Beatriz

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Estou parada a cerca de dez minutos olhando para a porta de um bar. O vento gelado toca meu pescoço e eu me contraio, meus braços estão arrepiados e tento calçar meus sapatos, mas são apertados demais e machucam meus pés. Olho ao redor mais uma vez, as pessoas passam de um lado para o outro, todas tendo a certeza de para onde estão indo ou o que pretendem fazer. Sabem quem são. Engulo em seco e tento criar coragem para entrar no local. É perto do hospital e muitos médicos entram após um plantão cansativo.

— Licença— uma mulher loira me esbarra de leve e ri.

O lugar tem uma luz baixa e não sei como as pessoas conseguem se enxergar direito. O cheiro de machona passa pelo meu nariz e me embrulha o estômago. Estou fraca demais e mal consigo passar muito tempo de pé, minha cabeça ainda gira e sinto que vou vomitar a qualquer momento, preciso de comida. Minhas mãos começam a suar e tento me arrastar para próximo do balcão onde um moço gordinho de bigode grande atende três mulheres jogando seus charmes para um motoqueiro gatão.
Quanto mais as luzes batem nos meus olhos, mais meu estômago revira. Eu vou desmaiar. Meu corpo inteiro está suando e não sei como cheguei até aqui. Algumas plantas decoram o lugar tentando não deixar na cara que todos aqui provavelmente estão pela enorme parede de bebidas atrás do balcão.
— Licença — Eu chamo tentando fazer com que o rapaz me note. — Uma água — Peço, mas ele nem se quer nota minha presença. Quero chorar, sinto as lágrimas brotarem nos meus olhos e isso me deixa confusa, estou triste, com medo e fraca. Não sei meu nome, onde estou ou quem são essas pessoas, é tudo um escuro enorme na minha cabeça e não consigo me lembrar.

A loira da portaria passa por mim jogando o cabelo enquanto ajeita os peitos em um vestido vermelho tão curto que quase posso enxergar sua bunda. O que é bem diferente do que estou vestindo, diferente de todas as mulheres nesse lugar. Meu vestido azul toca meu joelho e é justo o suficiente para me prender as pernas. É tão formal que se um executivo me contratasse agora, eu estaria pronta. O tecido parecia vicunha tocava de um ombro ao outro deixando eles a mostra. Estaria perfeito para uma festa ou algo importante, mas eu estava em uma bar escuro implorando por água. — Moço, por favor.

— Eu sabia que você viria — A loira praticamente berra atrás de mim e me viro para encara-la. Meus ombros ficam tensos. Minha boca seca e tento me manter de pé. Quando ela se afasta, o homem põem os olhos em mim. Seu cabelo castanho enrolado, cortado e penteado para trás dão todo um realce para seu maxilar marcado, ele é bem mais alto do que eu e seus olhos parecem duas esmeraldas verdes. A camisa social preta cai como uma luva em seu peito grande, e os pássaros seriam ridículos, mas nele parece muito bem.

— Você está bem? — Ele se aproxima e uma covinha aparece de leve no canto do seu rosto.
Merda. Minhas pernas falham e em um segundo, seus braços estão ao meu redor e tudo vira uma tela em preto. 

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