Capítulo 27

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Bom, para aqueles que estão pensando que algo deu errado com o Sonho Sombrio e eu estava apenas dormindo preciso dizer que tudo deu certo com aquela maldita planta e eu realmente morri naquele momento. Mas ainda havia a famosa esperança do "beijo de amor verdadeiro". Eu só tinha um problema: minha mãe, que era quem poderia me salvar desta maneira, não fazia a menor ideia de quem eu era e quando ela finalmente descobrisse com certeza já seria tarde demais.

Não era tão simples assim dizer "Regina, esta menina é sua filha. Olha bem, você não acha que ela se parece com você?". É claro que a coisa não seria tão fácil, pois minha mãe obviamente responderia que quem quer que fosse que estivesse lhe dizendo isso estava completamente bêbado, pois ela nunca teve nenhuma filha em sua vida, quem dirá então amar uma garota que ela acabou de conhecer e ainda passou os últimos dias achando que ela má. Não sei dizer se infelizmente ou felizmente, mas poções de esquecimento são bastante eficientes. Nesse caso, infelizmente.

Eu acordei, claro que acordei. Mas até chegar nessa parte é bom eu deixar claro que tudo o que eu contar me foi contado umas duzentas vezes por Ruby, Henry, Emma, minha mãe, enfim, por muita gente até que eu conseguisse juntar todas as partes de maneira correta e então explicar tudo direito conforme realmente aconteceu. E o que aconteceu foi...

Henry começou a gritar e a me sacudir, como se algumas dessas duas coisas fosse me trazer de volta, mas ele estava desesperado demais com a minha morte para perceber que isso não ajudaria em nada. Regina tentava digerir as minhas últimas palavras e provavelmente lembrar-se de onde me conhecia. É claro que ela tinha que me conhecer, pois eu acabara de dizer que ela desistiu dela mesma por mim, algum sentido aquilo tinha que fazer. Mas não fazia. Meu irmão então chegou finalmente à conclusão que poderia me salvar.

- Mãe! – ele pegou Regina e sacudiu pelos ombros, tirando-a do transe – Você precisa beijá-la!

- Como é que é? – ela respondeu atordoada.

- Henry... não vai adiantar... a única coisa que pode salvar Blanck agora é o beijo do verdadeiro amor e Regina... ela não faz ideia quem essa garota deitada nos meus braços possa ser. Como ela poderia amá-la? – observou Ruby e me olhou de volta, vendo uma de minhas lágrimas ainda escorrer pela minha bochecha.

Enquanto isso eu estava sendo observada por dois olhinhos lindos e confusos: Roland. O pequeno me olhava e pronunciava meu nome do seu próprio jeito, acreditando que em algum momento eu escutaria e acordaria, como se estivesse apenas dormindo e nada mais. Lentamente ele retirou do bolso da calça cinco bolinhas de gude e estendeu a mão para mim, oferecendo-me. Ninguém entendeu nada e apenas acreditaram ser um simples ato de criança, mas então Regina disse:

- As bolinhas. Você pode me emprestar? Eu prometo que te devolvo logo. – Regina disse carinhosamente a Roland e sorriu quando ele estendeu a mão e lhe entregou as bolinhas de gude – Obrigada. Elas têm alguma coisa... – começou minha mãe, analisando as pequenas esferas.

- Não perca. – pediu Roland. – Eu olho para elas todos os dias antes de dormir. Só assim eu consigo vê-la sempre.

- Vê-la? Quem? – estranhou meu pai.

- A menina. Blanck. – concluiu Regina sorrindo e compreendendo do que se tratavam as bolinhas de gude em sua mão – As bolinhas são encantadas. Elas têm memórias. É por isso que ele pode "vê-la" todas as noites. Porque tem as memórias dela.

Todos acharam extraordinária aquela conclusão e mal acreditavam que poderia ser verdade quando Rumpelstiltskin fez um leve movimento com uma das mãos e abriu o que parecia ser um portal ou uma janela redonda que girava no ar há pouco mais de um metro e meio de altura. Regina escolheu uma das bolinhas e a jogou contra aquilo, pairando e girando no ar. O pequeno portal/janela fez um estralo e logo ficou colorido, como se estivesse misturando diversas cores com um pincel de tinta. Aos poucos foi se formando uma imagem que, quando finalmente tomou forma, parecia uma tela passando um filme. E era um filme. Um pequeno filme com lembranças minhas e de Roland. Nossas lembranças juntos. Por acaso, e muita sorte, Regina escolheu a bolinha certa para saber quem eu era. De dentro do portal/janela apareceram duas figuras: eu e o pequeno Roland.

Blanck - Uma lembrança de amor em meio às trevasWhere stories live. Discover now