Capítulo 19. Você tem segredos?

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Sem nem pensar, me joguei embaixo da mesa, esperando que por um milagre, não me vissem ali e em uma medida de precaução, segurei minha respiração tentando controlar a mesma já que no momento meu coração batia extremamente rápido me fazendo ficar ofegante.

Lauren cruzou a porta e logo seu celular tocou.

Eu estava atônita, completamente em choque, inicialmente meu plano era ficar ali até que ela saísse novamente.

Mas é claro que eu não seguiria o plano.

— Ainda estou no orfanato, acabei esquecendo minha bolsa. — Ela disse observando os livros na estante.

Fala sério...

Meu olhar rapidamente se deslocou até o sofá, onde a bolsa da doutora estava jogada.

Conseguia ver o caderno quase caindo da bolsa, bem ali, há dois passos de onde eu estava.

— Eu sei. Te vejo mais tarde?— Lauren perguntou me alertando de que se eu quisesse agir, teria que ser agora.

Estendi minha mão sem tirar o olho da Doutora e então agarrei no pequeno arame espiral, o puxando para mim.

— Tchau. — Despediu-se.

Eu já o tinha nas minhas mãos, mas não era o suficiente para comemorar vitória. Lauren caminhou até o sofá e então pegou sua bolsa. Felizmente, estava apressada demais para conferir se não faltava nada, assim sendo, apenas pôs a bolsa embaixo do braço e retirou-se rapidamente da sala.

Por mais que minha curiosidade fosse grande e meu desejo de desvendar esse mistério fosse enorme, eu precisava sair dali antes de qualquer coisa.

Esperei para ter certeza de que estava segura e então me arrastei para longe da mesa e me coloquei de pé, caminhando em direção à porta, com o mesmo cuidado que anteriormente.

Fui em direção ao meu quarto e preocupada em não acordar a Jodie, caminhei na ponta dos pés até minha cama, onde me enfiei embaixo das cobertas. Estava um pouco receosa quanto a acender a luz, pois minha preocupação ainda era a mesma: lidar com a Jodie. Mas mesmo assim o fiz, pois seria impossível ler algo na escuridão que estava.

Encarei aquele pequeno caderno em minhas mãos e por um momento cogitei desistir, cogitei deixar as coisas como estão, mas Deus sabe que eu me remoeria pelo resto da vida de fizesse isso. Sendo assim, ignorei meu coração acelerado e minhas mãos que agora tremiam, e num profundo suspiro, o abri, tendo a primeira página a minha frente.

"Oi, eu nunca escrevi antes pois não tinha sobre o que falar além da minha profunda tristeza. E se eu não quero viver coisas tristes, também não desejo escrever sobre elas. Acontece que eu cansei de ser a vítima, resolvi não ser o alvo perfeito, consegue entender? E funcionou, escondi meu lado frágil e de repente já não era tão satisfatório fazer bullying comigo.
Finalmente,
eu estou bem, eu estou feliz."

E todas as outras paginas continham palavras que descreviam o mesmo sentimento: felicidade. Nada mais que felicidade.

Ela não mencionava nada sobre medos, solidão ou qualquer outra coisa que pudesse a deixar triste. Cheguei a pensar que talvez ela tivesse evitado escrever sobre, já que a mesma disse em sua primeira página que não desejava falar acerca de tais assuntos, mas as datas estampadas no topo das folhas mostravam que nem sequer um dia ela ficou sem escrever.

Ela estava feliz.

— Por quê, Elizabeth? — murmurei — Eu preciso de uma luz porque não faz sentido! Nada disso faz sentido! Se estava tão feliz por que tirou sua vida? — Minha voz soou um pouco mais alta, acordando a Jodie.

— O que é isso? — Seu olhar posou sobre o caderno em minhas mãos.

Foi estupido mas meu reflexo foi esconde-lo embaixo das cobertas.

— O que? — Indaguei, me fazendo de desentendida. Eu sei, e s t u p i d o.

Ela revirou os olhos e em um movimento rápido, se jogou para fora da cama, caminhando até mim.

Eu não sabia o que fazer, então permaneci quieta enquanto a morena enfiava a mão na minha coberta. Tentei convencê-la de que não se tratava de nada mas ela só sossegou quando finalmente o encontrou.

— Aqui vamos nós. — Ela disse com um ar vitorioso. — Você tem um diário agora? — Indagou, porém, não precisou que eu a respondesse. Em uma pequena análise, acabou notando que aquilo não me pertencia. — De quem é isso?

Jodie me fuzilava com aquele olhar.

— Por favor, não surta — Pedi, fazendo com que a expressão da garota mudasse rapidamente de curiosa para preocupada. — É da Elizabeth.

Ela lentamente abriu a boca, totalmente incrédula.

— Você estava com isso o tempo todo?

— Não — Balancei a cabeça negativamente — Eu acabei encontrando no escritório da Lauren..

— Da Lauren? — Ela repetiu, esperando que aquilo fizesse sentido.

— Sim, não é estranho?

A garota me ignorou por um instante, enquanto olhava o conteúdo do caderno. Não acho que estava preocupada nos relatos da Elizabeth, mas sim em ter certeza que sua melhor amiga não tinha pirado de vez ou talvez só se localizar no meio dessa bagunça.

— Não é tão estranho agora.. — Ela disse, me mostrando a última página do diário.

"Disse que não desejava escrever sobre coisas ruins, mas precisava desabafar de alguma forma e por esse motivo, isso está na minha última página. Mais cedo me consultei com a Dra. Price, inicialmente não queria, pois, para mim não passa de uma grande bobagem. Acredito que só quem vive dentro da sua própria carcaça pode saber o quão bagunçada ela está. Mesmo assim resolvi dar uma chance. Mas não estou aqui para falar da minha experiência, — Foi ruim — estou aqui para falar de uma coisa que eu vi quando estava naquela sala. Eu descobri quem Lauren Price realmente é e eu não quero dizer metaforicamente. Acabei descobrindo que todo esse tempo a Lauren não era Lauren, que ela mentiu, para todos nós. Mas por que? O que ela esconde?"

— Como assim a Lauren não é a Lauren? — Indaguei, confusa com o que havia acabado de ler.

— Pode ser uma identidade falsa. — Jodie supôs.

Bem, agora eu sei porque ela soa tão falsa.

— Você acha?

— "E eu não quero dizer metaforicamente" — Ela repetiu.

Engoli seco, tentando digerir.

— Você acha que a doutora realmente matou a Betty?

WHO AM I?Where stories live. Discover now