O domingo

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 Logo na manhã daquele dia Scarlett chama os seus dois matadores de aluguel para lhe acompanharem para a missa da manhã que seria realizada naquele vilarejo. Depois de um mês sem ir a igreja e a aquela cidade, Scarlett decidiu que deveria retornar, após receber informações de Antônio de que aquela população não comentava mais sobre a possibilidade de ela estar realizando atos de bruxaria contra a sua escrava.

Ao entrar no vilarejo, em sua carruagem, ela nota muitas pessoas a olhar para ela, mas não estavam demonstrando um semblante agressivo mais. As intervenções do padre em sua defesa foram fundamentais para isso. Ele começou a dizer as pessoas daquele vilarejo que acusar as pessoas sem provas era levantar falso testemunho, algo que era condenável pela igreja, o que fez com que aqueles moradores ficassem com medo de comentar sobre Scarlett. Com o tempo, como ninguém comentava mais sobre aquele assunto, o nome daquela senhora foi sumindo do imaginário popular e tudo foi voltado ao normal.

Quando chegou na porta da igreja, ela desceu daquela carruagem e foi cumprimentada por alguns homens, inclusive da oligarquia daquela sociedade e alguns que tinham dívidas com ela. Aqueles cumprimentos eram muito harmônicos, já que boa parte daqueles homens procuravam uma oportunidade de se casar com Scarlett no futuro, conforme ela havia prometido que faria diante daquela Câmara quando estava a ser interrogada.

Antes da missa começar, Scarlett foi até a sacristia para conversar com o padre que se preparava para a celebração:

- A que devo a honra da sua visita senhora Scarlett, que bom a ver aqui em minha paróquia novamente.

- A benção senhor padre!

- Deus te abençoa minha filha.

- Bem seu padre, eu tive rendimentos muito bons na minha produção e como prometi em minha conversa com o senhor quando foi a minha casa eu vou doar parte importante do meu lucro para a igreja.

- Mas, que coisa maravilhosa Dona Scarlett. Que coração generoso a senhora tem!

- Generosidade é o meu sobrenome senhor. Acho que não conheço alguém tão bondosa e generosa como sou. Diz Scarlett naturalmente, pois ela se julgava mesmo muito bondosa.

- Eu não tenho dúvidas disso senhora. E quanto a senhora pretenderá doar e para qual finalidade.

- Eu doarei todo o valor da pintura interna da nossa igreja senhor padre. Contratarei um pintor de Salvador para realizar essa obra.

- Mas, uma pintura de uma igreja do tamanho da nossa é muito cara senhora, ainda mais se for realizado por alguém de Salvador, a senhora garante mesmo doar tudo isso!

- Sim senhor. Pode contar com a minha doação. Não se preocupe com os recursos, com a generosidade que Deus tem tido na minha produção, dinheiro não é problema.

- Eu sabia que a senhora não iria abandonar as causas da igreja. Como parte desse povo ousou dizer qualquer coisa sobre a sua honra e bondade? Eu não admitirei mais daqui pra frente que digam mais nada do seu nome senhora. No final da celebração eu irei a parte de fora da igreja e direi a toda a comunidade que a senhora está realizando uma doação tão virtuosa para as causas religiosas, para que todos saibam o quanto a senhora é bondosa e generosa. Diz aquele padre com um sorriso enorme.

- Eu agradeço senhor padre. Sempre que precisar de algo para as causas da igreja, daqui para frente é só me procurar. Agora tenho recursos. Dinheiro não é mais problema.

- Pode deixar minha filha, qualquer coisa eu lhe procuro sim.

- Bem, vou indo para missa senhor padre. Muito obrigado.

- Eu que agradeço a sua generosidade minha filha. Tenho certeza que Deus abençoará ainda mais a sua produtividade!

- Obrigado senhor padre. Diz Scarlett ao sair daquele espaço.

No meio daquela cerimônia era perceptível a felicidade do padre. Ele estava irradiante. Aquela doação era a maior de uma única pessoa que aquela igreja já havia recebido na história e Scarlett só estava começando a administração daquela fazenda. Imagina quando ela estivesse por mais tempo. Ela poderia ordenar a construção de uma igreja só com recursos próprios, como outras pessoas já haviam ordenado em outras regiões do país, especialmente no Estado de Minas Gerais.

Ao final daquela cerebração, enquanto todos saíam daquela igreja, o padre pede a atenção de todos e ao lado de Scarlett fala para aquela comunidade sobre a generosidade daquela senhora, que prometeu levantar fundos para a pintura de toda a igreja. Em meio ao seu discurso ele fala das acusações inverídicas que aquela senhora havia recebido e que todo aquele ódio que havia sido criado contra ela, ela estava a responder com amor, com doação. Ele elogia Scarlett intensamente e aquelas pessoas a aplaudem após as falas daquele padre.

Diante daquela ação e das falas positivas do padre quanto a sua conduta, Scarlett agora tinha certeza que a sua relação com o padre estava caminhando para uma interdependência, o qual ela contaria com as ajudas dele e ele com as dela, através de recursos financeiros para o fortalecimento daquela paróquia. Assim, certamente as chances de qualquer denúncia de bruxaria contra ela prosperar caíram intensamente, já que era o padre que normalmente enviava as denuncias as dioceses maiores e depois de receber esses virtuosos recursos de Scarlett com perspectivas de receber muitas outras doações, certamente, ele não iria fazer isso.

Scarlett depois daquela ocorrência é muito elogiada e cumprimentada por todos, por onde passava. Ela estava feliz com tudo aquilo. Quando então ao passar no meio do povo ela avista Antônio Dias a olhá-la de forma séria, ela acaba de cumprimentar aquelas pessoas, retribui um olhar fulminante para aquele seu desafeto e vai em direção a casa de Josefa para uma visita.

Miss Scarlett e a escrava brancaWhere stories live. Discover now