Miss Scarlett e a escrava branca

O passar dos anos

Um mês depois, no final de julho de 1789, Scarlett e a sua pequena comitiva, chegam finalmente ao porto do Rio de Janeiro. Lá ela é recepcionada pela mãe, sua irmã e seu esposo, que a abraçam muitas vezes, demonstrando saudade e um enorme carinho por ela. Scarlett se sente muito bem com aquela recepção.

Artur fica encantado com tudo o que vê no Rio de Janeiro. Aquele lugar era muito grande e lindo, a aquela altura parecia ser ainda maior do que a cidade de Salvador. De certa forma, havia uma liberdade maior para as pessoas e os escravos, que pareciam trabalhar de uma forma mais autônoma naquelas ruas vendendo quitutes e uma variedade de coisas.

Ao chegar em casa, eles separam um espaço com 3 quartos, na imensa casa de sua irmã, apenas para Scarlett e sua comitiva. Eles queriam deixar aquela senhora mais à vontade para que ela se sentisse em casa. Aquele espaço reservado, mais distante do restante dos quartos foi muito estratégico para Scarlett nos primeiros dias, pois ela queria esconder inicialmente de sua mãe que ela estava a se relacionar com o seu escravo branco.

Logo ela contou toda a história para a irmã que ficou impressionada com tudo aquilo, mas compreendeu a situação, pois ela sabia que na oligarquia do Rio de Janeiro isso era muito comum para as viúvas. Normalmente, as viúvas, pegavam os seus escravos para atender os desejos da carne, mas, isso normalmente acontecia quando elas estavam mais velhas e não podiam mais procriar. No caso de Scarlett a grande diferença é que ela estava a querer procriar com o seu escravo, o que modificava o contexto e fugia do que era corriqueiro naquela sociedade.

Depois de alguns dias que chegou naquela casa ela resolveu se abrir com a sua mãe e lhe contar toda a verdade. Inicialmente aquela senhora levou um choque, mas, depois entendeu tudo, pois se lembrou do sofrimento que Scarlett passou com Francisco que a maltratava e entendeu que ela não queria mais ser dominada novamente por um homem. Muito moderna e liberal, especialmente após ir para o Rio de Janeiro, onde essas questões aconteciam com frequência na alta sociedade, sempre ficando as escondidas, mas, que algumas pessoas sabiam dessas histórias e comentavam, ela resolveu aceitar e apoiar a filha começando a torcer para que ela conseguisse ter um filho, conforme ela desejava.

Com o tratamento recebido Scarlett estava muito feliz. Depois de tantos conflitos que teve com a sua família quando era criança, ela sentia que a sua família havia aprendido a amá-la de verdade e aquele sentimento era recíproco. Tudo que a irmã iria fazer naquela cidade, naqueles primeiros dias, ela alegremente chamava Scarlett para lhe acompanhar, a levando em alguns médicos de referência para tratar de fertilidade.

Ela faz muitos exames e os médicos dizem que não entendiam o porque ela não conseguia engravidar, pois, nos exames, arcaicos da época, eles não notavam nenhum problema. Eles examinam também Artur, que era apresentado como esposo de Scarlett e os médicos também não encontram nada de errado com ele. Naquela época, como a medicina era muito rudimentar, obviamente, que eles não conseguiam fazer exames muito aprofundados, que descobrissem problemas mais complexos. Muitos remédios foram passados para Scarlett, para que ela tomasse, mas com o tempo passando, ela não conseguia engravidar.

Scarlett estava contente, porque, pelo menos, aquelas vozes sumiram da sua cabeça e ela estava a ter uma relação muito harmoniosa com a sua família. Os seus sobrinhos com o tempo começaram a adorar aquela senhora, que brincava muito com eles, durante várias partes do dia, demonstrando uma paciência enorme, que nem ela sabia que tinha. E assim os meses foram passando.

Com quem ela não estava nada bem era com Artur. Aquele escravo nas primeiras semanas naquela nova casa, começou a afrontar Scarlett, com ódio dela por estar longe da sua amada, a negando, inclusive, relações sexuais. Scarlett, muito nervosa, começou a castigá-lo de forma cada vez mais extrema, pedindo que Tenório o amarrasse em sua cama, para que ela pudesse o chicotear com toda a fúria. Depois de levar algumas surras, Artur entendeu que provocar aquela senhora o trazia muito sofrimento e preferiu não tomar mais aquelas atitudes, ficando dócil e com medo dela novamente, respeitando todas as suas ordens.