Capítulo 27. I'm not ur baby.

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A noite se arrastava lentamente enquanto eu encarava algum ponto aleatório naquela sala silenciosa. Não consegui pregar o olho depois do que vi.

Minha cabeça estava girando com tantas perguntas. Fechei meus olhos por um instante e respirei profundamente, tentando por ordem em meus pensamentos e então ouvi o barulho da porta a se abrir.

— Tudo certo. Chamei a Samantha para passar a noite aqui, mas ela preferiu dormir em casa para se acostumar. — Charlotte disse, trancando a porta da frente.

Me coloquei de pé, a observando.

— O que está fazendo acordada? Não te disse para descansar? — Indagou, a medida que se aproximava de mim.

— Você mentiu pra mim. — A frase deixou a minha boca sem ao menos pedir permissão.

— Do que você tá falando? — Franziu o cenho sem entender.

— Eu perguntei se havia alguém a mais no carro, você disse que não.

A morena a minha frente instantaneamente ficou pálida. Minhas palavras pareciam tê-la acertado como uma bala a queima roupa.

— Não tinha ninguém. — Repetiu o que outrora havia dito.

— Você estava grávida.

Eu disse, mas por um segundo desejei não ter feito. Seus olhos verdes ficaram vermelhos e por mais que ela se esforçasse para que nenhuma lágrima escapasse, elas ainda estavam ali, comprimidas em seus olhos. Pude ver sua boca ligeiramente se abrir, empenhando-se para dizer algo, mas nenhum som foi emitido.

— Quando iria me contar? Você ao menos ia me contar?

— Eu não queria que se sentisse como se estivesse substituindo alguém.

— Bem, é como eu me sinto agora.

Larguei o ultrassom que tinha em minhas mãos em cima do sofá e lentamente me dirigi até as escadas. Esperava que ela dissesse algo, e então eu diria o quanto eu sinto muito pela sua perda, mas não aconteceu.

Nenhuma de nós fez um movimento.

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— Ela está dormindo, só um instante. — Ouvi a voz da Charlotte vindo lá de baixo e em instantes a porta se abriu. — A Sra. Hempton quer vê-la.

Que diabos? Ótima hora para aparecer.

— Me dá um segundo. — Pedi, saindo da cama.

Uma coisa é certa, ela nos perguntará sobre nosso relacionamento.

O que direi?

Não quero mentir pois se trata de decidir minha vida inteira daqui para frente, mas também não quero dizer como realmente me sinto sobre sua mentira pois isso provavelmente acabará com tudo.

O que devo fazer?

— Hope!

Assim que desci as escadas não pude parar de notar o nervosismo em que Charlotte se encontrava. Sra. Hempton poderia não perceber, mas a morena estava sentada na ponta do sofá com suas mãos sobre suas pernas e, literalmente, apertava seus dedos enquanto a elegante senhora entusiasticamente mencionava a ida do seu filho a faculdade.

— Aí está ela! — Sra. Hempton disse ao me notar chegar.

A Anderson inquietamente me lançou um olhar conforme me aproximava do sofá. Ela estava claramente preocupada com o que sairia da minha boca.

— Sente-se, querida. — A senhora de cabelos grisalhos gentilmente pediu.

Forcei um pequeno sorriso a fim de não parecer rude e me sentei.

— E então, como estão vocês? — Ela prosseguiu.

Hesitei em responder, esperando que Charlotte dissesse algo primeiro, mas não aconteceu.

— Quero dizer, vocês já devem ter tido algum conflito, afinal, Hope é uma adolescente! — Ela riu do que acreditava ter sido uma piada.

—  Não poderíamos estar melhor. — Me pronunciei — Nós temos uma ótima relação, me sinto em casa.

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Me remexi na cama, buscando uma posição confortável e ignorando o fato de que o real desconforto estava dentro de mim. A avaliação foi maravilhosa, tudo ocorreu muito bem, mas assim que a Hempton cruzou a porta, cada uma seguiu seu caminho. Que ironia.

— Posso falar com você? — Uma voz gentilmente invadiu o quarto e por um segundo, imaginei estar sonhando, ou delirando, não seria a primeira vez.

A morena de cabelos curtos me observava da porta e assim que fiz o primeiro movimento, me sentando na cama, ela começou a falar.

— Eu sinto muito ter mentido pra você.. — suas palavras deixaram sua boca com receio — Eu só não queria que fosse desse jeito, eu sabia que se sentiria como uma substituta e por isso hesitei em te contar. Mas acredita em mim, você não é.

Seus olhos novamente se encheram de lágrimas, mas em um chacoalhar de cabeça, Anderson se recusou a deixá-las rolarem pelo seu rosto.

— Você não é o meu bebê. — Ela disse por fim.

— Eu sei, eu sei disso. — Segurei sua mão a fazendo sentar perto de mim — E eu sinto muito pela forma que agi. — Dei uma pausa, dando um leve suspiro — Eu mal posso imaginar a dor que você sentiu, que você sente..

Charlotte se aproximou, me envolvendo em um abraço longo e apertado.

Queria dizer que não cai em lágrimas, pois o quão batido esse fato tem sido em minha vida? Mas aconteceu e, não foi algo que sinto vergonha de ter feito.

Ali estava eu, envolta nos braços da mulher que me acolheu e com todo amor do mundo me escolheu para ser parte da sua vida. Minha mente nunca fora tão fértil para imaginar que algo assim viria acontecer comigo.

— Promete não mentir mais para mim?

— Eu prometo.

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