Capítulo 21

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Ruby me levantou pelos braços enquanto eu me contorcia de dor e lágrimas grossas se formavam em meus olhos. Expliquei aos dois que o coração de Regina estava ardendo dentro de mim como se estivesse pegando fogo e se alastrando pelo meu corpo atingindo todos os meus órgãos, me queimando de dentro para fora. Finalizei a explicação com a conclusão que para mim era óbvia, porém para eles não, de que quando isso acontece quer dizer que o dono do coração está sofrendo tortura e está prestes a morrer.

Eu não conseguia nem andar, quanto menos correr. Tentei me manter de pé e, tremendo, enfiei a mão dentro do peito e retirei o coração da minha mãe, segurando-o com a mão direita. A dor passou instantaneamente e pude respirar fundo após aqueles segundos de desespero que pareceram durar uma eternidade. O coração estava igual ao que eu havia deixado, permanecia vermelho vivo, novo e sem trevas. Que alívio, pelo menos uma boa notícia em meio àquela bagunça.

Corremos até a avenida principal e eu disse à Henry que estaria de olho nele durante todo o processo e que assim que percebesse que ele já não aguentava mais eu o tiraria dali e enfrentaria Zelena sozinha. Ruby também concordou e disse que ficaria em sua forma de lobo pelo tempo que achasse necessário, sentindo o clima e a situação para saber se Henry, eu e ela mesma estávamos seguros ou não.

Durante nosso caminho até a avenida principal três coisas muito importantes aconteceram. A primeira foi que meus poderes foram voltando ao normal e assim que chegamos a alguns metros de distância da multidão que se encontrava no local eu já me sentia muito melhor e mais forte. A segunda foi uma rápida conversa sobre Henry estar com meu coração e não ser capaz de pegá-lo dentro dele mesmo, pois retirar corações era considerado um ato de maldade, coisa que o feitiço de nossa mãe impedia a mim e ao meu coração de fazer. Porém, meu coração deveria ser retirado em certo momento de dentro dele e colocado em Regina, então Ruby se voluntariou para fazer esse trabalho, mesmo correndo o risco de seu próprio coração adquirir uma mancha negra.

E a terceira e única que não deveria ter acontecido foi que, durante a minha queda causada pela ardência no coração de Regina, eu não percebi que o cordão onde estavam penduradas as lágrimas da minha mãe cedeu e o vidrinho caiu em algum lugar da floresta. Eu sentiria o peso dessa adversidade em breve.

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No momento em que enxerguei a multidão olhei para a direita e já vi aquele enorme lobo ao meu lado, acompanhado por um Henry tranquilo e decidido, bem a minha esquerda. Nossa missão era bastante complicada e não tinha certeza de sucesso, mas aqueles dois me traziam segurança e orgulho de tê-los escolhido para estar ao meu lado naquele momento. Henry olhou para mim e coloquei nele o mesmo feitiço para mudança de aparência que havia colocado em Ruby para que tivesse a fisionomia de Zelena e pudesse ir até o hospital visitar Henry naquele mesmo dia. Ele me perguntou se não seria necessário beber a poção que mantinha sua aparência diferente, como Ruby bebera, mas eu disse que era algo dispensável, pois eu estaria ao lado dele o tempo todo, controlando e preservando o feitiço. Ele sorriu e parou para olhar para si mesmo.

- É muito estranho ser uma mulher? – eu perguntei, brincando. – Está com vergonha?

- Eu não sou uma simples mulher. Eu sou uma das maiores e mais poderosas bruxas do mundo. Vergonha? Pode ter certeza que estou muito orgulhoso.

Essa era uma resposta que eu não esperava e me derrubou. Eu sorri e ele retribuiu. Havia apenas alguns segundos que estávamos ali parados e percebemos que havíamos perdido tempo demais. Ruby foi tentar passar sem ser notada por detrás das inúmeras pessoas que assistiam a alguma coisa e percebemos que estavam completamente entretidas, afinal não era todo dia que um lobo daquele tamanho passava despercebido por uma multidão como aquela. Respirei fundo e tentei fazer a mesma coisa logo depois de encarar Henry e dizer:

Blanck - Uma lembrança de amor em meio às trevasWhere stories live. Discover now