Capítulo 48 - Ecos no silêncio

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Daryl terminou de realizar o exame em Christian e, como suspeitara, não houve uma resposta satisfatória. Trocaram olhares e o médico suspirou ao balançar a cabeça em negação.

O ruivinho desviou o rosto e encarou as próprias mãos. Também suspirou.

Enfim, lamentavelmente, sua sina o alcançara.

Sabia que era questão de tempo até que acontecesse e passou boa parte da vida se preparando para tal, mas, ao invés de aceitar, um estranho sentimento de frustração culminara em seu peito.

"Você tem um dom extraordinário, Chris, e não deve escondê-lo. Buscaremos um tratamento que possa ajudá-lo. Curar talvez seja pedir demais, porém, ao menos estabilizar o quadro", lembrou-se do que Eloïs dissera na noite em que fizeram amor pela primeira vez e, em verdade, agarrou-se àquelas palavras esperançosas mais do que gostaria de admitir a si mesmo.

Tinha consciência de que se deixou levar e que, tal como acontecera, acabou desapontado. Mas a fé nos olhos do amado lhe deu uma razão para acreditar que, sim, talvez fosse possível. Talvez encontrassem um tratamento que ajudasse. Só que a vida tinha outros planos.

Christian observou o doutor guardar os pertences dentro da maleta e então apanhar um lápis e um bloco de papel. Não precisou refletir muito para entender o que Daryl pretendia, este que começou a escrever rapidamente. Poucos segundos depois, estendeu para que lesse.


"Como suspeitei, a pancada afetou sua audição mais do que o esperado".


O ruivinho pediu o lápis e não demorou para rabiscar uma resposta. Podia falar e mesmo estabelecer uma conversa normal com o médico, mas estava cansado demais para isso.


"Então, não há mais jeito?"


"Honestamente, eu não sei. Não sou especialista em sua condição. Por isso, escrevi uma carta ao doutor Saymon, pedindo para que venha até Northumberland para examiná-lo e dar uma opinião mais experiente".


"Entendo. Acredito que seja a única opção nesse momento, certo?!"


Daryl assentiu e tornou a escrever.


"Tenho que dizer, será assustador e incômodo de início, mas as orientações que darei farão com que fique mais confortável para você".


Christian não pediu o bloco de volta, apenas fico em silêncio no decorrer dos minutos seguintes, prestando atenção nas anotações que o médico fazia. E quanto mais a lista de restrições aumentava, maior se tornava seu desgosto. O que só provou como, mesmo ciente do que lhe aguardava no futuro, não estava pronto para lidar com uma realidade que o privava de ouvir.

Que o privava de ouvir o canto dos pássaros, a voz de Eloïs, as risadas contagiantes de sua irmã, o farfalhar das folhas com o vento forte, a água da lagoa se movimentando, até mesmo as conversas das outras irmãs. Mas, principalmente, de praticar o que mais amava: tocar piano.

Isso era o que mais lhe doía.

O piano era sua paixão desde criança. Se prestara ao impensável somente para conseguir tocar e, de repente, tudo fora arrancado de suas mãos. Não restou nada além de um profundo silêncio.

O Mais Belo VermelhoWhere stories live. Discover now