Playing With Fire

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Camila's POV

Nós ainda nos víamos nos corredores.

Quero dizer, a sede subterrânea da Organização não é o que se pode chamar de gigante. São quatro andares relativamente grandes, mas ainda assim é um espaço confinado. Pessoas estão sujeitas a cruzarem umas com as outras eventualmente.

O engraçado é que, quanto mais eu tentava evitar encontros casuais com Lauren, mais eles aconteciam.

Ela sempre estava por perto. Seja qual fosse o portão de fuga que eu escolhesse, ela sempre estava lá. Era como um imã – não importava o quanto eu queria estar afastada, algo nos atraía para perto uma da outra.

Nós não havíamos trocado sequer uma palavra na semana inteira que se passou desde o incidente ao qual eu me referia mentalmente como "A Noite Da Tempestade". Ela andava saindo para caçar a noite com um grupo de três outros caçadores. Como eu era a única híbrida do lugar – e do mundo, também –, os outros caçadores, todos humanos, saíam em grupos numerosos por medida de segurança. Antes de Lauren, eu sempre trabalhara sozinha – com a exceção das vezes nas quais Ariana me ajudara. Voltar ao meu estado de caçadora solitária havia sido esquisito. Eu nunca gostei da companhia de Lauren, e gostava ainda menos da vampira em si, mas tinha que admitir que sentia falta de ter alguém lutando ao meu lado. Tudo passara a ser solitário demais sem ela por perto.

Mas a falta de palavras entre nós não significava que nós não conversássemos mais. Não só de vozes vivem as conversas. Calma, eu explico. É que nós ainda nos esbarrávamos, tanto aqui quanto pela cidade à noite. Sempre acompanhadas de mais pessoas, nunca sozinhas... Porém toda vez parecia que nós éramos as únicas pessoas no mundo.

Pelo menos era isso que os olhos dela me diziam.

Aqueles olhos verdes expressavam tudo que sua boca não tinha coragem de proferir. Eu os sentia em mim a todo o tempo – me observando quando estávamos no mesmo aposento, me acompanhando enquanto eu atravessava os corredores. Eu sempre sentia quando Lauren estava por perto, é óbvio. E sempre acompanhado do pequeno sinal que meu "radar" interior disparava, vinha aquela sensação... Eu sentia seu olhar em mim, queimando minha pele, fazendo minha respiração acelerar.

Eu me esforçava para não responder, juro. Tentava com todas as minhas forças ignorá-la, mas quase nunca conseguia, e dessa forma travávamos aquela silenciosa batalha de olhares que se tornara tão comum entre nós.
Tudo começara no dia seguinte à tempestade, algumas horas depois de eu deixar a cripta de Lauren. Eu estava saindo do escritório de Reid e ela estava entrando, de forma que, por um momento, ficamos sozinhas na ante-sala. Eu não sabia definir a expressão no rosto dela, mas seus globos verdes frios me encararam de forma quase atrevida, me desafiando a desviar os olhos. Eu sustentei seu olhar pelos poucos segundos que pareceram uma eternidade, sentindo aquela corrente elétrica tensa passar por nós. Tantas coisas foram ditas naquele olhar que é difícil separá-las e descrevê-las. Ela demonstrou uma certa dor, seu ódio e seu frio entendimento, enquanto eu o respondi com minha certeza, meu desconforto e minha frieza. Sem dizer nada, ela passou por mim e adentrou o escritório, e eu finalmente fui capaz de soltar o ar que eu inconscientemente havia prendido.

Fora o primeiro de muitos momentos intensos e incômodos que ocorreram pelo resto daquela semana. Era tudo muito estranho. Eu estava acostumada a olhar Lauren com irritação, mas agora... Agora, além da raiva, os sentimentos que me dominavam toda vez que eu estava perto de Lauren eram desconforto – afinal, eu havia a rejeitado de forma dura após ela ter proclamado seus sentimentos. Altos pontos em desconforto aqui – e, bom... Desejo.

Ficar perto dela podia ser uma situação embaraçosa depois de tudo que havia sido dito, mas ainda assim... Eu a queria. A todo momento, mesmo quando eu não estava ciente disso. Quando a dor e a confusão que eu sentira naquela noite finalmente pararam de me incomodar, eu resolvi analisar o beijo – ok, amasso – que acontecera de forma racional. A primeira conclusão a qual eu cheguei foi o fato de que, sem dúvida, havia sido o melhor beijo da minha vida. A segunda conclusão foi ainda mais simples.

VampireWhere stories live. Discover now