Capítulo 14

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Acordei extremamente assustada e suava tanto que ao meu redor os lençóis estavam ensopados. Levei as mãos, que ardiam mais do que consigo me lembrar, à cabeça e percebi o quanto tinha me remexido aquela noite. Eu estava completamente descabelada e meu coração batia como se ao diminuir o ritmo eu fosse morrer. Batia tão forte que me admirava o fato de eu não conseguir ouvi-lo dentro do peito. Minha respiração me declarava culpada de ter tido um pesadelo. Aliás, dois pesadelos. Eu estava extremamente ofegante e pude constatar que minha boca estava seca. Bufei algumas vezes e aos poucos acalmei meus sentidos.

Ruby estava em minha cama poucos segundos depois que acordei atordoada e me perguntava o que havia acontecido, se eu queria falar sobre o pesadelo. Olhei-a ainda um tanto assustada:

- Foram dois pesadelos. Os de sempre. Os pesadelos de todas as noites.

- Todas as noites você tem os mesmos pesadelos? – ela indagou, chocada.

- Tenho. Eu tinha. Enfim, não importa. Não me lembro muito bem quando começaram, mas foram na época em que eu ainda estava com Alma. São sempre os mesmos dois. O mesmo script. Tudo sempre acontece exatamente da mesma forma e eu sempre reajo da mesma maneira também. Nada muda. Nada nunca muda. Não tem nada que eu possa fazer para mudar o que acontece.

- Quer me contar?

- Não. – eu disse, começando a chorar. – Mas eu vou. Afinal, que mal pode haver? Não tem como eu pensar neles mais do que já penso e sonhar com eles mais do que já sonho. Quer dizer, sonhava. – Ruby pareceu confusa. – Depois de alguns anos sonhando exatamente a mesma coisa todas as noites eu consegui desenvolver uma poção extra forte que me permite não ter estes pesadelos. Ou pelo menos tê-los, mas não me lembrar deles. Então eu acordo de manhã achando que simplesmente não sonhei nada durante a noite.

- Por que não funcionou desta vez?

- Porque não bebi a poção.

- Por que não? – Ruby alterou-se.

- A poção... – bufei e me preparei para o começo da explicação. – Como eu disse a poção é extra forte. Enfraquece todos os meus poderes durante horas e assim que acordo os poderes vão voltando com o tempo. Às vezes pode levar quatro ou cinco horas para voltarem ao normal.

- Você não bebeu por conta do confronto com Zelena amanhã. – concluiu corretamente Ruby.

- Não posso me dar ao luxo de ter meus poderes enfraquecidos nem um por cento amanhã. Ela é quem deveríamos dar um jeito de enfraquecer, mas não consigo pensar em nada. Ter os pesadelos é só uma consequência que estou disposta a suportar para enfrentar Zelena. – olhei-a nos olhos e finalizei. – Eu vou enfrentar e vou destruir Zelena amanhã. Não importa o que custe.

- Você quer dizer que não importa se você morrer.

- Se você prefere colocar nestes termos, sim. É isso. Não me importo de morrer. Contanto que eu ganhe. Contanto que eu tenha sucesso. – eu bufei mais uma vez, desviando o olhar para os lençóis e suspirei. – Malditos pesadelos.

- Como eles são? – Ruby perguntou calmamente, tentando me entender e me acalmar.

- São sempre iguais. Sempre dois iguais. No primeiro minha mãe e eu estamos conversando sobre como ela tinha medo de que eu cedesse para a magia do bem e fosse arrancada dela. Eu me sinto má nesse sonho e simplesmente digo, sinceramente, que isso não vai acontecer e arremesso uma bola de fogo em Branca de Neve, matando-a.

Ruby arregalou os olhos e levou as mãos à boca. Ela entendera exatamente o problema daquele sonho: eu me sentir má. Eu ser má. E pior, minha mãe ser má. Ela tirou as mãos da boca e respirou fundo, esperando pela descrição do segundo sonho, o qual eu realmente preferiria esquecer para sempre.

Blanck - Uma lembrança de amor em meio às trevasWhere stories live. Discover now