigá-los. Diz Scarlett em um tom que assusta um pouco Josefa, quando ela diz:

- Sinceramente senhora, algumas vezes eu fico um pouco assustada com a sua fala.

- Não se preocupe, eu só faço isso com seres sem alma. Diz Scarlett a sorrir. Somos batizadas, temos Deus em nossos corações, não precisa temer. Complementa aquela senhora.

- Eu só não temo porque considero muito sua amiga e acho que você me considera também. Quero morrer assim! Diz Josefa em tom descontraído, quando as duas sorriem intensamente.

Elas continuam a conversar sobre assuntos diversos. Scarlett descreve de forma mais profunda as suas punições e o medo em que seus escravos ficaram após aquele domingo. Ela conta também o que fez com Justina, que a castigou com as suas próprias mãos de forma tão intensa, que até hoje ela ainda está a sentir intensas dores e encontra-se muito debilitada. Assustando ainda mais intensamente Josefa. Depois de muito conversarem, Scarlett se despede e vai para casa. No restante desse dia aquela senhora ficou a descansar em seu quarto lendo livros. Depois do jantar ela escreveu uma carta para a sua mãe e logo depois foi dormir.

Na segunda-feira ela acordou e foi fazer a sua primeira refeição do dia, quando recebeu novas informações de Antônio sobre a situação da fazenda e a produtividade dos escravos. Assim que terminou a conversa com o seu administrador, ela chamou Tenório e foi com ele até a senzala para ver como estava Justina.

Ao chegar lá ela percebe que aquela escrava estava melhor, que as suas feridas haviam cicatrizado, mas que ela ainda se movimentava devagar e estava a falar com dificuldade, pois, encontrava-se ainda um pouco fraca. Scarlett então decide que não iria castigar a escrava nesse dia, que a deixaria se recuperar totalmente, pois não queria correr o risco de a ver morrer por não aguentar o castigo que receberia. Aquela senhora tinha mesmo em mente que deveria castigar aquela escrava de forma controlada para que ela pudesse sofrer pelo máximo de tempo possível, para se vingar de forma profunda pelos males que ela havia a causado no decorrer dos oito anos em que esteve casada com Francisco. Assim, aquela semana passou sem maiores acontecimentos.  

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now