Prólogo

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“Do mesmo modo que os atores põem uma máscara, para que a vergonha não se reflita nos seus rostos, assim entro eu no teatro do mundo – emascarado.” René Descartes

Prólogo

 

           

Abriu-se o rolo do tempo dessa história que, na verdade, começou bem antes, quando se amaram os pais, e seus pais, e os pais dos pais dos pais.

Tem a vida dois elementos que a regem.

A livre escolha e o destino.

O destino está aos escolhidos, como a sabedoria àqueles aprendizes que superam os mestres. Tem em comum que aceitam a sina e o saber com resignação quase terna. Os que ficam fora, orbitam diante do teatro onde atuam estes escolhidos.

Há doze caminhos para o ponto de chegada que o destino traçou. O sábio escolherá o certo, e irá diretamente à ele. O teimoso, vai pelos outros, aparentemente mais fáceis, até compreender que o destino é inescapável, porém, quem não diz que foi feliz experimentando a livre escolha? E que escolhê-la também não deixa de ser um destino? Quantos bons frutos ela também não lhe rendeu?

E quem disse que percorrer os outros onze caminhos não eram também destinos e caminhos para chegar a percorrer o duodécimo?

Porém, ó indivíduo que opta pela livre escolha, ature os espinhos, correções e dores de todos os caminhos que não o do destino... Pois quem escolheu escolhê-los, não foi ninguém além de si mesmo.

Começou mais ou menos aqui a história que se vai narrar. Da estrela que brigava com o destino, nossa Rosa Rebelde, tão graciosa, e do “selvagem” namorado, um pouco magoado e deprimido demais para ser ativo em suas escolhas, depois de tudo que lhe sobreveio... Temos nossos protagonistas, tão reais quando são saborosas as laranjas.

Um delicioso aroma de pinheiro inebriava todo lugar naquela passadiça noite de inverno. Em uma fazenda, em que a vastidão das extensões de terra era praticamente incalculável, vivia a família do desbravador Emílio de Lima Nogueira.

Havemos de regressar no tempo para vermos tudo que lhes sucede, desde os primeiros fatos que, se sabe, nunca são exatamente os primeiros. Entretanto, de algum lugar é sempre necessário começar.

Era algum dos primeiros anos da década de 1830.

A Serra da Graciosa se erguia da Terra em sua delicadeza majestosa para abraçar aquelas planícies e florestas, embelezando tudo com seus mistérios e segredos, seus matizes e encantos, seus enigmas e profundidades inexplorados.

Há meses que D. Eliodora Slewinska Coimbra dos Reis Nogueira não saía do casarão ao estilo colonial português que o marido mandara erguer.

Era determinação dele, que temia por “seu estado” naquela terra de ninguém. Terra de ninguém, se diz, pois bem ao sul da província de São Paulo, poucos homens mantinha consigo para a defesa da sesmaria que herdara de seu pai e que, agraciado há alguns anos com o título nobiliárquico pelo Imperador, ali fora sentar negócio e morada.

O pequeno povoado que fundara naquele dia em que ali pisara pela primeira vez não contava nem mais que cem almas... 36 escravos eram o que tinha de seu além de tanta terra e assim mesmo era considerado riquíssimo.

Porque havia num banco fluminense o dote da esposa e suas joias de família. As joias da prestigiosa família Coimbra dos Reis.

Aquela linda terra virgem que mais parecia um belo oceano verde de araucárias centenárias, se vista de cima, ainda não se chamava Paraná. Era já, porém, a terra natal do abolicionista e rei do mate, barão de Serro Azul.

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