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Os olhos dele pareciam vidro, suas pupilas dilatadas e o corpo imóvel prensado na parede, sem qualquer movimento ou reação, como se estivesse em estado de choque ou preso no labirinto de si mesmo.

Os dois punhos segurados atrás do corpo e a bochecha encostando na parede gelada, até que subitamente foi afastado pra receber socos no abdômen e na maçã do rosto, e mesmo assim, não demonstrou reação alguma.

- Seu ladrãozinho desgraçado! - gritou - Você vai se ver com a polícia.

Polícia.

Só com a última palavra eu consegui sair do transe, meus olhos voltaram a olhar ao redor buscando pela solução mais rápida possível pra impedir que o garoto fosse preso ou atingido mais uma vez, e quando percebi, estava parado em frente ao dono da conveniência que segurava Jisung pela camisa.

- Calma, podemos resolver isso civilizadamente - minha voz evidenciava meu nervosismo.

- Quem é você? - o velho perguntou.

- Não importa - minhas mãos foram rápidas em tirar a carteira do bolso e pegar uma quantia mais que o suficiente pra pagar tudo que estava no chão - Toma, pode ficar com o troco.

O homem olhou pro dinheiro na minha mão, e continuou com a mesma expressão de ódio e a pele vermelha pelo nervoso.

- Do que adianta? Ele sempre vem aqui, é um trombadinha safado que não vai parar de me roubar até levar uma surra de acordo.

Tirei mais dinheiro da carteira, sem me importar se isso era tudo que eu tinha do pagamento desse mês e estendi ao homem de novo.

- Isso é tudo que eu tenho. Essa quantia e você não chama a polícia e não parte pra violência. Quanto ao fato dele roubar de novo, isso não vai acontecer, e se acontecer eu te pago o dobro.

Mesmo insatisfeito, ele acabou por pegar o dinheiro da minha mão e soltar a blusa do garoto que se encolheu ainda mais na parede.

Com rapidez, eu juntei todos os produtos no chão e pedi por uma sacola que foi jogada em mim pelo dono da loja. Empacotei as refeições instantâneas com pressa, e me aproximei com cuidado do garoto que continuava imóvel com os olhos arregalados de medo.

De perto, eu percebi que o canto de sua boca sangrava, um olho estava roxo e suas mãos sobre a barriga que foi atingida. Mesmo assim, ele não demonstrava estar com dor, na verdade, seus olhos não demonstravam sentir absolutamente nada e isso era um pouco assustador.

Eu estendi a sacola, incerto sobre o que dizer e que distância manter de alguém que estava claramente abalado, em pânico, e preso no próprio corpo.

- Acho que isso é seu.

Ele não disse nada. Nem mesmo o seu peito mexia pra mostrar que estava respirando, e quando eu dei mais um passo, ele se afastou e se encolheu ainda mais contra a parede, até que de repente saiu correndo.

Não consegui pensar em muita coisa, e quando percebi, já estava correndo atrás dele e gritando pra que esperasse.

Seus pés tropeçavam na rua e ele virava pra trás com desespero, como se estivesse com medo de mim, e isso me fez diminuir a velocidade pra que ele se sentisse mais seguro.

Assim que virou a esquina, ele desceu o corredor até o mesmo porão de onde saiu e bateu a porta com força.

Eu apoiei minhas mãos sobre os joelhos, com a respiração ofegante e o rosto úmido pelo cansaço. Acabei sentando do lado da porta que ele entrou, tentando raciocinar direito sobre tudo que aconteceu em menos de dez minutos.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)حيث تعيش القصص. اكتشف الآن