Capítulo 51 - Ela se lembra

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Embora não fosse muito incentivado por seus pais, visto que recebera educação para ser um futuro conde e lidar com a parte burocrática dos negócios, trabalho braçal nunca foi um problema para Julien. Tendo viajado para várias partes do mundo e conhecido diferentes tipos de pessoas ao longo da vida, quis aprender como usar o próprio empenho para resolver problemas, como consertar rodas de carruagem ou mesmo preparar terras de plantação.

Afinal, apesar de estar quase sempre rodeado por empregados, não poderia e nem pretendia depender dos outros para tudo. Era uma questão de dignidade. Tanto ele quanto Eloïs, ainda que este com menos frequência, gostavam de labutar além de seus afazeres habituais.

Logo, valendo-se das experiências anteriores, eles se encarregaram de terminar a construção da cabana que ficara abandonada após o acidente de Christian, e tudo o que sucedeu.

Mesmo com o clima frio, Julien tirou a casaca e abriu alguns botões da camisa, arregaçando as mangas em seguida. Eloïs agilizara uma parte da construção, facilitando para que prosseguisse com o resto. A fim de não levantarem suspeitas, estavam revezando as idas ao bosque, e trabalhando separadamente. Levaria um pouco mais de tempo para ficar pronto, mas assim diminuíam os riscos. Seria difícil sempre inventar explicações para a ausência dos dois.

O projeto era simples. A cabana teria apenas um cômodo, pois, não havia madeira suficiente. Depois de fincarem as estacas de sustentação, o passo seguinte era fixar as tábuas e levantar a estrutura, e o teto montariam juntos. Porque demandava mais atenção e cuidado.

O rapaz passou bons minutos compenetrado no que fazia. Isso até que um ruído inesperado lhe assustasse, a ponto de deixar o martelo cair na grama. Imaginou que fosse Christinie, mas sua ruivinha não era tão cautelosa assim, e já teria corrido para os seus braços toda animada.

Ele ficou atento, esperando quem quer que fosse aparecer, enquanto tentava imaginar como descobriram aquele lugar, sendo que os gêmeos asseguraram que ninguém o conhecia. Se o esconderijo na clareira fora descoberto, significava que não era mais seguro e, consequentemente, não havia mais sentido em construir a tal cabana.

Julien se preparou para o caso de ser um estranho ou até mesmo um ladrão que invadira a propriedade, mas suas suposições foram completamente quebradas quando passos estalaram contra os galhos secos espalhados na relva, e avistaram um ao outro. Ficaram imóveis.

Surpresos, entreolharam-se, e levou bons segundos até que um deles se pronunciasse:

— O que faz aqui?

"Eu que lhe pergunto", o Dufour reprimiu a resposta grosseira, e ponderou algo melhor enquanto apanhava o martelo que deixara cair com o susto; coçou a nuca nervosamente.

— Ãhn, bem... Acreditaria se eu dissesse que vim tomar um respiro?

Um riso debochado escapou dos lábios de Lean, que retrucou:

— Não. Definitivamente.

Julien esboçou um sorriso sem jeito. Colocou o martelo em cima das tábuas empilhadas e se aproximou do escocês. Trocaram um breve cumprimento; ele suspirou ao dizer:

— Imaginei que não.

Como explicaria aquela cabana, construída pela metade, e no meio do bosque? Ele sequer deveria estar ali. Mas, considerando a circunstância, era melhor ter sido pego erguendo uma cabana do que possuindo a sobrinha dele. Certeza de que Lean o mataria se acontecesse.

Parados um ao lado do outro, eles observaram a lagoa que lhes traziam recordações distintas, mas sentimentos semelhantes. Lean fugira para o bosque a fim de aplacar a ansiedade que fervilhar no peito, graças à expectativa que imperiosamente fazia-se presente, já que o prazo terminava naquela noite e Suzanne não demonstrou sinal algum de que aceitara.

O Mais Belo VermelhoWhere stories live. Discover now