Henry

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   Meu pé afundou no acelerador quando sai pela rodovia. A música está alta demais e é uma forma que encontro para anestesiar meu corpo do que está prestes a acontecer. Minha mãe ficaria furiosa, ela sempre o desculpou. As poucas vezes em que esteve lúcida, ela me pedia para não culpa-lo.
    Eu sabia que ele não tinha culpa. Mas eu o culpava mesmo assim. Ele a salvou quando estava em um dos piores momentos de sua vida, quando o mundo parecia desabar, mas não esteve lá quando ele por fim desabou. Caralho. Eu só tinha seis anos quando tudo aconteceu. Ele não poderia esperar que uma criança resolvesse tudo.
    Piso mais forte no acelerador e deixo o carro andar. Não tem muitos carros na frente, o que facilita meu desejo por velocidade. A imagem dela sentada na cadeira se inclinando para me tocar é quase insuportável. Meu coração parece estar despedaçando e foi por isso que eu saí de casa, foi para não sentir essa dor.
    Olho para o lado e vejo que Olivia está assustada. Sua mão segura a porta com força ao ponto dos nós dos dedos ficarem brancos. Eu desacelero. Ela é como a mulher que me pois no mundo, como alguém poderia não se importar com os seus demônios? Seu cabelo castanho e seus olhos escuros que me deixam sem jeito, me fazendo quer levava-la de volta para casa, para sua vida, para que não perca nem mais um minuto naquela vidinha medíocre onde a chamavam por um nome que não era dela.
    Ela me olha, sua boca rosada me atrai a atenção e tento volta-la apenas para a estrada. Até porque não sei bem por qual motivo ela está ao meu lado.

    Quando reparo, os olhos dela estão em mim, o que só piora a situação, porque, por alguns segundos, no período entre as batidas do meu coração acelerado, eu só quero ajuda-la e cuidar dela para sua verdadeira versão.

— Para onde estamos indo? — Ela pergunta inocentemente, sei que seu olhar percorre meu corpo e isso faz com que arrepios subam pela minha nuca.

— Você vai saber em alguns instantes. — Não quero conversar. Pelo menos não agora.

    Paro o carro e desço. Olivia me acompanha e nós caminhamos por uma pequena estrada de cascalhos antes de um pequeno arco de arvores se abrir para um enorme campo de girassóis. Paro e olho para ela que está boquiaberta, o lugar é incrível e tive a mesma reação quando pisei aqui pela primeira vez.

    Um bando de idiotas fugiram pela plantação com uma refém e foi difícil me concentrar, estando naquele lugar, quando me sentia em casa estando ali. Um nó vem na minha garganta e eu tento não demonstrar.

— É... — Ela sorrir e me olhar. — Perfeito.

— É, eu também acho.

    Volto a caminhar e me sento em uma pequena área gramada com vista para aquele mar de girassóis. Junto as pernas contra o peito e tento não trazer a imagem da minha mãe no canto da sala pedindo socorro.

    Olivia se ajeita ao meu lado e sorrio ao finalmente me dar conta de que ela está usando uma camisa surrada que a emprestei na noite passada. Ficamos em silêncio por pelo menos uma eternidade até que sinto vontade de falar.

— Eu tinha nove anos quando soube de tudo. — Ela me olha em silêncio para que eu continue. — minha mãe, antes de se casar com meu pai, vivia em uma casa onde foi estuprada e quase morta pelos irmãos.

    Não sei porque começo daí, eu só precisava explicar por qual motivo eu provavelmente não olharei na cara do meu velho. Ela merece saber ao invés de implorar para que sejamos uma família feliz. Continuo: — Ela conheceu meu pai fugindo de lá após ter tido um filho de um cara nojento. Mase cuidou dela por anos até eles me terem. Ela levou muito tempo para confiar em alguém outra vez. — Olho para ela que não diz absolutamente nada.

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