Capítulo 26

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- É Sonho Sombrio! É Sonho Sombrio! – Tinker Bell gritava enquanto todos, inclusive ela, iam para cima de Henry, mesmo sem saber o que fazer.

Ninguém sequer tentava tocar na faca temendo que fossem piorar a situação. Eu nem ao menos conseguia sair do lugar e só eu sabia o motivo. Mal conseguia respirar, minhas vias de entrada de oxigênio estavam quase completamente obstruídas, minha boca estava seca e eu começara a tremer e suar frio naqueles últimos cinco segundos. Eu tossi umas sete ou oito vezes seguidas de maneira curta e pesada antes de escutar Henry gritando com todos, tentando se fazer ouvir acima das exclamações e choramingos dos que estavam a sua volta:

- Eu não sinto nada! Não está doendo! Pessoal, se acalmem, é como se eu não tivesse sido atingido!

- É porque você não foi atingido.

Foi a única coisa que consegui pronunciar, quase um sussurro, antes de cair de joelhos ao lado da multidão que acudia Henry. Olhei para Zelena, que sorria para mim, triunfante. É claro que ela tinha um plano B e eu nem ao menos cogitava essa idéia. Ou pelo menos acabara de elaborá-lo. Bom, eu descobriria em breve. Parece que desta vez fora eu a subestimá-la. Ruby me olhou sem entender o que estava acontecendo e fez menção de correr para me socorrer, mas parou no meio do terceiro passo, virando-se para Zelena com uma raiva crescente no olhar. Pude ver Ruby respirando fundo e se preparando para lançar algum feitiço e torci para que não fosse nada que machucasse ou matasse Zelena. Eu acabara de salvar a vida da minha mãe, só faltava agora Ruby fazer o favor de ferrar com a própria vida adicionando uma mancha negra em seu coração por machucar ou matar Zelena. Acho que me levantaria só para socar Ruby se ela fizesse isso. Mas ela não fez. Ela simplesmente me encarou e depois se focou em Zelena. Estendeu uma mão e lançou nela um feitiço que a envolveu em algo que parecia uma grande bolha transparente, porém com uma espessura grossa o bastante que deixava claro que não deixaria que ela fizesse nada que ultrapassasse aquela circunferência ao seu redor.

Zelena nem se abalou. Continuou sorrindo deitada onde estava como se nada tivesse acontecido. Acho até que ela esperava que Ruby a tivesse assassinado naquele momento. Talvez aquele tenha sido um ato de suicídio e minha querida tia tenha ficado um tanto quanto decepcionada por ainda estar viva. Mas sinceramente a esse ponto eu acho que ela deveria me conhecer pelo menos um pouquinho melhor e saber que ninguém que fosse treinado por mim acharia que assassinato era a melhor opção. Mesmo que esse assassinato fosse o dela. Confesso que teria me agradado vê-la estirada no chão, tamanha era a minha raiva, mas em momento algum eu deixaria que Ruby fizesse parte desse trabalho sujo.

Henry praticamente se jogou em cima de mim, tentando compreender o que estava acontecendo enquanto as outras pessoas, também completamente desorientadas, gritavam para que Henry não se mexesse para que a faca não entrasse ainda mais em seu peito e o matasse mais rápido. Mas a faca não faria nada com ele.

- Você pode tirar... você pode retirar a faca... ela não vai te machucar... não se preocupe, você pode arrancá-la do peito... – eu gaguejei e Henry removeu a faca, colocando-a no chão ao lado dele.

Eu mal conseguia pronunciar uma frase inteira. Henry me segurava de um lado enquanto Ruby me segurava do outro, ambos aguardando a minha explicação do motivo pelo qual ele não sentia nada, mas eu sim. Mas era uma coisa óbvia, eles apenas estavam muito atordoados e confusos para pensar naquilo. Eu continuava tremendo e já estava fraca o suficiente quando caí no colo de Ruby, que estava a minha direita, e tentava respirar o melhor que podia.

- Ela mirou muito bem, não foi? – eu sorri, como se estivesse brincando. – Regina, tire o coração dele, por favor.

Henry gritou em protesto, mas eu gritei novamente e minha mãe, sem saber muito que fazer, obedeceu a mim e tirou o meu coração de dentro do meu irmão. Expliquei o obvio: Zelena havia mirado e acertado a faca com o Sonho Sombrio direto no coração que estava dentro de Henry, o meu coração. Ela ficou tão revoltada que eu acabei com seus planos e não esperava que isso pudesse acontecer que ela talvez não tivesse um plano B para matar Regina ou fazer qualquer outra coisa que a machucasse, mas formulou um plano de última hora para matar quem a impedira: eu.

Blanck - Uma lembrança de amor em meio às trevasDove le storie prendono vita. Scoprilo ora