Capítulo XLI

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Igor Narrando

Um mês, um mês sentado na cadeira do hospital, um mês de sofrimento, dúvida e solidão. Tudo estava tão quieto, eu não tinha o sorriso dela nas minhas manhãs, não podia sentir seu cheiro, eu não tinha nada.
Ir pra casa não fazia mais sentido, para onde eu olho eu a vejo, lembro das nossas brincadeiras, da risada, dela tentando ficar brava comigo quando na verdade ficava ainda mais fofa, minha casa me deprimia, meu carro me deprimia, eu estou andando de Uber tem um mês, não consigo olhar pra o lado e não vê-la admirando cada detalhe do mundo com os pés no painel. Tudo que existe na minha vida me lembra a Alice.
Ontem eu fui até o apartamento dela, fiquei lá por horas, chorando, tentando me apegar a qualquer lembrança dela, mas nada era capaz de substituir a Alice nem uma simples camisa com seu cheiro.
Eu estava sozinho com ela no quarto pensando quando finalmente vou poder ver o brilho dos seus olhos, ouvir sua risada, sentir o gosto do seu beijo, estávamos tão perto porém tão longe. As vezes ela apertava a minha mão, chorava, tem uma semana que ela não faz mais nada, nenhum sinal ou reflexo como o médico diz. Comecei a pensar como seria se nada disso tivesse acontecido, estaríamos na Espanha tentando sobreviver sem saber falar nada, rodeados de caixas para desempacotar, e principalmente felizes, felicidade, tá aí uma coisa que eu não sei se vou sentir algum dia, não sem a Alice, não existe cor num mundo sem ela, depois que se vive uma vez com a Alice é difícil demais viver sem ela. Minha mente viajava nesses pensamentos quando eu ouvi uma tosse, olhei para Alice era ela, ela tinha acordado, comecei a gritar e os médicos vieram correndo para ajudar e completamente surpresos, eles já estavam perdendo as esperanças de uma possível melhora. Não sei explicar o que eu senti, não sei explicar o que os olhos dela diziam, eu só soube chorar e agradecer por ela ter voltado, era ela, minha Alice tinha voltado pra mim ou não, eu não sei se ela quer ficar comigo, muito menos se ela ainda se lembra de mim.
- Vai ficar chorando o tempo todo é?- ela disse brincando comigo, ela se lembrou de mim, chorei ainda mais.- Por que você está chorando tanto?- eu não conseguia falar, a minha alegria consumia todo o meu corpo.- Igor, que foi?- respirei fundo e a respondi:
- Eu estou muito feliz por você ter acordado, por ser lembrar de mim, por não querer me matar...
- Te matar?- ela me interrompeu segurando minhas mãos.- Por que eu faria isso?- o médico deu um espaço pra que pudéssemos conversar.
- É culpa minha, você estar aqui é culpa minha, eu não devia ter terminado, não devia ter te deixado lá.
- Mas o que aconteceu comigo?- ela me perguntou, mas se ela não sabia, como aconteceu, como eu vou explicar isso? Respirei fundo e tentei ser o mais direto possível.
- Você avançou o sinal perto de casa, e colidiu com um caminhão, ficou presa nas ferragens e é um milagre estar viva.- direto demais, fui péssimo ela vai enlouquecer.
- Minha nossa! O motorista do caminhão? Eu matei alguém? Eu fui devagarinho com as minhas coisas pra casa, mas tudo ficou borrado com as lágrimas e depois eu não vi mais nada, tudo sumiu.
- Tá tudo bem, ele não se machucou muito, só quebrou um braço já está de volta ao trabalho e tudo, eu o ajudei financeiramente por um tempo...
- Por um tempo? Como assim por um tempo? Quanto tempo eu tô aqui?
- Quinze dias, até ele voltar a trabalhar. Tem um mês que o acidente aconteceu.- ela começou a chorar.
- Um mês! Um mês, mas e Barcelona?- o que mais me encanta é que ela não se importa com o que aconteceu com ela, e sim com as pessoas a sua volta.
- Eles me deram dois meses, eu ainda tenho um mês pra me apresentar, mas eu não vou a lugar nenhum sem você. Eu vou ligar pra todo mundo avisando que você acordou tá bom? Processa isso tudo por enquanto.- sai do quarto e a deixei refletindo, é engraçado que dá última vez que eu fiz isso ela veio parar aqui, mas dessa vez eu estava de olho nada a aconteceria.
Todos vibraram com a notícia e vieram correndo para o hospital, o primeiro a chegar foi o Marcos, a Alice ficou muito feliz por vê-lo, ele pediu perdão por tudo e não vai mais voltar para a Austrália.
- Minha vida é aqui, Austrália é muito chata sem vocês.- a Alice ficou tão feliz com a notícia, eu estava muito feliz por ela, por tudo que estava acontecendo.
Depois a Ana chegou, minha mãe, a Rafaela, e foi só festa, até o médico voltar, a Alice precisava fazer alguns exames e foi aí que a festa cessou, a adrenalina de estar acordada passou e ela se deu conta de que não sentia as pernas e aquilo me apavorou.


Um Amor De Fim De NoiteWhere stories live. Discover now