Capítulo 28 - Talvez eu seja. Talvez sejamos

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— O senhor Dufour disse que logo virá para atendê-lo. — comunicou a empregada.

Frederick anuiu. O estojo do violino em uma de suas mãos. Eloïs e ele haviam combinado de ensaiar naquela tarde, pois, o evento do Marquês de Winterbourne seria em quatro dias.

— Tudo bem se eu esperar na sala de música? — indagou o rapaz.

— Fique à vontade, Sir.

— Obrigado.

Logo que a criada saiu, Frederick seguiu para cômodo com o qual estava familiarizado devido aos constantes ensaios, mas, enquanto se aproximava, algo de incomum soou aos seus ouvidos daquela vez. Ele parou diante da porta e tomou um instante para apreciar a maravilhosa melodia que provinha do outro lado. Mesmo sabendo que Eloïs estava no andar superior, conhecia a sonoridade do amigo, e ficou surpreso em descobrir que existia alguém melhor do que ele.

Instigado pela curiosidade, Frederick empurrou cuidadosamente a maçaneta e abriu a porta, avistando não muito longe uma cabeleira ruiva que se movia ao compasso das notas. O rosto da pessoa em questão encontrava-se oculto por causa da tampa inclinada do piano e também pelo fato de que ela, aparentemente, estava com a cabeça curvada em direção as teclas.

Sua presença não foi notada e ele se aproveitou disso para continuar admirando aquela interpretação magnífica da Sonata No. 13 in A Major do compositor austríaco Franz Schubert. Não se aproximou. Ficou junto a porta com receio de que, caso descoberto, não pudesse mais ouvir quem quer fosse tocar. Então permaneceu quieto, quase imóvel, mesmo que os dedos coçassem para apanhar o violino e acompanhar a música.

Christian, alheio ao seu redor por estar com os olhos fechados e absorto demais nas notas que soavam através de seus dedos, continuou dedilhando o teclado como se precisasse disso para viver. Faziam dias desde a última vez em que estivera perto de um piano, pois, as colheitas e o trabalho fora do campo tomaram muito de seu tempo. Ademais, sempre que vislumbrava a porta da sala de música, especialmente a escondida, sua mente era inundada com recordações do beijo que deu em Eloïs e que levou a ambos para muito além do que imaginavam.

Logo, tocar traria de volta a enorme saudade que guardava em seu coração, como também reviveria as dolorosas palavras que o Dufour lhe dissera antes de partir: "Você é como o caminho da perdição em minha vida, Christian. Assim como eu sou o mesmo na sua. E nós sabemos que não podemos tomar esse caminho". E dera o golpe final com: "Esse é um adeus definitivo".

Assim como a irmã, Christian preferiu ocupar os pensamentos com trabalho, pois, dessa forma seria mais fácil de suportar. Porém, estando ali, outra vez tão perto do homem que indevidamente amava, o ruivinho sentiu a necessidade de extravasar o que desejava dizer a Eloïs em forma de música. Trazendo à tona aquela paixão que acalentava seu coração.

Christian perdera a noção de quanto tempo estava tocando e, assim que finalizou aquela sonata, abriu os olhos e tomou um susto enorme ao deparar com o rapaz desconhecido à sua frente. O susto foi tamanho que, por um triz, não fez com que caísse do banco; entreolharam-se.

Frederick, ainda comovido, não soube como reagir perante uma beleza tão peculiar e cativante. Olhos claros, pele bronzeada e um rosto de traços ligeiramente delicados. Mas o que se destacava e chamava muita atenção eram os cabelos avermelhados, amarrados e caídos por cima do ombro. Era a primeira vez que vislumbrava fios tão ruivos como aqueles.

Apesar de tudo, o que de fato lhe atordoou foi não conseguir definir se era outro rapaz ou uma moça ali, dado que havia uma dualidade intrigante naquela bela figura.

— Posso ajudá-lo em alguma coisa, Sir? — perguntou Christian, ainda sentado e meio incerto.

— Oh, não. Eu... Só estava apreciando a música.

O Mais Belo VermelhoWhere stories live. Discover now