Henry

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    A música no último volume diminui, as pessoas passam a olhar, o show no palco para, estou suando enquanto seguro o pescoço da mulher deitada na mesa; tão frágil que parece prestes a quebrar.
    Minha cabeça me leva direto para quando ela tentou pela primeira vez. Minha mãe gritava e ele não fazia nada para ajudar. Ela gritava e gritava, e aquele som ficou eternizado em minha memória. A mulher que me pois no mundo, sentada no chão enquanto pedia socorro de vozes que não saiam da sua cabeça. Até o dia em que estava no meu quarto, a música gritava no meu ouvido e mesmo assim pude ouvir o momento em que ela desceu as escadas rolando. E ele? Mandou que ligasse ao hospital.

— Ela está acordando — Alguém grita do meio das vozes. A mulher em meus braços abre os olhos aos poucos enquanto luta contra a claridade. Seus olhos castanhos tem um brilho diferente de tudo que um dia já tinha visto. Ajudo ela a se sentar.

— Como se sente? — Pergunto pegando água das mãos de Paul.

— Estranha. Fraca. — Ela me olha. Tento segurar o cabelo dela para cima enquanto Analice abana seu rosto.

— Qual seu nome? Eu já chamei uma amiga, ela é médica e vai chegar em um minuto. — Aviso.

Seu rosto não me é estranho. Parece que já vi ela de algum lugar. Talvez já tenhamos transado, não da para saber. Mas me lembraria se tivesse beijado essa boca rosada mesmo estando pálida.

— Meu nome.... — Ela fecha os olhos e posso vê-los se movimentar mesmo fechados. Seus lábios estão contraídos em uma linha reta quando ela me olha por fim. — Não sei. — E tudo fica claro. É ela, a garota do acidente.

— Ok. — Me levanto e peço para que a loira olhe ela enquanto faço uma ligação.
    As pessoas se juntaram ao redor como se estivessem vendo um show, porra, isso era uma casa de stripper, por que não iam assistir ao invés de ficar em cima? Ah, verdade, porque assim como eu, ela chegou na cidade sendo uma novidade.
    Quando tive a oportunidade de sair de casa, não pensei nem uma vez. As malas estavam prontas muito antes de se quer pensar na ideia. Abri meu computador e pesquisei cidades nos Estados Unidos, era longe de Londres e longe de uma família que suga sua alma e joga para os porcos.
    Myrtle Beach tinha um trecho de 100 quilômetros de praias da costa leste dos Estados Unidos, e foda-se a rainha, estava cansado de tomar chá com a realeza que nem sabia da sua existência. Eu queria mar, sol e areia. Não demorou muito para passar em um concurso da polícia, cheguei bem. Nos primeiros dias e eu já era o assunto do momento, correndo pela recepção de um motel pedindo ajuda pois tinham levado minhas roupas. É o preço que se paga quando se torna um adolescente idiota e um adulto burro.

    Vou para o lado de fora e pego meu celular. Porra, Ashley nunca chega. Disco seu número e nada. — Cadê ela? — Olho para trás e vejo a minha salvação.

— Porra, até que enfim.

— Não sei se você sabe mas existem outros médicos e o hospital é logo ali. — Ela revira os olhos.  

— Claro, vou chegar lá com a paciente que você deu alta, constando estar tudo bem, sem nem ao menos avisar a polícia de que ela estava recebendo alta sem saber quem é.

— Vai se foder, Henry.

— Ei, espera. — Pego no seu braço e faço ela parar. — Você está chorando?

— Não é da sua conta. Onde ela está? — Ash tira o braço da minha mãe e anda depressa bar a dentro.


♬♪♫♬♪♫


    A multidão já se afastou, as pessoas já voltaram a encher suas caras e fingir que nada aconteceu. A moça está com Paul que tenta ajuda-la a entender onde estamos e quem somos. Eu me afasto um pouco com Ash que guarda suas coisas em uma maleta preta. — Ela vai ficar bem. — Ela diz e me olha. — Só está confusa e os remédios que tomou durante essas semanas foram fortes demais, ela deveria ter feito repouso e não andado por ai atrás de ajuda. A memória volta com o tempo.

— Por que será que ela fez isso? — Coloco as mãos na cintura e encaro a mulher baixinha e ruiva na minha frente. Ela revira os olhos.

— Bom, estou indo. Meus pacientes me esperam e não estou atoa como você. — Ela sorri. Sei que está dando o troco e a xingo baixinho.

— E o que você espera que a gente faça com essa mulher? — Pergunto andando atrás dela que começa a sair do bar.

— Eu não sei, Henry. Sei lá, entrega para a polícia. — Ela revira os olhos. — Sou médica, não baba.

    Volto para perto de onde eles estão e sorrio para a mulher. Paul me explica que ela não se lembra de nada e nem sabe como veio parar aqui mas que concordaram em chama-la de Olivia. Segunda a loirão, ela conseguiria um trabalho fácil no bar com esse nome, já para o Paul, ela tem cara de Oliva. A garota apenas ri e sei que está nervosa pois não para de esfregar as próprias mãos. Meu celular toca e tiro do bolso da calça para conferir. Meu pai. É obvio. Recuso a ligação e volto para eles. — Preciso ir. Qualquer coisa deixa ela no hospital. Falou! — Pego minha jaqueta e começo a sair, qualquer intenção de beber algo forte foi pelo ralo. A única opção é ir para casa e olhar para o teto.

    Ligar para alguém seria uma opção, mas não estou afim e no clima de explicar que aquilo ali não significou nada.

— Henry, espera — Paul corre atrás de mim. — Não pode deixar ela aqui. Tem pessoas pagando para ver outras peladas. Não temos nada além de fritura para dar para ela, a não ser que uma bela tequila desça bem.

— Paul, você é meu amigo desde que apareci aqui pela primeira vez. SE. VIRA. Não me peça para levar uma mulher para casa.

— Noah...

— Não me faça virar a mão na sua cara.

— Então leve ela. — Olho para o balcão e vejo Norbet limpando a bigode enquanto atende as mulheres no balcão.

Ok, eu vou me arrepender disso. 

TruthWhere stories live. Discover now