Capítulo 32 - Elo entre irmãos

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Na calada da noite, mesmo cansados depois de um evento tão longo, os quatro jovens combinaram de se reunir no aposento do mais velho, Julien, para esclarecer todas as pendencias que amontoaram ao longo dos últimos dias e as que vinham se arrastando há mais tempo do que o necessário para alguns – se não para todos eles.

Eloïs foi o primeiro a entrar, deparando com o irmão sentado em um estreito recamier abaixo da janela, que aparentemente observava a rua já pouco movimentada por causa do horário.

Eles trocaram olhares rapidamente, mas nada disseram. O mais novo caminhou até a cama e ali sentou, esperando que os gêmeos aparecessem. Aquele silêncio, ainda que o incomodasse, já tinha ganhado certa familiaridade. Afinal, não era a primeira vez que ficavam sem conversar desde que foram para a Inglaterra, pois, o mesmo aconteceu depois daquele "incidente" envolvendo sua boca e a de lady Queeny no baile de noivado, a meses atrás.

Contudo, a circunstância era completamente diferente, uma vez que não se tratava de um beijo indevido em uma dama e sim do fato de que estava perdidamente apaixonado por outro homem. E ainda que tal silêncio o entristecesse, queria respeitar o irmão e esperar o momento certo – que torcia ser naquela noite – para resolver a situação de uma vez por todas.

Quando as coisas começaram a mudar tanto?

Antes, quase não haviam desentendimentos entre os dois e, se aconteciam, não ficavam mais do que uma hora sem falar um com o outro. Ele sempre achou que o irmão mais velho seria o seu porto seguro para o que fosse, mas jamais imaginou que um dia estariam presos em um impasse moral tão delicado. Será que Julien iria renegá-lo simplesmente por amar um igual?

Ele realmente temia saber a resposta, ainda que precisasse desesperadamente dela.

Minutos depois, a porta foi aberta, e os gêmeos apareceram. Assim que Christinie fechou-os no quarto, os ânimos imediatamente se inquietaram. Ela e o irmão permaneceram bons passos de distância dos Dufour, observando-os e sendo da mesma maneira observados. Tanto Julien quanto Eloïs, embora já acostumados, ainda ficavam impressionados com a semelhança dos ruivinhos. Um o reflexo do outro, praticamente, mas tendo cada qual suas particularidades.

Igualmente diferentes, tal como Julien pensou ao conhecê-los.

— Sentem-se, por favor.

Disse o mais velho, apontando para as cadeiras próximas a escrivaninha. No entanto, os gêmeos continuaram de pé, olhando-os à espera de que algum deles tomasse o partido de iniciar a conversa. Ou intencionando, no caso de Christinie, ela mesma encontrar uma brecha para começar a falar. Já que a responsabilidade de explicar um dos tantos pontos ficara a seu encargo.

Julien, apesar de intrigado e um tanto aborrecido, fitava a ruivinha contendo o desejo de chamá-la para o seu lado. Por isso pediu que eles sentassem nas cadeiras. Se bem que, considerando o cenário, deveria ser do conhecimento do irmão que os dois estivessem em um relacionamento secreto e esconder talvez não fizesse mais tanto sentindo assim. Porém, como não tinha certeza e queria proteger a reputação de Christinie, manteve-se firme na decisão de não demonstrar seus sentimentos até o momento em que achasse oportuno e seguro.

Ou assim ele pretendia, se seu irmão não tivesse dito de repente:

— Fique à vontade.

Julien olhou para o irmão. As sobrancelhas franzidas.

— Não é como se eu não soubesse. — encolheu os ombros — Honestamente, seu interesse por Christinie estava óbvio desde o início. Eu só não pensei que iria se concretizar tão cedo.

Eloïs levantou e estendeu a mão para Christian, que aceitou de maneira acanhada, e deixou-se guiar até a cama para sentar; Christinie, ainda de pé, olhou para seu amante e viu o constrangimento estampado na face dele. Contudo, não sabia dizer se era pelo o que presenciou o irmão mais novo fazer, ou porque estava envergonhado de tomar a mesma atitude.

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