Capítulo 47 - Consequências

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Em vista de tudo o que acontecia, Hugh não se encontrava em condições de trabalhar. Mas, sendo o duque de Northumberland, não havia outra opção além de continuar com sua rotina. Apesar dos pesares, era sua responsabilidade manter as coisas funcionando.

Terminou de preencher os números que faltavam no livro de registros e o fechou. Deixou os óculos de lado e recostou na poltrona. Respirou fundo ao pressionar as têmporas doloridas com as pontas dos dedos, repassando mentalmente o que deveria levar para a reunião que teria com alguns comerciantes naquele dia após o almoço, e, ao olhar novamente para o livro à sua frente, lembrou-se da conversa que tivera com os gêmeos meses atrás, quando lhe questionaram sobre os valores aparentemente incorretos das safras de trigo que correspondiam ao Conde de Conserans.

Esquecera do assunto com o passar do tempo e os filhos não deram mais indícios de retomá-lo desde que retornaram ao palácio. O que era bom, pois, poupava-o de inventar uma escusa para encobrir a verdade e deixá-la longe do conhecimento de todos. E, levando em conta a situação atual, não corria mais riscos de que algo viesse à tona.

Como pudera ser tão descuidado e esquecer daquele detalhe?

Bem, honestamente, talvez não tenha sido propriamente um descuido e sim o fato de que insistia em subestimar a sagacidade de seus filhos caçulas. Se eles eram capazes de arcar com a responsabilidade de toda uma colheita, obviamente que perceberiam as alterações.

Quisera agradá-los ao conceder tal tarefa e quase arruinou a si mesmo.

O que não voltaria a ocorrer.

Tinha de manter a fachada que criara para preservar àquele segredo, não somente pelo bem de sua família, como para o bem de seu título e o da família Dufour. Havia muito em jogo. Por essa razão, não permitiria que mais ninguém além dele soubesse daquilo.

Dando um gole em seu inseparável copo de brandy, Hugh retirou o colar relicário que sempre levava consigo do bolso do coletem e abriu para observar a pintura de Abigail. Seu coração pesou no peito, como em todas as vezes em que repetia aquele gesto.

Não importavam os anos, continuaria doloroso.

O recente acidente de Christian impiedosamente levou sua mente a rememorar o dia em que recebera a notícia de que a carruagem tombara, quando seus filhos chegaram seriamente machucados, e a mulher que tanto amava perdera tragicamente a vida.

Será que, no final, havia mesmo sido amaldiçoado? Talvez os céus estivessem mesmo fazendo-o pagar por seu desejo e egoísmo. Quem sabe, até mesmo por sua ganância. Ou, ainda que a cobrança não fosse divina, uma hora acabaria tendo que pagar aos homens.

De qualquer forma, fosse como fosse, ele só esperava que nenhuma das punições batesse tão cedo à sua porta e menos ainda que outro infortúnio recaísse sobre a sua família.


[...]


Os dias que seguiram após o acidente de Christian foram agitados.

Embora Daryl não estivesse mais hospedado no palácio, visto que outros pacientes da região precisavam de sua assistência, visitava os gêmeos frequentemente. A febre de Christinie tinha cedido, mas a perda de peso deixou-a debilitada, já que não ingeriu nada além de água. Ela despertou no final da terceira noite e as criadas, juntamente com Adelyn, se encarregaram de que comesse o essencial a fim de que recuperasse as forças.

Quanto a Christian, ele também havia despertado, foi um pouco antes da irmã. O ferimento não estava inchado e nem apresentava sinais de infecção, o que era excelente na recuperação. O buraco que o jovem médico fizera com o trépano estava cicatrizando bem e até mesmo novos fios de cabelo despontavam para crescer na parte coberta pelo curativo. Tudo corria melhor do que o esperado, ao menos, em questões físicas.

O Mais Belo VermelhoWhere stories live. Discover now