Capítulo 18

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Mal me transportei para minha cama dentro do quarto da cabana e já enchi os lençóis de sangue. Precisava retirar as duas flechas de uma maneira que não fosse com mágica, pois eu podia sentir que meus poderes atuais se resumiam a menos de um por cento e se eu os utilizasse para arrancar as flechas não teria suficiente para me curar.

Soltei um gemido de dor e uma lágrima escorreu pela minha bochecha enquanto, deitada e bastante assustada, eu envolvi os cabos das duas flechas com ambas as minhas mãos, tentando não tremê-las. Ocorreu-me que se eu retirasse uma eu não teria forças para retirar a outra, ou até teria, mas assim que eu passasse pelo sofrimento de uma flecha arrancada com certeza iria preferir ficar com a outra dentro de mim a ter que passar por aquilo novamente. Então respirei fundo três vezes e na quarta arranquei as duas de uma vez, rápida e forçadamente.

Escutei um barulho vindo da cozinha da cabana e deduzi ser Ruby, mas como após alguns segundos além de ela não aparecer também não disse uma palavra, comecei a entrar em pânico só de pensar quem poderia estar na minha casa, levando em consideração que eu ameacei a grande e poderosa Rainha Má e lancei em Henry um feitiço que ninguém sabia qual era. Quem estivesse ali não estaria para me parabenizar ou me medicar.

Quando a cabeça de um dos homens do meu pai emergiu pela porta do quarto eu quase tive um ataque do coração. Pulei na cama encostando minhas costas na parede gelada. O movimento repentino me fez urrar de dor por dentro. O sangue no meu lençol agora pingava um pouco no chão e manchava a parede atrás de mim onde eu me encostara. O homem começou a se aproximar de mim carregando uma lança com uma ponta afiada apontada diretamente para o meu pescoço. Estava claro que ele precisava de poucos segundos para descobrir que eu não tinha poderes para usar contra ele e me enterrar aquela lança na garganta.

Eu já estava fechando os olhos, esperando pelo ataque fatal quando vi o rosto do homem empalidecer e ele apontar a lança para a porta do quarto, entrando ele mesmo de costas, recuando lentamente. Um lobo imenso entrou no quarto com os dentes a mostra e se eu não soubesse que era Ruby com certeza teria desmaiado, assim como aconteceu com o homem. Ruby retornou a forma humana e arrastou-o para fora da cabana, trancando a porta logo depois. Então correu até mim para ver como eu estava:

- Por que não se cura?

- Não posso enfraquecer o que sobrou dos meus poderes. Preciso de ajuda, preciso conseguir entrar na Maldição do Sono adulterada que eu fiz para falar com Henry e tenho que ter todas as minhas forças nesse momento.

- O que você fez pouco antes de sairmos? Pensei que Regina iria pular em cima de você e te agarrar pelos pulsos sem se importar se você poderia matá-la ou não. Por que aquilo aconteceu?

- Meus poderes estavam muito fracos e eu não tinha mais tanto controle sobre eles. Eu não sabia que isso aconteceria, nunca fiquei sem poderes. Eu precisava colocar um feitiço em Henry e praticamente arremessei nele de qualquer jeito. Parecia que ele estava tendo uma convulsão quando recebeu o feitiço. – eu respondi, bastante constrangida.

- Que feitiço?

- Para proteção dos poderes que passei a ele. Se eu não os protegesse, qualquer um poderia pegá-los enquanto ele dorme. Ou mesmo depois que acordar. O caso é que com o feitiço que lancei os protegi para que ele possa ser a única pessoa a manejá-los. Os poderes só vão deixá-lo se ele quiser. Só ele pode tirá-los de si mesmo e dar a alguém. Seja esse alguém eu ou qualquer outra pessoa. Mas pelo menos ninguém pode arrancar estes poderes dele a força.

- Genial. – Ruby arregalou os olhos, visivelmente contente com a informação.

- Obrigada. – sorri de volta e deitei na cama de mal jeito, visivelmente com muita dor nos ferimentos.

Blanck - Uma lembrança de amor em meio às trevasWhere stories live. Discover now