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Fevereiro de 2008
Gamgnam, Seul.

O vento gelado soprou tão forte que fez sua pele arder, seu corpo todo estremeceu e ele se encolheu contra o muro de uma casa qualquer. O garoto fechou os olhos com força e abraçou o próprio corpo, já podia sentir as pequenas gotas de chuva arrepiarem sua pele. Devia ter colocado um casaco dentro da mochila, mas não achou que passaria tanto tempo ali, afinal, era pra seu pai ter lhe buscado a quase quatro horas atrás.

Lee Minho já não aguentava mais esperar, conforme anoitecia ficava mais frio, e o inverno lhe mataria caso passasse aquela noite fora de casa. Ele batia os dentes e se encolhia contra o concreto gelado, queria tanto ter dinheiro pra pegar um ônibus ou chamar um táxi, mas nem isso tinha. Era irônico pensar que o filho de um dos homens mais ricos da Ásia não tinha nenhum won no bolso, mas não tinha culpa se seus pais não lhe davam nada, e com apenas treze anos ainda não era capaz de conquistar seu próprio dinheiro. Minho não se importaria com isso se seus pais fizessem o necessário por ele, mas eles não se lembravam nem de busca-lo na escola, por que fariam mais que isso?

O carro vermelho parou praticamente no meio da rua, e Minho reconheceu o som do motor. Respirou aliviado e atravessou a avenida vazia, o choque térmico do vento gelado com o ar quente do carro lhe deu uma sensação gostosa, ficou tão aliviado ao se sentir quentinho de novo que até se esqueceu de quem estava do seu lado.

A mulher o olhava com indiferença, como se estivesse olhando para o banco do carro vazio e não tivesse ninguém sentado ali. Minho engoliu em seco e abraçou o próprio corpo, queria saber porque ela tinha demorado tanto, mas não queria ficar mais magoado do que já estava.

— A senhora estava ocupada, mãe? – perguntou receoso – Demorou um pouquinho pra chegar... – Demorou muito, na verdade, mas Minho não queria começar uma briga.

— Não – respondeu – Achei que seu pai tivesse falado pro motorista te buscar, mas ele se esqueceu. Gahyeon chegou da aula de balé perguntando por você, então eu me lembrei.

— Ah... – ele abaixou a cabeça e murmurou triste – Tudo bem, acontece.

— Não, não acontece – a mulher riu com sarcasmo e disparou a falar – Eu não tinha essa obrigação antes de você nascer, tudo era diferente naquela época da minha vida. Ter filhos é um caminho sem volta, Minho, eu e seu pai tínhamos tantos planos, nossa vida teria sido tão boa se você não estivesse aqui, e agora eu tenho que largar meus afazeres pra vir te buscar na escola – ela riu sem humor – Você devia me agradecer.

Minho já estava acostumado a ouvir aquilo, seu coração ainda doía como nas outras vezes que ouviu as mesmas palavras, mas as lágrimas não se formavam em seus olhos mais. Não doía tanto como antes, era uma ferida aberta há muito tempo, e Minho já não tentava mais cura-la ou remedia-la, apenas aprendeu a viver com ela.

— Obrigado, mãe – disse cabisbaixo.

— Sabe, eu não culpo você – disse – Eu culpo seu pai, foi ele que acabou com nosso casamento e com a minha vida naquela época. Ele estava desesperado por um herdeiro, mas não era pra você ter nascido tão cedo, não era pra tudo ter acontecido como aconteceu. Depois disso nós tentamos do jeito certo, e então Gahyeon nasceu, mas ela é uma mulher. Você sabe o que Gangnam pensa de mulheres no comando, não sabe? Ia manchar a reputação da empresa. Minha gravidez dela foi muito arriscada, eu não poderia dar outro filho pro seu pai, então teve que ser você.

O garoto queria colocar as mãos sobre os ouvidos e não escutar mais nenhuma palavra, mas não podia. Todas as vezes que ela ou seu pai diziam coisas dolorosas ele era obrigado a escutar, afinal, Minho não tinha o direito de agir por si próprio, muito menos errar.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Where stories live. Discover now