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Seis meses depois.
Hong Kong, China.
10:37

— Senhor Lee? 

Não. De novo não.

— Senhor Lee, com licença – ouço os passos dele chegando mais perto e já começo a revirar os olhos.

Levanto a cabeça com preguiça e minha visão fica turva pela tontura. Não devia ter bebido tanto assim, se meu pai sentisse o cheiro de álcool vindo de mim ia me xingar de novo e de novo como ele vem fazendo nos últimos tempos. Tem sido um inferno.

— Senhor Lee? Você está bem? – ele me olha mais de perto e ergue as sobrancelhas.

Eu não consigo ser grosso com ele como o meu pai é com todos os seus funcionários. Mesmo quando eu estou irritado, mal humorado, bêbado ou chorando por odiar minha vida, eu não consigo descontar isso em alguém tão simpático como Wong Hendery.

É claro que ele também pode ser chato. Com seu andar de passos curtos, óculos redondos, voz aguda e demasiadamente educado, Hendery consegue me tirar do sério às vezes, mas de todos os defeitos que eu tenho, não sou igual meu pai. Não vou me sentir superior tratando outra pessoa mal.

— O que foi? – respondo sem muita vontade enquanto uso meu pé pra arrastar a lata de cerveja pra debaixo da mesa.

— Precisamos urgente marcar uma reunião com o setor financeiro, eles estão com alguns probleminhas que o senhor Chinhae pediu pra você resolver.

— Eu? – levantei as sobrancelhas.

Todos os dias são assim. Problemas e problemas sendo colocados na minha mesa, papéis com palavras que eu nunca sequer vi em toda a minha vida e não faço ideia do que significa. Não sei como meu pai quer que eu resolva problemas da empresa se eu nem se quer sei como resolver os problemas da minha própria vida. Eu fracassei na faculdade, fracassei no amor, e provavelmente vou fracassar no trabalho também. Qual o sentido disso tudo? Beber parece muito mais interessante.

— Sim, senhor – respondeu Hendery.

— Diga ao meu pai que eu não faço a menor ideia do que fazer ou o que falar. Pronto, resolvido – voltei a abaixar a cabeça e me deitar na mesa.

— Mas senhor... – ele diz com a voz aguda e nervosa outra vez – Não posso dizer isso ao senhor Chinhae, ele ficaria muito, muito bravo.

— Então mande outra pessoa fazer a reunião no meu lugar. Eu não me importo, Hendery – revirei os olhos.

— Somente os administradores da TWU podem resolver isso, senhor – ele diz em pânico – Precisamos solucionar todas as pendências. A empresa está em suas mãos desde que o senhor Chinhae precisou viajar, ele ordenou que você fosse a única pessoa responsável por orientar a corporação.

— Escuta, Hendery – me virei pra olha-lo um pouco irritado – Eu não dou a mínima, tá bom? O CEO é o meu pai, não eu. Infelizmente não posso fazer nada – sorri irônico, sem muita paciência. Não quero ser mal educado com ele, mas realmente não há nada que eu possa fazer.

— Senhor, eu...

— Não se preocupe – eu o interrompo – Sei que está fazendo seu trabalho, eu é quem não quero fazer o meu. Não vou prejudicar seu emprego, relaxa.

Ele me olhou ainda preocupado e apreensivo, apertando uma pasta contra o peito e torcendo os lábios. Não sei o que mais ele espera de mim.

— Eu queria poder ajudar você, senhor Lee. Sei o quanto o senhor Chinhae é exigente, não quero vê-lo em problemas. Eu gosto do senhor.

— Eu também gosto de você, Hendery – lhe dou um sorriso – Mas isso é problema meu, não precisa se preocupar. Estou acostumado com o meu pai, ele é do mesmo jeito desde que eu nasci. – dei de ombros.

- 𝘼𝙉𝙏𝘼𝙍𝙀𝙎; (𝘮𝘪𝘯𝘴𝘶𝘯𝘨)Where stories live. Discover now