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Ainda podia escutar Gahyeon gritando meu nome e tentando me impedir. Me deu ordens pra não ir atrás dele, depois praticamente implorou pra que eu não continuasse com isso e nos colocasse em perigo. Pude ver como sua voz tinha ficado fraca, como se eu estivesse prestes a entrega-la pra polícia. Tentei ficar mas não consegui. Meus pés me guiaram pra fora.

Meu coração dói tanto que eu nem consigo mais pensar direito. Gahyeon é minha irmã, a pessoa que mais amo no mundo, mas não consigo escuta-la no momento que eu mais precisava a ouvir.

Me sinto culpado dos dois lados, e todas as atitudes que tomo parecem erradas. Me aproximei de Jisung não só pra me inocentar, mas pra me livrar da culpa que sentia por ter matado seu irmão. Agora, não consigo deixa-lo ou me afastar dele, e não sei quando foi que perdi o controle disso.

Na visão da polícia, Gahyeon seria tão culpada quanto eu, e é por isso que tudo que faço também diz respeito a ela. Eu a entendo, eu desesperadamente a entendi quando ela me disse pra parar, quando disse que eu estava ultrapassando o limite e nos colocando em risco. Ela ficou brava e gritou, mas depois chorou como se eu estivesse tirando algo dela, condenando-a pra sempre e preferindo proteger Jisung do que minha única família.

Minha cabeça ferve e eu tenho a completa certeza que não sei o que estou fazendo, se é que um dia eu soube. Me senti tão mal que saí de casa sem dar ouvidos a ela, liguei o carro e comecei a dirigir por toda a cidade a procura dele.

Jisung não está em lugar nenhum, e isso é tão desesperador quanto pensar em Gahyeon presa. Na verdade, com Jisung meu coração pesava um pouco mais. Ele não está acostumado a ficar sozinho ou ter contato com outras pessoas, e provavelmente o mundo real o assuste e o traumatize ainda mais. Não posso deixa-lo sozinho, mas deixei minha irmã sozinha. As vezes o desespero é tão grande que quero soltar o volante e deixar o carro capotar.

Andei por toda a cidade, fui até sua casa antiga, lojas de conveniência ou qualquer outro lugar que ele pudesse ter ido se estivesse com fome ou sono. Ele não estava em lugar nenhum, mas decidi procurar pela praça perto da minha casa não esperando encontrar nada. Jisung era espero, não que eu tivesse duvidado disso, mas ele decidiu ficar por perto porque sabia que eu o procuraria longe.

Estava deitado embaixo de uma árvore. Enquanto crianças brincavam e pessoas faziam caminhadas em volta da praça, Jisung dormia serenamente no meio da grama como se estivesse acostumado a não ter colchão nenhum pra deitar.

Seus fios loiros voavam com o vento, e sua expressão parecia tão calma que eu podia jurar que ele era um anjo. Um anjo caído que decidiu dormir um pouco embaixo da brisa fresca, como um girassol brilhante no meio do orvalho. Era lindo, se não fosse triste também.

Respirei aliviado ao vê-lo, e até cheguei a sorrir. Não poderia dormir em paz sabendo que ele estava sozinho em qualquer lugar, e encontra-lo mais uma vez me faz sentir que tenho o controle das coisas de novo, ou melhor, a ilusão de ter o controle delas.

Me aproximei dele e agachei em sua frente. Suas bochechas estavam sujas de terra e seus cabelos tinham pequenas folhas de árvore. Apesar das circunstâncias, ele dormia tão tranquilo que era até difícil acorda-lo, mas precisava tira-lo dali antes que as pessoas que o olhavam acabassem o tratando mal.

- Ei - pigarreei nervoso e toquei sua bochecha - Jisung?

Ele piscou os olhos algumas vezes, e depois os abriu por completo. Seus olhos castanho escuro refletiam o céu azul e as folhas da árvore, parecia surreal de tão bonito.

Jisung franziu o cenho e me olhou confuso, depois apoiou as mãos no chão e se sentou. Colocou a mão na cabeça e fez cara de dor, provavelmente seu corpo estava todo dolorido depois de passar não sei quanto tempo dormindo ali.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Where stories live. Discover now