Capítulo 36 - Fogo e água

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Reunidas na sala de descanso, as três irmãs Bamborough mantinham uma conversa despretensiosa, embora ficassem a maior parte do tempo caladas e concentradas cada qual no que fazia. Suzanne e Queeny com seus arcos de bordar, e Adelyn com um de seus inseparáveis livros - estava relendo a história; um bule de chá quente as acompanhava.

- Até quando ele ficará aqui? - questionou Queeny, sem desviar a atenção do bordado.

- O assistente do doutor Daryl disse que é uma gripe forte. A febre baixou, mas ele precisa repousar por mais alguns dias. - respondeu Adelyn, erguendo o olhar da leitura.

Ficara responsável de acompanhar o estado do escocês, já que Suzanne alegou que fizera muito ao deixá-lo ficar e Queeny não demonstrou qualquer interesse depois daquela noite.

- O importante é que o senhor Lean está melhorando e, claro, que não foi nada mais grave.

- Huh. - resmungou a outra sem dar muita relevância.

Retomaram o silêncio.

Desde que Lean chegara e aquela inusitada cena acontecera, nenhuma delas ousou tocar no assunto novamente. E Suzanne também não parecia suscetível a trazer isso à tona. Não quando contrariava tudo o que dizia e como agia na presença dele, o irmão daquela maldita mulher.

Tinha consciência de que expressara mais do que deveria e Adelyn, logo ela, percebera isso. Então, relembrar estava fora de cogitação, não só porque o causador continuava ali como hóspede, mas porque não queria levantar suspeitas desnecessárias acerca do assunto.

A sala recaiu em silêncio mais uma vez. Suzanne seguiu concentrada no bordado, tal como Queeny, e Adelyn simplesmente mergulhou no livro e não fez qualquer questão de retomar ou iniciar um novo assunto. E essa quietude se estendeu além do jantar e até subirem para dormir.

Os momentos que passavam juntas eram na maioria assim: tácitos.

Um pouco depois da meia-noite, desperto e envolto em pensamentos, Lean observava o céu de verão através da janela. Graças aos cuidados de Adelyn, que fora muito gentil, e dos criados (de certa forma, de Suzanne também, que o acudiu àquela noite), sentia-se mais disposto.

Depois da visita do assistente do doutor Daryl, vários dias de cama e pratos cheios de canja, estava quase curado. Na verdade, cansara de dizer que não precisava de tanto zelo, mas Adelyn praticamente o obrigou a permanecer descansando. E, mesmo sendo maior do que ela, teve que reconhecer que a jovem conseguia ser bastante assustadora quando queria.

Coitado do dhuine* que casasse com ela.

Ao recobrar a consciência da febre que o afligira durante os últimos três dias, Lean foi aos poucos relembrando o motivo que o levara até o palácio em Northumberland. Foram dias cavalgando ininterruptamente, aliados a privação de sono e alimentação ruim que contribuíram para que caísse doente. Sequer sabia como foi capaz de chegar até lá, pois, não recordava de metade do caminho perto da fronteira. A enfermidade anuviara totalmente seus sentidos.

O fato de os gêmeos também estarem ausentes complicava a situação. Dispusera-se a viajar para falar pessoalmente com eles, mas teria que enviar uma carta de qualquer modo. Afinal, não se encontrava em condições de pegar a estrada nem que quisesse. Ainda não.

Ele precisava escrever e enviar essa carta o mais rápido possível para avisar sobre o que tinha descoberto. Levaria dois dias para ser entregue em Londres, porém, era tudo o que podia fazer naquele momento. Mas como expressaria aquilo em palavras? Tinha como fazê-lo?

Fechou os olhos, a fim de pensar melhor no que escreveria, e contraiu a testa no que ouviu a porta sendo aberta. Retesou, intrigado. Porém, por alguma razão, preferiu fingir que estava dormindo ao invés de averiguar quem era. Seus instintos de guerreiro levaram-no a imaginar que alguém pretendia se aproveitar da situação e lhe fazer algum mal. Mas, rebatendo racionalmente essa suposição, quem raios naquele palácio iria atentar contra a sua vida?

O Mais Belo VermelhoWhere stories live. Discover now