Capítulo VIII

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VIII

"Tudo que começa com raiva, termina em vergonha."

Benjamim Franklin


— Papai?! Que foi aquilo no baile? Papai, fale comigo! — Amélia pedia em vão.

Ambos tinham acabado de entrar na carruagem.

— Que houve? — D. Maria Laura acordou, sentindo-se meio perdida.

— O pai de Fabrício ia pedir minha mão a papai, no baile, e ele me arrebatou, assim, na frente de todos, mentindo que eu me sentia tão mal que era caso de vida e morte — Amélia explicou à mãe. — Que houve, papai?

— Quero que esqueça esta história de casamento com Fabrício, querida.

— O que queres dizer? — Amélia estava transtornada. Era a custo que mantinha a modulação da voz perto da normalidade. — Desde que sou criança que é apenas essa história que existe! Não é isso que o senhor mais quer?

— Explique-se, Crisóstomo! — Maria Laura praticamente ordenou.

— O Fabrício é um bom menino, mas não o bastante para Amélia — ele finalmente respondeu, circunspecto, fingindo que fitava pela janela, por uma fresta do cortinado.

— Como assim? Avariaste das ideias, homem? Como não é o bastante? Jovem, riquíssimo, honrado, bem relacionado e claramente apaixonado por nossa filha. Que queres mais?

— O quê, papai?

Meio ranzinza, ele não disse palavra. E as duas exigiam uma explicação. Principalmente Maria Laura, que gostava de Fabrício e fazia muito gosto no casamento. Ela e o marido ficaram bem uns cinco minutos discutindo, tentando entender o motivo. A esposa pressionava o médico para que revelasse o motivo daquilo que fizera. Amélia, ainda experimentando um pouco da euforia que sentia pelo vivido na sacada do casarão dos Nogueiras, ao ouvir a mãe enumerar as qualidades do amado, não aguentou e mostrou a mão para ela.

— Veja mamãe, o que ele me deu! O anel da mãe dele. De D. Eliodora...

— Eliodora... — Crisóstomo repetiu.

Eliodora ela legendária. Na família de Amélia, todos sabiam do amor grande que Emílio sentia pela esposa que tão prematuramente se finara no parto de Fabrício. Esse que, saudoso daquela que não tinha lembranças para carregar, amava sua memória com um ardor que somente o pai e a avó entendiam. Ficava comovido de pensar que ela entregara a própria vida para que o filho, ele, vivesse.

Crisóstomo sabia de tudo isso. Estava lá naquela noite e, deliberado, quando a cunhada teve uma filha, exigiu que seu nome fosse Amélia. Agora, com o desenlaçar dos últimos fatos arrependia-se.

— Um anel? — D. Maria Laura, maravilhada, segurava a mão da filha e examinava-o com atenção.

— Me dá isso! — Crisóstomo tentou puxar a mão de Amélia.

— Para quê? — ela escondeu a mão atrás de si.

— Que houve, marido. Estás doido?

— Com Fabrício, Amélia não casa. Ele está deformado agora! É motivo de fofoca e, nem imaginam, não é? Não imaginam as piadinhas que fazem dele no cassino.

A carruagem parou na frente da casa deles.

— Como assim? Ele é um herói! — D. Maria Laura interveio. — Ninguém reconhece isso?

Graciosa [Em Andamento♡]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora