A preocupação de Antônio Dias Filho

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Ao ver o seu principal trabalhador sendo levado daquela forma, Antônio Dias Filho imediatamente contratou o melhor rábula, uma espécie de advogado sem formação, mas autorizado pelo Estado a realizar esse tipo de serviço, e o colocou a disposição daquele trabalhador. O problema é que as instituições do Estado tinham leis muito flexíveis e tudo era definido de acordo com as vontades do comandante militar.

Naquele período, ainda não estava estabelecida a Declaração Universal dos direitos humanos. Tortura e todos os tipos de maus tratos possíveis poderiam ser realizados ao bel prazer daquele comandante de polícia que não tinha quem supervisionasse as suas ações. Muitas pessoas inocentes morriam nesses interrogatórios pelo simples fato dos comandantes daquelas regionais não acreditarem em suas versões e os torturarem até a morte.

Assim que aquele homem chegou naquela prisão o comandante o levou amarrado para a sua sala e começou a interrogá-lo:

— Bem, eu vou lhe contar o que está acontecendo Camilo. O senhor é suspeita de ter cometido o crime contra o registrador desse Vilarejo. Ele afirmou que foi o senhor que o atacou em sua casa. Por favor, eu quero saber apenas a verdade. Primeiro vamos te interrogar de forma tranquila para que o senhor nos diga o que queremos saber e o porque assaltou aquele homem. Mas, se não nos contar o que queremos, aí sim, descobriremos de uma forma ou de outra. A escolha é sua se vai colaborar ou não. Afirma aquele comandante com um semblante sarcástico ao sorrir.

Camilo estava aterrorizado em meio a aquelas ameaças. Ele gostava muito de Antônio Dias Filho que lhe deu uma oportunidade muito grande e confiava muito nele, mas não sabia por quanto tempo conseguiria suportar as torturas que provavelmente iria receber. Quando ele diz:

— Eu tenho direito a um rábula que o meu patrão mandou pra mim senhor comandante. Eu quero falar na presença dele. Afirma aquele homem demonstrando um medo enorme em seu semblante.

Enquanto ele era levado para aquela sala o rábula o parou no meio do caminho e afirmou que estava a sua disposição.

Após esse pedido, o comandante se sentindo afrontado, fez sinal para um dos militares que estava naquela sala e ele acertou Camilo com um golpe com o cabo da espingarda nas costelas. Logo aquele interrogado percebeu que as regras naquela sala seriam bem diferentes daquele momento em diante. Então, depois de gritar de dor, Camilo afirmou:

— Eu não sei de nada disso que o senhor está dizendo comandante, naquela noite eu estava na fazenda o tempo inteiro. O meu patrão pode confirmar isso para o senhor.

A aquela altura, Antônio Dias Filho estava desesperado em sua fazenda. Ele havia mandado o outro capataz que havia realizado aquele ataque procurar o rábula e pedir que ele ficasse a disposição de Camilo naquela cadeia. Assim que aquele homem retornou para a fazenda e lhe disse que informou ao defensor, que imediatamente foi para a delegacia defender Camilo, o fazendeiro começou a planejar qual seriam os seus discursos, caso eles tivesse que ser interrogados.

Antônio Dias Filho deixou claro que todos deveriam negar até o fim qualquer participação naquele sequestro, pois, se dissessem parte da verdade, nas investigações, aqueles militares descobririam tudo e todos poderiam ser condenados a morte. Quando aquele homem concordou em agir dessa forma. Eles construíram a versão que seria apresentada, informando que todos ficaram em suas casas durante aquelas noites, como ocorriam em dias comuns. Tudo que eles diriam, caso fossem chamados para interrogatório é que naquelas noites não houve nenhuma anormalidade.

Durante o interrogatório daquele primeiro suspeito o comandante diz:

— Eu tenho todo o tempo do mundo Camilo. Acho que quanto mais o tempo passar é o senhor que vai ter muita vontade de me contar tudo o que sabe. Eu sei que vosmicê sabe de tudo o que aconteceu naquele assalto. Afirma aquele comandante em tom ameaçador.

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now