Um Amor De Fim De Noite

Capítulo XXIV

Por que alguém daria uma roupa de criança ao Igor, com um bilhete "Meu eterno jogador." Mostrei ao Igor e ele começou a chorar, eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Nunca tinha visto o Igor daquele jeito, ele soluçava, ele gritava, ele rasgou algumas das caixas que estavam perto  dele, e depois parou, foi quando eu o abracei bem forte.
- Ele não podia fazer isso, eu disse a ele que não queria o ver nunca mais, que nunca mais falaria nele.- ele tentava dizer essas palavras, mas os soluços e choro e o impediam.
- Ele quem?
- Meu pai! Eu não sou como você, que por mais difícil que seja consiga encarar a realidade.
- Que realidade?
- Eu te prender na poltrona do carro tem um por quê, eu sofri um acidente de carro com ele e meu irmão.- que irmão, que eu saiba ele só tem a Iara, que é meia irmã.- meu pai estava bêbado e precisava levar a gente pra casa, ele me prendeu com o cinto de segurança, mas não o fez com o meu irmão, quando nós batemos em um caminhão e capotamos três vezes, eu e ele ficamos ilesos eu quebrei um braço e ele em coma por dois dias o impacto e quantidade de álcool no sangue dele fizeram isso, o meu irmão foi expelido do carro, ele morreu sozinho na pista, eu conseguia o ouvir, mas com o choque eu não conseguia falar, ele tinha 7 anos e eu 9, minha mãe trabalhava fora, tudo que ela pediu pra ele foi olhar a gente por uma noite, e isso custou a vida do meu irmão. Eu nunca o perdoei por isso, ele continuou bebendo, ele abandonou a gente depois do acidente, parece que agora ele mudou, está na igreja, mas agora o meu irmão está morto e isso nunca vai mudar.

Eu não sabia o que dizer, eu só o abracei bem forte, e ele só sabia chorar, não o julgo por não falar com o pai, foi difícil demais para ele, perder o irmão e o pai ao mesmo tempo.
- Não fica brava comigo tá?
- Por que eu ficaria?
- Porque eu não te contei.
- Igor, está tudo bem, tudo tem o seu momento, uma hora você ia ter que me contar, fica tranquilo.

Eu o acariciei tanto que ele dormiu nos meus abraços, minha sorte era que estávamos no sofá, então eu o ajeitei lá mesmo e fui limpar a sala silenciosamente, era muito papel, muitas caixas.

Eu fui para a faculdade preocupada, o Igor não estava bem, o pai mexeu muito com ele, ele foi bem aéreo digamos assim para o treino hoje. Passei a manhã inteira sem foco, eu não estava muito bem também, estava cansada, não tinha conseguido descansar direito. Sai da faculdade e fui para casa, tinha que lavar roupa, eu não tinha quase nada pra vestir mais, arrumei a casa, se eu estava cansada antes, depois disso eu fiquei ainda mais. Quando eu terminei tudo, eu me joguei no sofá, e dormi por lá mesmo, acordei horas depois com a campainha era o Marcos, o Seu Zé deixa ele subir direto porque o Marcos já é de casa.
- Vim dormir com você!- ele estava cheio de sacolas e bem empolgado.
- Iupi! - eu disse tentando me animar, quando na verdade eu só queria dormir, mas fazia tempo que o Marcos não dormia aqui, tive  que deixar pra descansar amanhã.

Contei a ele como foi a festa, ele me contou algumas novidades, e me fez a seguinte pergunta que me deixou intrigada:
- Alice, você está feliz?- ele me perguntou como quem estava tomando coragem a me perguntar isso há muito tempo.
- Sim Marcos, mas por quê disso?
- Coisa minha, deixa pra lá.

Eu achei estranho, um clima surgiu no ar, fui salva pela ligação do Igor, ou não, ele queria vir pra cá, e eu queria ficar com ele, mas o Marcos estava lá, eu não queria vacilar com ele, conversei com Igor com jeito e ele entendeu.
- Então amanhã nós vamos na praia pra compensar?!
- Vamos. - o Marcos me chamou e eu precisei desligar.

- Que foi?- o Marcos estava com uma cara muito estranha.
- É...- ele disse coçando a cabeça, e respirando fundo.
- Diz logo menino.
- Eu te amo Alice!
- Eu também te amo Marcos! Você é meu melhor amigo!
- Não você não entendeu, eu te amo!
- Entendi sim bobo, eu sou sua melhor amiga, e você me ama demais, agora vem, vamos ver um filme.

O Marcos continuou estranho, eu queria muito saber o que se passava na cabeça dele naquele momento.