Capítulo 18 - Cúmplices

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Julien ficou encarando um ponto fixo no chão, querendo assimilar o que acabara de ouvir, ao passo que Christinie estava paralisada ao ter sua realidade revelada daquela maneira.

A música e as conversas animadas do lado de dentro rompiam o silêncio sombrio que os rodeava do lado de fora, ali, imersos na meia-luz daquela parte um tanto escondida do jardim.

No instante em que, enfim, o Dufour teve coragem de virar e confrontar a ruivinha, notou que os olhos claros dela estavam injetados de tristeza. Notava-se que não era um assunto fácil.

Muito pelo contrário.

Sendo assim, contendo seu desconcerto, o rapaz indagou com delicadeza:

— O que... Ele quis dizer...?

— Eu acho que o senhor saber exatamente o que ele quis dizer.

Julien balançou a cabeça, tentando assim ordenar os pensamentos caóticos, e olhou novamente para ela. Deixando as formalidades de lado, pois, a circunstância ia muito além de qualquer convenção ou regra social, ele murmurou ainda incerto e com cautela:

— Você... É infértil?!

Ela não respondeu e sequer olhou-o nos olhos.

Se aquilo fosse verdade, explicava muita coisa. Respondia, em verdade, praticamente todas as dúvidas que seguiram Julien no decorrer dos meses. Por um lado, ele ficou aliviado de que a condição dela não se referisse a algo mais grave, porém, não deixou de ficar chocado.

"Todos foram imediatamente embora depois de saberem da condição dela", "E que diferença faria desonrá-la ou não? Christinie nunca vai conseguir casamento". Tais frases uniram-se em um quebra-cabeças juntamente com tudo o que vira desde que chegou ao palácio da família.

Uma mulher infértil era vista como inferior, sem chances de arrumar casamento ou ao menos conseguir algum apreço dentro da sociedade. Julien não conhecia muitos casos, mas sabia como essas moças eram tratadas pelos demais. Christinie havia dado sorte em nascer como nobre, filha de um importante duque, só que nem isso a salvou de ser rejeitada e virar um alvo de chacotas.

Embora os rapazes olhassem para ela com desejo, nenhum deles iria propor casório, simplesmente porque não poderia cumprir com o seu papel de mulher. Quem gostaria de estar ao lado de uma moça que sequer era capaz de trilhar o único caminho para alcançar a plenitude de sua existência? A absoluta realização da feminilidade? Ninguém queria esse fardo para si.

Ninguém que estivesse disposto a apenas um matrimônio por conveniência.

— Não me olhe desse jeito. — censurou Christinie, lutando contra o nó em sua garganta.

Ele franziu as sobrancelhas sem entender.

— Eu não preciso de sua piedade, senhor. — completou ela — Já tenho que aguentar a de todos os outros e há mais tempo do que eu gostaria. Não me peça para aceitar a sua também.

— Não estou com pena de você.

Talvez estivesse um pouco, contudo, não do modo que ela imaginava.

— Não seja hipócrita, por favor. — riu sem humor — Estou farta de mentiras gentis.

Christinie, à um passo de chorar, respirou fundo para engolir as lágrimas e ergueu a cabeça com a acanhada dignidade que lhe restara. Havia aprendido a lidar com o menosprezo e a solidão, e não permitiria que Julien a humilhasse também, mesmo que ele não demonstrasse que o faria.

Sentia que seria incapaz de suportar a humilhação daquele homem.

Querendo fugir da dolorosa situação em que se encontrava, a ruivinha ditou rudemente:

O Mais Belo VermelhoWhere stories live. Discover now