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— Ficou bom? – perguntei a Jisung.

Ele tocou do até o e sorriu como uma criança feliz. Pra ser sincero, não achei que Mingi ia ter sucesso consertando um teclado, mas agora me sinto mal por ter duvidado. Se não fosse por ele, Jisung ainda estaria triste e eu desesperado tentando arrumar.

— Ficou ótimo – seus olhinhos ficaram pequenos com o sorriso enorme – Obrigada, obrigada!

Ele me puxou pra dar beijinhos na minha bochecha e lábios, e eu retribui com mais beijos e um carinho no seu rosto.

— Vou compôr uma melodia hoje – ele disse – Uma só pra nós dois.

— Pra nós dois? – perguntei surpreso e lhe dei um beijo na testa – Mal posso esperar pra ouvir.

— Minho! – ouço Gahyeon me gritar da sala de estar, e deixo um beijo no topo da cabeça de Jisung pra me despedir.

— Eu já volto – disse e ele assentiu.

Fechei a porta do seu quarto e fui até a sala onde Gahyeon está, confesso que até parei de andar quando vi quem estava parado na porta conversando com minha irmã. Sinto o mesmo aperto no coração ao vê-lo outra vez, as palavras que ele me disse no posto de gasolina me machucaram tanto que eu acho que nunca vou me recuperar totalmente.

Gahyeon me olhou, nosso pai continuou parado e nem sequer me cumprimentou. Não esperei que fosse diferente, mas ver que ele não se esforça nem pra parecer educado me dói um pouco.

— O papai vai embora hoje – ela disse.

Não sei o que Gahyeon espera que eu diga, quando viemos pra Coréia nossos pais nem me abraçaram direito na hora de se despedir. Eu não sei porque ele se deu o trabalho de vir aqui, foi só pra me fazer perder o emprego e voltar a ter controle sobre mim. Preferia que ele nunca tivesse saído da China.

— Boa viagem – me curvei brevemente, sem saber o que dizer ou fazer.

— Ele me pediu pra acompanha-lo até o aeroporto – Gahyeon me olhou apreensiva – Ia te pedir pra ir com a gente.

Fizemos um trato quando viemos morar na casa de Sicheng, eu e Gahyeon sairíamos pro trabalho e pra faculdade, e caso tivessemos que ir pra outro lugar só iríamos na companhia um do outro. Eu não obedeci muito bem esse trato, acabei indo atrás de consertar o teclado de Jisung e pagar minhas dívidas no banco sozinho, mas acredito que Gahyeon fez sua parte pois o trauma que ela carrega de Xiaojun é muito maior que o meu.

Eu não quero ir, mas nós dois nos comunicamos com o olhar e sei que ela está me pedindo isso pois sente medo de voltar sozinha do aeroporto até aqui. Eu poderia dizer a ela pra deixar nosso pai ir sozinho, mas a relação dos dois é diferente, meu pai realmente a ama e minha irmã apesar de tudo tem um carinho enorme por ele. Se eu tivesse um pai que me amasse, eu também ia lhe acompanhar pra onde ele quisesse, por isso não julgo Gahyeon em nenhum momento.

— Tudo bem – digo contra a minha vontade, mas pensando no bem estar dela – Eu vou pra que você não volte sozinha.

Vi meu pai rir disfarçadamente com ironia, ele sabe que eu disse isso só pra ele saber que a razão pela qual estou indo não é ele, e nunca vai ser. Talvez se ele fosse um pai presente ele saberia do que aconteceu naquela noite, talvez eu teria confiança o suficiente pra deixar ele saber e dividiriamos o peso das coisas, mas esse não é o caso. Somos como dois desconhecidos um pro outro, e talvez a única coisa que temos em comum seja nossa consideração por Gahyeon.

— Obrigada – ela sorriu aliviada – Vou pegar um casaco.

Ela nos deixou a sós na sala, e o silêncio me incomodou a ponto de me deixar nervoso e com as mãos suando. Não posso ficar perto dele com tanta mágoa no meu coração, por isso vou até o quarto de Jisung e escuto ele treinando uma melodia calma e gostosa. Estou louco pra ouvir o que ele está compondo pra nós dois.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Where stories live. Discover now