Capítulo 10

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Relaxar não estava nos meus planos, mas se tornou prioridade já que era a primeira coisa que eu tinha que fazer, então tentei. Ok, sucesso nota zero. Eu praticamente fazia tremer até o banco onde eu estava sentada quando me dei uma ordem direta de ficar calma, senão meu disfarce ia por água abaixo em menos de um minuto. Não podia praticamente me mexer, pois se eu olhasse para eles, poderiam perceber meu desespero. Respirei fundo e subi o capuz do moletom que eu estava vestindo. Ruby tentava agir o mais natural possível e, graças a Deus, estava se saindo bem melhor do que eu. Veja que eu não disse que ela estava se saindo bem, apenas que estava bem melhor do que eu. Ela acenou e os cumprimentou enquanto eles se sentavam em uma mesa logo ao lado da porta da lanchonete. Eles estavam ali, bem atrás de mim e eu sem poder dar um passo sem ser percebida. Mas claro que nada é tão ruim que não possa piorar, afinal, se tem uma coisa que eu aprendi com a vida é que quanto pior fica, mais interessante se torna para quem está presenciando. E sempre tem alguém presenciando.

Minha mãe (obviamente), acompanhada por meu pai (que grande surpresa) foram os felizardos que vieram até o balcão fazer um pedido para a mesa deles. Minha respiração não ajudou em nada. Minha posição congelada não ajudou em nada. Minha tentativa de me esconder não ajudou... em... nada. Quase cuspi dentro do copo quando ouvi a voz dela há menos de quarenta centímetros à minha direita. Aquela voz. Aquela voz era como se alguém estivesse cantando e eu estivesse assistindo de camarote. Aquela voz que eu nunca escutei dizer meu nome. E talvez nunca escutasse.

Nem precisei olhar para trás para saber o quão paralisado Henry também estava. Eu tinha certeza que ele estava tendo pelo menos metade do infarto que eu também estava tendo naquele momento. Ruby tendo um ataque do coração na minha frente e Henry bem atrás de mim. Que cena maravilhosa. Assim que minha mãe terminou de fazer o pedido (sunday para todos), meu pai percebeu meu copo de whisky em cima do balcão (foi a última coisa que eu provei antes deles entrarem na lanchonete) e, direcionando-se a mim, disse:

- Eu também gosto de bebidas fortes. Mas esse tal de "whisky" é mais forte do que muita coisa que eu já provei.

Minha respiração parou. E voltou. E parou de novo. E voltou de novo. E parou outra vez. E voltou outra vez. Tudo isso em um único segundo. É sério que ele estava tentando puxar conversa justo comigo? Fechei os olhos e coloquei para fora todo o ar de meus pulmões. Eu me recusava a olhar para ele. Mas não importava. Meu pai estava falando comigo e, é claro, todos pararam para prestar atenção em com quem ele estava falando. Principalmente a minha mãe. Virei-me, encarando-o e rezando para todos os santos e deuses que ninguém percebesse minha semelhança com a minha mãe:

- Nunca havia provado antes de hoje. Mas é bom. – eu disse sem muita emoção.

Não faço ideia qual era minha expressão, não conseguia pensar naquilo naquele momento. Não conseguia pensar em nada a não ser que estava falando, pela primeira vez, com meu pai e minha mãe estava logo ao seu lado, me olhando.

- Você é apenas uma criança. – ele disse, percebendo minha aparência. – Qual é o seu nome?

- Aileen. – foi a primeira coisa que pensei. Obrigada, mãe. De verdade. Nunca fiquei tão grata em você ter me dado um nome composto.

- Aileen. – disse minha mãe, não se referindo diretamente a mim, mas analisando o nome em si. Naquele momento, eu querendo ou não, o coração dela batia a mais de mil por hora dentro de mim. – Nome interessante.

- Minha mãe que escolheu para mim. – eu tentando ficar calma era lamentável.

- Interessante. – ela respondeu, pensativa. Queria eu entender em que ela tanto pensava. – Você sabe o que significa?

- Eu sei. – respondi e molhei os lábios enquanto todos, sim todos (exceto o homem lendo o jornal do outro lado da lanchonete), prestavam máxima atenção na conversa. – Significa "majestade", alguém que veio da realeza.

Blanck - Uma lembrança de amor em meio às trevasWhere stories live. Discover now