Pedi à minha avó, a nagymama, que promova um baile de boas vindas. Devo ser condecorado em breve e fica bem uma comemoração. Ficaria bem também anunciar um noivado.

O baile será de máscaras e o primeiro convite entregue será o de tua família. Procurarei olhos de ametistas por detrás de cada uma das máscaras e, se os vir, e a dona tão bonita desses olhos a mão direita sem luva me entregar, nos dedos dessa mão graciosa deslizarei um anel, e saberei nosso porvir.

Para a dama de olhos violetas eu contarei o que o destino lhe reserva. E, se mesmo depois disso, ela me quiser, dela serei até morrer. Até morrer, D. Amélia!

Sabes, querida Amélia, existe uma determinada lenda, que diz que eu amaria e para sempre viveria com a senhora de olhos violetas que pudesse prender minha atenção. E seu nome seria... Amélia.

Não sou louco. É verdade que a lenda existe.

A guerra me mostrou que quando algo acontece devemos exteriorizar depressa a quem nossos anseios e segredos importam, pois amanhã a estrela pode ter apagado e o salão pode estar escuro. Amanhã, quem sabe, a lua nos procure em vão! Quero as venturas da vida, na certeza do presente, com aquela que, sim, para todos os momentos prendeu a minha atenção. E quem é esta que prendeu minha atenção, toda a minha atenção? Foi a senhora, graciosa e doce Amélia Mascarenhas.

 

                                    Teu,

                                    Fabrício.”

 

Primeiro imposto, depois tão pensado, afinal proibido.

Nunca se tinha visto história de amor mais controversa que a de Fabrício e Amélia na Corte do Rio de Janeiro. E o desenrolar do grande dilema se daria em breve.

Fabrício deixou Beira Linda naquele fim de semana, logo depois que Amélia soube de sua volta. Antes do retorno à sociedade, a ver os amigos e conhecidos, quis passar um temporada em alto retiro na fazenda do pai.

Queria reencontrar seu próprio eu, pois, mesmo de si mesmo sentia saudades. Saudades de tantas gentes! De tantas coisas! De antigos costumes e de novas posturas que gostaria de adotar! Todavia, entristeceu-se, pois, ao que lhe parecia, estava impossível de achar outra vez o mesmo Fabrício que conhecera um dia. A guerra lhe deixara feridas que custavam a cicatrizar. A dor não passava...

Com a odiosa guerra e, principalmente os últimos fatos que lhe deram desfecho, ao menos para ele, o homem expansivo e alegre passou a achar maior prazer nas sombras.

Nas sombras não havia lembretes de sua condição irremediável. Não havia espelhos. Não havia olhos. Nas sombras não há nada. Apenas sombras.

Era nisso que pensava quando a carruagem parou na frente do lindo sobrado da Corte que pertencia ao Barão de Beira Linda, Emílio Nogueira, portentoso casarão colonial com inspirações neoclássicas; era ali onde sua avó mais ficava.

Ainda não vira a avó desde que voltara de Montevidéu. Estava louco por lhe abraçar e, sabia, ela deveria estar muito ansiosa.

Era de manhã. Dentro da casa, na sala de chá, Esterlina em sua cadeira de balanço tem uma carta do único neto em mãos. Balança, balança, balança...

Pesarosa, infeliz, amargando aquela sensação de fado triste, ela aperta o papel entre os dedos e se pergunta, porque aquilo tinha de estar escrito?

O neto... O melhor amigo do neto... Tantos outros!

Fabrício começava a se acostumar com o futuro que já era presente. Sorrateiro atravessou a casa para chegar onde adivinhava que a avó estava. Era lá que ela sempre estava naquela hora do dia. Era um velho hábito tomar chá pela manhã.

Graciosa [Em Andamento♡]Where stories live. Discover now