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O tic-tac do relógio marca exatamente uma hora da tarde do dia vinte e sete de setembro. A sincronia dos dois ponteiros é a única coisa que pode me entreter, mas a parede branca onde o relógio está arde meus olhos que sofrem com a insônia.

Um homem está sentado em uma cadeira atrás de mim e eu não posso vê-lo, mas sei que está me vigiando. Na minha frente, há uma mesa com um computador, alguns papéis e pastas que não consigo ler, e na parede está o relógio que parece ser a única coisa que faz barulho na sala depois da arritmia do meu coração.

Nunca pensei que todos os meus esforços me trariam pro lugar que eu mais fugi, mas pensar nisso fazia meu coração bater mais rápido do que o triplo da velocidade do ponteiro dos segundos, por isso, meus olhos caíram sobre a parede branca e permaneceram ali.

Alguém abriu a porta tão bruscamente que quase me fez saltar da cadeira. Um homem entrou, se sentou na cadeira a minha frente e eu reparei no quanto ele parecia jovem pra alguém que trabalha na polícia. Era magro, baixo, o rosto cumprido e os olhos pretos assim como os cabelos. Logo eu o reconheci.

- Sou Seo Changbin, o investigador responsável pelo caso - disse com um pouco de frieza.

- Eu sei quem você é.

- Isso não tem relevância agora - respondeu - vamos começar a gravar seu depoimento. Está ciente que mentiras só vão resultar no aumento da sua pena, certo?

Ele buscou por alguns papéis na gaveta, enquanto isso eu passei a olhar pra fina camada de pó que cobria o vidro da mesa. Estava começando a perceber que focar em detalhes era uma válvula de escape pra fugir dos pensamentos que me levavam a ele.

Changbin agora tinha um gravador em mãos, foi iniciado assim que ele tinha um novo papel na mesa e um outro capanga do seu lado.

- Vamos lá, Lee Minho, o que você fez quando acordou no dia cinco de maio?

A luz vermelha do gravador piscava em minha direção, e sinceramente, o fato da luz me colocar mais pressão que Changbin soava engraçado.

- Bom, eu tomei banho, aquela coisa de higiene matinal. Você não faz isso também?

Changbin mordeu os lábios, ele fazia isso toda vez que tentava esconder que estava irritado. Ele é bom em esconder sentimentos, mas a linguagem corporal dele o expõe. Ele suspirou, como se estivesse tentando recuperar a estabilidade antes de dizer qualquer coisa.

- Vou recomeçar a gravação, se você fizer qualquer comentário imbecil vai responder por desacato.

O gravador parou e voltou a piscar, Changbin repetiu a pergunta e meus olhos caíram sobre minhas mãos, e as algemas rodeando meus pulsos. Pensar que o momento que eu mais temi havia chegado, me trazia um turbilhão de sensações ruins em uma fração de segundos, mas, pensar que a verdade finalmente seria dita em alto e bom som me fazia sentir menos culpado do que realmente sou.

- No dia cinco de maio, eu fui pra faculdade. Era um dia normal, quer dizer, eu achei que seria um dia normal também. A pior parte de uma desgraça é que você não pode a prever.

05/05/17 11:36
Dia do crime

- Você falta tanto que às vezes penso se você morreu e esqueceram de me avisar - disse com a boca cheia de comida - mas aí você aparece aqui e é como se fosse um soldado que voltou vivo da guerra, sabe? É histórico.

- Eu vim na aula semana passada - bebi um gole do suco - você exagera.

Ir pra faculdade nunca foi meu forte. Eu nunca quis cursar administração, mas não é como se meus pais me dessem alguma liberdade de escolha, já que os negócios da família sempre passaram de geração em geração e infelizmente a minha geração chegou.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Where stories live. Discover now