Olivia

26 4 4
                                    

    Estou debruçada sobre o balcão da strip club observando Paul ajeitar a imensa parede de bebidas atrás dele. O avental vermelho em volta de sua cintura realça a cor dos seus olhos e o cabelo bagunçado. Ele limpa uma garrafa por vez com um pano de prato. Convenci Blair de me deixar sozinha enquanto ela encontrava Any em alguma parte da cidade, eu não havia contado sobre onde viria pois em questão de algumas horas, Henry estaria criticando e querendo dar pitaco.

    Observo o lugar com calma. As poucas vezes em que estive aqui, estava desorientada e fora de mim, mas é um bom clube para quem quer se divertir. As paredes espelhadas trazem um tom amarelo misturado com as cortinas vermelhas. Alguns palcos menos rodeiam o do centro e torna tudo muito mais sensual.
   Caminho e me jogo na poltrona preta enquanto descanso meus pés sobre a pequena mesa de vidro. Gosto de estar aqui, por algum motivo gosto da companhia de Paul e sinto que sua energia é o mais próximo de tudo que conheci até agora. Estava certo, eu estava me redescobrindo e tentando me encontrar em um mundo repleto de oportunidades, mas a verdade é que não me sinto alguém....agitada, como Henry.

    Henry Noah Stevens era tudo que eu sentia de oposto em mim. Mas tudo nele me atraia como um imã, estava nítido o quanto poderíamos nos ferir, mas cada vez que eu sentia seu cheiro, seu gosto ou seu toque, eu só conseguia deseja-lo. Mais e mais. Eu sabia como terminaria, mas estava disposta a me aventurar.

    Paul da a volta na mesa e senta na outra poltrona enquanto limpa uma garrafa de algo verde.        — Alguém tem coragem de beber isso? — Pergunto me ajeitando.

    Ele olha para a garrafa nas mãos e diz ser a que mais sai. Eu observo cada palavra da pequena aula que recebo de bebidas, taças e tudo mais que uma pessoa deva saber para arrancar dinheiro de pessoas dispostas a lhe dar dinheiro. Mordo meu lábio e olho suas mãos sacudirem o líquido. — Ok, já pensou sobre minha proposta?

— É, eu pensei. Você pode trabalhar aqui. — Paul suspira. Não consigo me conter, envolvo seu pescoço com meus braços e aperto forte enquanto agradeço incansavelmente a oportunidade. — Está certo. Mas não quero problemas com o Henry.

    Me afasto e sento novamente na poltrona. Sigo o mesmo que faz sinal para que o acompanhe até o lado de dentro, onde ele tira uma bolsa com alguns panos de um armário cinza. Ele me analisa um pouco e assente.

— Você precisa estar aqui todas as noites de 18h à 00h. Preciso que ajude a arrumar, limpar, servir os clientes e que use isso. — Ele me entrega um avental como o dele e uma roupa que não entraria nem mesmo no meu braço. É bege e estou feliz demais para me importar se aquilo entrará na minha bunda. — Você começa segunda que vem. Ficaremos fechados no fim de semana para o dia de ação de graças. — Ele explica.

    Dia de ação de graças, meu Deus. Está acabando o ano e provavelmente eu sentarei em uma mesa com pessoas que se odeiam e eles agradeceram pela comida que tem. O problema é que preciso ajudar com algo. Sinto o celular vibrar na jaqueta que estou usando. Blair fez questão de me dar um celular quando acordei, disse que precisava me comunicar com as pessoas caso algo pior acontecesse. Como se minha vida pudesse piorar.
    Pego meu telefone e atendo, é Blair. Eu me levanto, mas me sento de novo quando sinto meu coração acelerar e um nó subir pela garganta quando escuto atentamente que Henry está no hospital.

 ♬ ♪ 𝄞 ♪ ♬

    Não demoro muito para chegar ao lugar. Preciso dar algumas informações na recepção e quase sou barrada por não ter documentos, Blair é quem me salva. Atrás da cortina, Henry está deitado na maca, com a mão na testa analisando o teto.
    Passei muito tempo nesse lugar. Semanas incansáveis olhando ao redor sem saber quem eram aquelas pessoas, ou o que eu estava fazendo ali. Me sentindo uma ninguém em um mundo repleto de informações. Meu coração bateu mais forte no momento em que os olhos verdes pousaram e mim e um sorriso apareceu em seus lábios.

— O que está fazendo aqui? — Henry perguntou se ajeitando.

    Me sentei ao lado da cama em um pequeno banquinho de madeira. Uma de suas mãos está caída na maca dura e reparo uma cruz tatuada próxima aos dedos. Não resisto e seguro de leve. Ele sorri.

— Blair me avisou e vim o mais rápido possível.

— Então agora você tem um celular? Finalmente uma mulher do século XXI. — Ele me provoca e eu coro na hora. Sinto minhas bochechas esquentarem e sei que mudou de cor.

— É, agora eu posso ser considerada uma cidadã normal.

    Gosto da sensação na minha mão enquanto Henry massageia alguns pontos dela. É como um carinho, mas sem segundas intenções. Ele fica em silêncio quando pergunto o que aconteceu. Seus olhos passeiam pelo teto e voltam para mim parando nos meus lábios. — Um idiota me acertou no cruzamento. Mas daqui a pouco estou livre dessa merda.

— O importante é que você está bem.

— O importante é que você está aqui.

    Caramba, ele é bom em fazer meu coração bater de forma errada.

— Henry... — Começo, preciso contar a ele sobre meu trabalho. Talvez não seja o momento certo mas preciso que saiba que finalmente vou poder arrumar um dinheiro e não ficarei dependendo de seus favores. — Eu... — Sou interrompida por uma médica que entra no pequeno espaço.

    Eu a conheço. A mulher ruiva cuidou de mim enquanto estive internada. Seus olhos vão direto para minha mão e de Henry entrelaçada e quase percebo uma mudança de brilho. Ela lambe os lábios rosados e tenta forçar um sorrio. Entrelaço meus dedos sobre meu colo e tento sorrir para ela também.

— Não sabia que Henry Stevens tinha acompanhante. — Ela olha para ele que se ajeita e ri.

— Minha madrasta avisou ela que eu estava aqui. — Ele explica.
     Sinto que o clima do lugar mudou quando ela olha para mim e em seguida para ele. Tento parecer confiante diante daquela mulher imponente e cheia de si. Ela é tão bonita. Seu cabelo ruivo toca seu ombro e seus olhos são da cor do céu. O jeito que ela se veste por baixo do jaleco é impecável.

— Eu não sabia que você... — Ela começa mas Henry a interrompe.

— Posso ir embora, Ash? — Ela faz que sim com a cabeça e não gosto da forma que me olha.

— Que tal se a gente fosse jantar mais tarde? — Ela propõem. 

— Não estou me sentindo muito bem. E não acho que ir ao clube seria bom agora. 

— Não quero voltar aquele lugar. Apenas vadias o frequentam. — Seus olhos pousam em mim e ela sorri. 

    Ajudo Henry a levantar da maca enquanto sinto os olhares fuzilantes dela pelas minhas costas. Sei que tem algo errado mas não sei o que. Bom, na verdade sei, provavelmente eles dormem juntos e ela não gosta de ver seu... não sei o que ela o considera, ao lado de uma outra mulher. Tento ser firme. Olho para ela que revira os olhos e em seguida força um sorriso antes de dizer: — Por que você não espera lá fora, querida? — Ela atravessa o espaço entre Henry e eu e toca seu braço com leveza. Não gosto de como fala comigo e sinto vontade de manda-la se foder.
    Henry faz sinal para que eu vá. Olho para a mulher para ao seu lado enquanto toca o bíceps dele com muita intimidade.

— Eu vou te esperar lá fora. E querida, acho melhor não tocar seus pacientes com tanta intimidade, pode pegar mal. — Dou de ombros e parto para o corredor satisfeita com a cara de nojo que ela faz.

— Não era para levar essa coisa para sua casa. — Escuto a gritar quando saio do lugar.
     Mas o que faz meu peito arder é quando a voz rouca que tanto gosto de ouvir diz: — Estou tentando salvar sua pele escondendo a merda que você fez. 

 ♬ ♪ 𝄞 ♪ ♬ ♬ ♪ 𝄞 ♪ ♬ ♬ ♪ 𝄞 ♪ 

Nota: Oiii, pessoas! Como estão? O que estão achando da história até aqui? Que tal deixar um like e me contar nos comentários o que imaginam para o futuro de Henry e Olivia? Será que Ashley irá ser uma pedra no caminho? Quem sabe!! 

Insta: @_nicollegf  

TruthWhere stories live. Discover now