|| 34. K E N D R A ||

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|| 34. K E N D R A ||

Assim que deixei o dormitório, dei de cara com ninguém menos que Kiara McGregor. Pela segunda vez no mesmo dia!

É muito azar, ou é só a vida querendo me pregar uma peça?

— Senhora McGregor, o Vincent está la dentro...

— Eu não vim para falar com o meu filho. Poderíamos ir para um lugar reservado, Ken? – Ela me olha de cima a baixo, com uma cara de poucos amigos.

Engulo seco e decido ignorar a sensação ruim que começa a se formar dentro do meu peito.

Acredito que não sairá coisas boas dessa nossa conversa.

— Claro! – Ela sai na frente, desfilando em seus Lanboutin maravilhosos, fazendo com que eu apenas a siga.

Kiara entra em seu carro de luxo, após o motorista lhe abrir a porta e aguarda que eu me sente ao seu lado. Me entrega um envelope pardo e pede para que eu o abra.

A primeira coisa que encontro é uma foto minha e do Vincent no dia da corrida, onde ele quase me beijou, as outras são todas minhas, como Kendra.

Então ela sabe.

— Pelo que pode ver, as coisas não saíram como você gostaria, certo? Afinal, alguém descobriu o seu segredo, Kendra. – O meu nome em sua boca soa quase como um insulto.

— Eu...

— Não diga nada, querida. Você tem até amanhã para deixar a faculdade. Não quero que o meu filho tenha sua sexualidade posta em dúvida, por causa de uma garota disfarçada de homem, sabe-se Deus lá para que! Não é justo com o Vincent o que voce fez, Kendra. Antes que ele mergulhe nessa relação, mais do que já aparenta, prefiro cortar qualquer tipo de ligação que ele ainda possa ter contigo.

Uma lagrima solitária escapa, enquanto me forço a me manter calada, e não gritar com essa mulher. Dizer que não é nada disso que ela está falando. Que ela está errada, que eu jamais faria algo para prejudicar o seu filho. Mas não posso.

Sei que ela também tem razão.

Um dos maiores prejudicados seria o Vincent.

— Para o bem de todos, é melhor você ir embora. – Aponta a porta, para que eu saia.

Faço menção de ir embora, quando ela volta a falar.

— Lembre-se, só tem até amanhã cedo. Faça o que for preciso para que ele não queira nunca mais olhar na sua cara.

Enxugo a lagrima com o dorso da mão e desço do carro, meu corpo todo tremendo, não devido ao frio absurdo que fazia do lado de fora, mas pelo simples fato de sair fugida, deixá-lo sem nem olhar para trás. Não era bem assim que eu imaginei que lhe contaria as coisas amanhã.

Caminho em meio aos últimos resquícios de neve, com a lua brilhando alta, no céu, em direção a lanchonete. Meu corpo parece não querer responder aos meus comandos, e eu passo simplesmente a me mover de forma mecânica, Abby vem ao meu encontro, diz alguma coisa e gesticula, parecendo preocupada, mas eu não a ouço.

Nesse exato momento, eu não consigo sentir nada, ainda estou absorta em meio a tudo o que acabou de acontecer. Tenho medo de como estarei pela manhã, dizem que quando a gente entra em um estado de estupor, o depois é ainda pior.

Não quero parar para pensar agora.

Gostaria muito de deixar de sentir tudo o que sinto por Vincent, gostaria de não ter mentido, de não ter me apaixonado por ele, de não ter o amado como o amo, e que as coisas não tivessem acabado como acabaram.

(...)

— Ken, acorda. Você precisa ir para a aula. Esqueceu que tem o jogo final no domingo?

— Hmmm, não quero, Abby! Me deixa! – Meus olhos ardem, devido à noite intensa de choro que tive, meu corpo parece pesar uma tonelada e minha cabeça está prestes a explodir.

Uma dor aguda se instalou dentro de mim e eu simplesmente não sei o que fazer para parar de doer.

— Seja corajosa, Ken. Aquela bruxa não é páreo para você. – Abby se senta na beirada da cama, ao meu lado.

— É a mãe dele, Abby. A mãe. Não é qualquer pessoa.

— Tudo bem, tudo bem, não está mais aqui quem falou. Vamos para a lanchonete pelo menos, não quero deixá-la aqui sozinha, via que você pula da varanda? Deus que me livre! Uma garota apaixonada pode cometer atitudes estupidas e impensadas.

Reviro os olhos, sentindo meu peito doer, mais uma vez.

— Eu não seria capaz de tirar a minha vida, Abby. Sei que é o meu primeiro amor, que as coisas não saíram como eu planejava, e que vai doer por um tempo, um bom tempo, mas tenho plena certeza de que morrer não é a única saída. O amor dói? Dói. Mas peço para que passe, em algum momento.

— É assim que se fala, minha amiga. Você se tornará ainda mais forte do que já era.

Levanto-me da cama e vou para o banheiro, faço minha higiene e disfarço as olheiras com um corretivo de alta cobertura, não quero que ninguém sinta pena de mim.

Antes de voltar a ser a boa e velha Kendra de antes, preciso ir ao dormitório e buscar as minhas coisas, durante a madrugada escrevi uma carta, a deixarei sobre sua cama, para que ele leia quando voltar do treino.

Arrumo a peruca e Abby me olha confusa.

Explico a ela aonde vou e ela se oferece para ir comigo. Não me oponho, ao menos sei que com minha amiga ao meu lado, eu não desabarei no choro, caso o encontre. Ela me manterá sã enquanto estivermos com ele.

Seguimos em direção ao campus, onde encontro alguns jogadores, eles me cumprimentam e eu retribuo, sem muito animo, entro no dormitório e agradeço aos céus por não dar de cara com ele.

Abby me ajuda a colocar minhas coisas dentro da mala na maior rapidez possível, tiro a carta de dentro do bolso do sobretudo e deixo sobre o seu travesseiro, esperando que ele não fique tão decepcionado comigo.

Amá-lo em silêncio foi uma experiência linda para mim, a forma como fui cuidada, amada e protegida de volta, tornou a experiência ainda melhor. Jamais me esquecerei de como ele me fez feliz, mesmo não tendo noção de nada disso.

Abby arrasta a mala, enquanto eu seguro a mochila sobre o ombro e tranco a porta, sem fazer muito barulho, para não atrair a atenção dos rapazes.

— Estava pensando em fugir, sem me avisar? – A voz rouca de Vincent soa logo atrás de mim, fazendo meu coração bater em um ritmo frenético e descompassado aqui dentro.

Eu não teria forças para me despedir, se o visse frente a frente...

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Amanhã teremos o penúltimo Cap de Minha Garota ❤
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Muitos beijos de luz

Minha Garota [CONCLUÍDA]Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz