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Meus olhos simplesmente não conseguem se desgrudar de Harry. Engoli em seco, sentindo meu corpo todo estremecer. Não é possível que Harry seja o culpado, porque eu o vi no mesmo dia que aconteceu o acidente. O homem responsável pelo acidente, estava bêbado. Como seria possível que Harry estivesse bêbado no dia do seu show?
 
A menos que o acidente tenha acontecido antes do show...
Eu realmente não sei o que pensar. Não quero ser precipitada e o acusar de algo que eu acho não ser possível. Eu só quero pensar que isso seja um mal entendido. Mas por que ele não me contou isso logo?

Uma movimentação começa e posso ver o homem ao lado de Harry apontar para trás, em direção a minha mãe. Harry se vira e seus olhos correm até mim de maneira assustada. Ele trava da mesma forma que eu travei ao vê-lo.

Uma lágrima solitária escorre no meu rosto enquanto sigo o olhando sem alguma reação. Harry franze a testa e junta as sobrancelhas, o deixando com a expressão mais triste que eu já pude ver. Seu peito sobe e desce como se ele tivesse corrido uma maratona. Tudo o que quero é levantar, pegá-lo pela mão e fazê-lo me dizer que não passa de mal entendido. Assim posso o abraçar e dizer que está tudo bem e que eu o amo mais que tudo na minha vida.

Harry balança a cabeça e passa a mão pelo cabelo enquanto suspira fundo. Ele diz um "sinto muito, eu te conto" sem som, antes de se virar novamente.

Sinto meu estômago todo revirar e uma fraqueza atinge meu corpo. Eu deveria ter tomado café direito.

- mãe, eu não tô me sentindo muito bem. Sabe onde tem um banheiro? Sussurro ao seu ouvido, já que ela não se virou para me  olhar.

- tem uma sala de espera do lado esquerdo. Lá tem um banheiro.

Me levanto e dou uma última olhada para Harry. O barulho do meu salto batendo no chão, chama atenção dele que logo me olha. Ele tenta se levantar, mas o homem ao seu lado segura seu braço o impedindo.

Caminho para fora, em direção a tal sala de espera. Ela está vazia e corro até o banheiro. Me inclino no vaso e sinto dor no estômago ao botar pra fora o meu café da manhã. Ou seja, uma fruta.

Tento me recompor respirando fundo, mas ainda sinto minha boca produzir saliva em excesso, indicando que vou voltar a vomitar. Não há mais nada no meu estômago. Tudo o que sai é um líquido viscoso, esverdeado e amargo.

Fiquei mais de minutos debruçada no vaso sanitário até que tive forças para me levantar e lavar a boca. Me sinto fraca e decido por não voltar lá pra dentro. Ao me olhar no espelho, vejo meu rosto pálido e com algumas gotas perdidas de suor.

Talvez eu possa pegar um táxi depois e voltar pra casa do Harry, mas por enquanto vou recuperar minhas forças nessa poltrona vermelha aqui.

Não notei quanto tempo se passou desde que me sentei na grande poltrona vermelha. Eu tenho quase certeza de que cochilei, pois já estava começando a babar.
Um alvoroço lá fora se iniciava e logo me levantei. Vou até o banheiro e lavo meu rosto. Ainda sinto meu estômago dolorido, mas não é algo forte como antes. Ouço a porta da sala de espera ser aberta e saio do banheiro dando de cara com Harry.

  - Laura, o que faz aqui? Já faz tanto tempo que pensei que tivesse ido embora. Ele caminha em minha direção e segura meu rosto entre suas mãos.

- eu me senti mal e fiquei por aqui. Me afasto de seu toque e me sento novamente na poltrona.

Harry suspira e se abaixa a minha frente. Sua expressão é dura e de preocupação.

- por que você não está em casa, amor? E a Gemma?

Ele apoia sua mão em meu joelho.

- sua mãe me ligou e disse que ela ficaria por lá.

- e o que faz aqui? Ele segura meu queixo, me fazendo o olhar nos olhos já que eu olhava para o chão.

- não, Harry. O que você faz aqui? Meu tom de voz sai da forma que eu esperava. Calmo e sem acusação. Apenas curiosidade.

Harry fecha os olhos por um segundo e seus ombros caem, dando-lhe uma aparência de cansaço.

- podemos falar em casa? Eu não queria conversar aqui. Ele acaricia meu joelho e se levanta.
Mas eu prefiro que ele me conte logo, assim até o caminho de casa não terei mais essa angústia dentro de mim.

- Harry, apenas me diz. Não foi você que atravessou a rua, não é? Eu estava lá no seu show quando isso aconteceu. Eu te vi.
Minha voz sai um tanto desesperada. Eu realmente quero que ele confirme o que eu disse.

- ei, calma. Não! Eu não atravessei nada, mas a culpa ainda sim é um tanto minha.

O olho confusa. Eu realmente não sei como ele pode ter essa parcela de culpa, se não foi ele que estava lá.

- naquela tarde, eu tive uma discussão com um amigo que me acompanha. Ele faz parte da produção do show. Era um motivo tão estúpido que eu já nem me lembro o que era. Mas ele me disse que não queria mais estar ali comigo, e eu disse que era pra ele fazer o que fazia de melhor. Encher a cara. Então eu dei um dos meus carros para que ele fosse e dei lhe dinheiro também. Eu sei que isso foi muito idiota e eu me arrependo tanto...

Seus olhos não se encontraram com os meus em nenhum momento. Ele apenas manteve seus olhos no chão, como se pudesse reviver tudo aquilo novamente.

- eu não vim ser acusado de nada e é por isso que saí mais cedo. Ainda está rolando o processo lá dentro. Eu apenas estava dando o meu depoimento.

Finalmente Harry levanta seus olhos e  me encara.

- eu queria ter te contado, Laura. Mas eu não tive coragem. Eu... Eu só sinto muito. Não tenho nem palavras... Quando eu soube da sua família, quis ajudar de alguma forma. Por isso te ofereci o emprego.

Nesse momento meu coração erra uma batida. Então é isso? Um romance movido a pena?

- espera! Então tudo isso começou porque estava com pena de mim?

Vejo os olhos de Harry se arregalarem e sua boca entreabrir.

- não diga nada! Eu preciso entender tudo! Você se sentiu culpado por achar que é responsável por um acidente e decidiu que eu era uma maneira de subtrair a sua culpa? Eu não estou chateada que você tenha algo com isso do acidente, mas por que diabos não me contou, Harry? Por que não dividiu esse peso comigo? E por que não deixou claro desde início que apenas estava tentando se redimir?

As palavras simplesmente saíam da minha boca sem parar. Enquanto Harry me olhava sem qualquer reação, eu disparava palavras sem nem pensar. Eu não tinha controle sobre mim e a raiva que senti, não era domável. Eu não quis ofender Harry e nem machuca-lo, apenas queria entender.

- eu vou pra casa e respirar um pouco. Depois nós nos falamos. Eu sinto que talvez esteja sendo injusta, mas eu preciso desse tempo. Ok?

Pousei minha mão sobre o ombro de Harry e o vi engolir em seco enquanto manteve seus olhos fechados. Ele não iria chorar, não é?

- eu sinto muito também. São as últimas palavras que deixo enquanto saio da sala.

Because You ... //HS\\Where stories live. Discover now