WHO AM I?

Capítulo 54. O que mais?

Antes de esclarecer qualquer coisa, Justin pediu para que entrássemos e nos trocássemos, já que estávamos todos encharcados da chuva.

O temporal piorava a cada instante e com o cair da noite, podia-se ver com mais clareza o céu reluzir com os relâmpagos, além do vento cada vez mais forte que fazia com que as janelas não parassem de tremer.

Retornei à sala e em alguns minutos, Jodie também apareceu, agarrando um revista qualquer, a qual passou a folhear com atenção. Não ouvia sua voz há horas, talvez ela não quisesse se meter no que anda acontecendo, não a julgo.

— Você está bem? — murmurei, recebendo o olhar da morena sentada do outro lado da sala.

Ela com uma expressão um pouco confusa fechou a revista e me encarou.

— Desculpe, eu que deveria te perguntar.

Fiz que sim com um leve meneio de cabeça e a Jodie me retribuiu com um sorriso de lado.

Por um instante voltamos a ficar em silêncio, mas seus olhos ainda permaneciam sobre mim.

Erich voltou a sala, resmungando algo sobre a água está gelada enquanto secava seu cabelo com o auxílio de uma toalha.

— Onde estão os outros? — Questionei ao moreno.

— Justin e Cassandra estão enfiados no quarto desde que você saiu do banho, Ryder deve estar lá também, não o vi. — ele deu de ombros, caminhando até a janela.

Franzi levemente a testa, incomodada com a demora.

Rich permaneceu observando a chuva lá fora através dos pequenos vidros da janela e Jodie tornou a folhar a revista.

Foram longos minutos de espera. Depois de tanto observar o teto e batucar diversas sinfonias na minha própria perna, decidir por procurar saber o que estava acontecendo. Levantei e caminhei pelo pequeno e estreito corredor que dava acesso aos quartos e ao banheiro. Estava prestes a bater na porta, quando Ryder a abriu e passou por mim como um foguete.

— O que.. — desisti de falar, ao ver que o garoto já ia longe.

Fui atrás dele, preocupada com a expressão em seu rosto. Ryder cruzou a porta da frente, saindo novamente na chuva e se dirigiu diretamente ao carro.

— Ryder! — Chamei, enquanto cogitava se realmente queria me molhar novamente.

Ele olhou para trás ao ouvir minha voz, mas não disse uma palavra. O loiro entrou no carro e desapareceu na tempestade.

— Onde ele foi? — A voz da Jodie soou.

Voltei rapidamente para o quarto, onde Justin e Cassie ainda se encontravam.

— O Ryder foi embora, o que diabos aconteceu? — indaguei.

— Ele o quê? — A loira deu um salto da cama.

— Fica calma — Justin pediu, tocando o ombro da Cassie — Ele vai voltar.

— Eu to cansada dessa merda de omissão, vocês vão me contar tudo agora. Primeiro, o porquê do Ryder ter saído daquele jeito e depois quem diabos é Jeff Callahan. — exigi, fechando a porta do quarto atrás de mim.

Os dois me olhavam um pouco assustados com o tom de voz que usei, o que me deixou por um instante arrependida. Mas no fim das contas, funcionou, Justin coçou a nuca e caminhando até parede começou a falar.

— Jeff Callahan na verdade se chama Makai Cunningham, é um dos membros da máfia que destruiu nossas vidas. Eu não me importava com ele. — ele deu de ombros, encostando-se na parede — Até descobrir que provavelmente foi ele naquela noite do hospital, sua mãe poderia estar viva agora se não fosse por ele.

— O quê? — gaguejei, me apoiando a uma cômoda que ali estava.

Justin engoliu seco e continuou.

— Eu te disse que fomos ao hospital naquela noite porque você era prematura, mas eu não te disse que eu também levei a Marie. — ele olhou pro chão enquanto contava o que aconteceu — Ela perdeu a consciência, mas eu ainda sentia seu pulso, fraco e distante.. Ryan e Nolan apareceram no exato momento com um carro, era o que precisávamos. Então fomos direto pro hospital, ela foi levada pra emergência. Você foi examinada e estava saudável, em perfeitas condições. Foi quando eu escutei a explosão e o grande tumulto tomou conta. Eu estava com você nos braços, me desviando das pessoas que corriam para se livrar do fogo. Não consegui encontrar ninguém que pudesse me ajudar, o teto começou a desabar.. eu tive que sair, eu tive que abrir mão dela.. — sua voz falhou — para não por sua vida em risco.

A dor que me tomou era inexplicável.

Me aproximei do Justin e o abracei fortemente. Era como se seu peito fosse transparente e eu pudesse ver seu coração partido, seu estado deixava claro como ele se sentia sobre esse assunto. Ele sentia culpa. Não por ter me escolhido, mas por não conseguir salvar as duas.

— Sinto muito ter te colocado nessa confusão, achei que estaria livre naquele orfanato. — ele disse, me apertando em seus braços.

— Foi a Jazmyn, Justin. — A voz da Cassie soou, fazendo com que nos desfizéssemos do abraço.

— A dra. Price, irmã do Jack.. Jaxon, não é? O que ela fez? — indaguei, encarando a loira a minha frente.

— Ela é sua tia, Hope. E ela matou aquela garota no orfanato.

— Cassandra. — Justin chamou a atenção dela.

— Não.. — neguei com a cabeça — não.. Por quê?

— Por que não vamos com calma? Tem muita coisa que você precisa saber, mas precisamos ir aos poucos. — Ele disse e eu apenas concordei, não estava pronta para cavar mais a fundo essa história.

— E sobre o Ryder.. O que aconteceu?

Cassandra nervosamente fez um coque em seu cabelo, logo após apoiando suas mãos sobre cama em que agora estava sentada.

— O homem que viu hoje mais cedo, é o Ryan, pai do Ryder. Ele me ouviu conversar com o Justin e acabou descobrindo da pior forma que ainda tenho contato com o pai dele. — ela explicou.

— Por que escondeu isso dele?

— Pela mesma razão que Justin te manteve distante. Para o proteger. — ela suspirou — Nós achávamos que daríamos conta de viver uma vida normal, mas quando o Ryder tinha dez anos nossa casa foi invadida por eles, pessoas que queriam nos matar. Ryder felizmente estava na casa de um amigo e o Ryan conseguiu contornar a situação. Mas depois disso, tivemos que nos separar, por um bem maior.

— Parece mentira tudo isso.. — neguei com a cabeça, tentando relaxar meus ombros. — E então.. quem vai contar ao Erich sobre o pai dele?

Os dois pousaram o olhar sobre mim, sem dizer uma palavra. Não era novidade, era óbvio que eu tinha que fazer isso.