Capítulo 12. Somos culpados.

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"All this other shit I'm talkin' 'bout they think they know it. I've been praying for somebody to save me, no one's heroic. And my life don't even matter."

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"A perícia está a caminho", "fiquem longe da cena do crime", "mantenham a calma", as vozes ecoavam pelo corredor misturando-se em minha cabeça.

O corredor estava lotado, demorou um pouco até que eu percebesse para onde todos estavam olhando, era o quarto da Elizabeth. Me espremi, passando entre todas aquelas pessoas, a fim de chegar ao quarto e descobrir o porquê de todo esse furdúncio. Ao chegar perto, notei que a área estava interditada, uma fita zebrada foi colocada na porta e um policial ao lado continuava a pedir para que todos ficassem longe. Minhas pernas começaram a tremer, a essa altura eu já não sabia se queria seguir em frente, se queria mesmo saber o que tinha acontecido ali, não sabia se estava preparada para isso.

Depois de lutar contra mim mesma, decidi continuar meu percurso. Em mais um esforço, empurrando as pessoas que atrapalhavam minha passagem – Não tão rudemente o quanto isso soa –, consegui chegar na porta. E então, sem me importar, passei por cima da fita. O policial segurou meu braço, gritando para que eu parasse, mas eu me livrei das suas mãos e continuei a andar.

Meus olhos já estavam marejados, quando vi a primeira pista do que havia acontecido no chão, uma tesoura. E então, da sua localização até o banheiro, uma trilha formada por gotas de sangue.

Por favor, não. Murmurei internamente.

Caminhei até o banheiro com receio do que veria, minhas pernas tremiam a ponto de quase não conseguir me manter de pé. Dei meus últimos passos até o cômodo com meus olhos fechados, tentei criar coragem para abri-los e encarar a realidade, mas o cheiro de ferrugem já invadia minhas narinas. Eu cai em lágrimas pois a esse ponto já era óbvio para mim o que eu encontraria. Soltando o ar levemente para tentar controlar meu choro, em um movimento lento, abri meus olhos.

— Ai meu Deus.. — Disse quase inaudível, pois aquela cena havia retirado minha voz.

Elizabeth estava na banheira, seu corpo pálido contrastava com seu sangue que agora encontrava-se acumulado naquele recinto. Ela tinha cortes nas pernas e em seu pescoço, não eram cortes aleatórios, eram precisos demais para ser. Quem fez sabia o que estava fazendo e tinha como objetivo drenar o sangue do corpo. A última coisa que pude notar foi o espelho que continha a mesma mensagem que Betty recebeu a seis anos atrás, Fatty Betty – Betty gordinha –. Um apelido cruel, dado por uma pessoa cruel.

Aurora.

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— Você fez isso! — Gritei entrando no quarto da Aurora.

— Do que você tá falando?

— Ah pelo amor de Deus, não se faça de desentendida. Você matou a Elizabeth, não matou?

— Hope, olha o que você está falando!

— Você a odiava! Você.. você a odiava — Gaguejei em função dos soluços.

— Eu já fiz coisas horríveis, Hope. Inclusive cometer bullying com uma garota indefesa, mas matar não está entre elas. — Aurora respondeu com convicção.

Não foi ela. Talvez eu estivesse apontando uma arma para minha própria cabeça, afinal, tudo indicava a Aurora, fazia tanto sentido, mas eu olhei em seus olhos quando fiz a pergunta, olhei em seus olhos que estavam vermelhos e inchados (Provavelmente de tanto chorar) e apesar de ser uma garota cruel, como eu sempre digo, sinceramente não acho que seria capaz de matar alguém.

— Não analisaram o corpo ainda, mas eles acham que foi suicídio.. — Ela murmurou.

Aurora estava extremamente abalada e eu entendia o porquê. Se sentia culpada por tudo que estava acontecendo, sentia a morte da Elizabeth em suas costas. E realmente, se se tratasse de um suicídio..

— Ela não se matou. — Falei.

— Por que acha isso?

— Se lembra da primeira aula de culinária quando a Betty cortou o dedo? Aquilo foi insano. — relembrei tentando justificar meu ponto de vista — Você viu a cena do crime? Ela nunca faria aquilo consigo mesma. Se ela realmente quisesse tirar sua vida, seria de uma forma indolor.

— Acho que a única pessoa, além de você, que viu, foi a Dra. Price. Foi ela que chamou a polícia.
 

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— Dra. Price? — Bati levemente na porta do consultório.

— Sim?

Abri a porta, sem ao menos perguntar se poderia. A Lauren estava ao celular e assim que me viu, despediu-se, desligando rapidamente.

— Podemos conversar?

— Não acho que seja uma boa ideia, os policiais pediram que não conversássemos para não atrapalhar os depoimentos que serão colhidos.

Eu não me importo.

— O que estava fazendo no quarto da Betty?

— O quê? — Ela me olhou confusa.

— Você chamou a polícia. O que estava fazendo lá?

— Marquei de fazer uma sessão com ela.

— Estranho, ela odiava tudo relacionado a psicologia. Um monte de mentiras, palavras dela.

— Onde está tentando chegar, Hope? Descobri que ela estava com problemas emocionais acarretados por bullying, então a convenci em trabalharmos sobre isso, se tem alguém que você deve interrogar é a Aurora. Agora eu tenho que trabalhar.

Talvez eu estivesse exagerando quanto a isso. Talvez elas não tivessem nada a ver com isso. De qualquer forma, todos nesse lugar tem um papel na morte da Betty.

Nós a matamos.

"It can be hard. It can be so hard. But you gotta live right now. You got everything to give right now."

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