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Depois de tantas emoções, nós passeamos pela cidade para tentar acalmar Júlia, que ainda estava em estado de choque. Eu não posso dizer que sei como ela se sente agora e muito menos que entendo sua posição e responsabilidade como filha que acabou de descobrir uma traição na família, mas eu sei como é sentir que não há terra sob seus pés, como é não ter nenhuma boia salva-vidas para poder se segurar em meio há um mar revolto, como é se sentir perdida e traída, e é péssimo saber que não há que eu possa dizer que para amenizar, ao menos um pouco, toda essa dor e ressentimento que ela está sentindo. 

Por isso, eu apenas segurei a sua mão e tentei demonstrar que eu estaria ali para o quer que fosse acontecer, se ela quisesse gritar a plenos pulmões tudo que estava sentindo, eu iria ouvir, se quisesse chorar copiosamente em posição fetal em baixo das cobertas, eu estaria ao pé da cama, se quisesse quebrar a primeira coisa que visse pela sua frente, eu entregaria em suas mãos, ou se apenas quisesse ficar em silêncio, eu estaria ali.

***

Depois de algum tempo, Júlia e os outros tiveram que me deixar em casa, afinal já estava ficando tarde e meu pai estava me mandando mensagens a cada cinco minutos. Confesso que eu não queria tê-los deixado, todos pareciam muito abalados com a notícia, mas, de certa forma eu fico feliz que ao menos uma parte do trabalho tenha acabado, ficar de tocaia espionando pessoas é cansativo e eu já estava ficando sem desculpas para explicar o motivo de ter que sair toda tarde e só voltar à noite. 

Já em casa, vejo o meu pai sentado no sofá me esperando, ele me questiona sobre o que eu tanto faço com a Júlia e seus parentes que preciso sair toda tarde. Isso realmente ocupou todo o meu tempo, nem consigo comparecer as nossas noites de jogos, pois sempre chego cansada. Tento dar uma outra desculpa e mudar de assunto mas, depois de ter mentido a semana toda, o meu pai já não cai mais na minha conversa e especialmente hoje, com tudo que houve, eu não estou com humor para continuar contando mentiras. 

- Lily, você sabe que eu nunca fui de te proibir de sair nem de fazer algo que você quisesse, mas eu estou preocupado filha. Todos os dias você sai com essa gente que eu nem conheço direito e mente sobre o que vocês estão fazendo, e nem tente dizer que não mente pois eu sei quando você mente, posso não ser o melhor pai do mundo, mas eu conheço a minha filha! - diz o meu pai meio irritado, mas olhando fundo em seus olhos eu sei o quanto ele está aflito e que ele só está falando assim porque se preocupa comigo. 

- Tudo bem pai, você tem razão - solto um longo suspiro e peço desculpas a July pelo que vou dizer a seguir - Eu não tenho sido sincera com você e sinto muito pelas mentiras, mas foi preciso, e eu não podia dizer nada por que não é um segredo só meu, mas eu sei que só dizer isso não vai ser o suficiente. Acontece que... - faço uma pausa, sinto um grande aperto no coração por ter que revelar isso mas não é justo com o meu pai. 

- Acontece que o que Liliana? - incentiva meu pai em um tom ameno para que eu continue. 

- A mãe da Júlia trai o pai dela em segredo. Tudo começou apenas com suposições, mas no final de semana passado, acabou virando uma bola de neve, a família deles está dividida e se destruindo ao poucos, e nós não podíamos ficar parados vendo isso acontecer, então começamos a seguir a mãe da Júlia para ver se ela estava ou não sendo infiel. E hoje nós confirmamos a história. - vejo a cara do meu pai tentando processar tudo que lhe falei e ele parece um tanto quanto abismado, acho que ele não esperava uma bomba como essa - Eu sei que é muita informação de uma vez só, eu mesma não consegui entender direto tudo que está acontecendo, mas pai - digo olhando em seus olhos - eu preciso estar ao lao dela agora. Eu não posso simplesmente abandonar o navio e deixar que ela afunde com ele, então por favor, eu te peço que apenas aguente só mais um pouco. 

- Tudo bem, só mais um pouco. - afirma ele por fim depois de um momento. 

***

A semana passou tão rápido que eu nem acredito que hoje já é sexta-feira. Diferente das outras vezes, eu não estou animada para o final de semana, ainda mais com o que iremos revelar para a família de Júlia. 

De certa forma, eu me sinto desconfortável com toda essa situação, é como se eu estivesse me metendo onde não sou chamada, afinal, eles não são da minha família e isso não deveria ser da minha conta. Mas eu acho que não se trata de ter ou não haver com você, se trata apenas de fazer a coisa certa e ajudar quem precisa.

- Alô? Terra para Liliana! - diz Ana estalando os dedos na minha frente e me tirando dos meus pensamentos - Você tá bem? Essa semana você está mais distraída que o normal.

- Tô é? Acho que eu nem notei. 

- Bom, mas então é melhor você voltar logo ao normal pois temos que começar a organizar a Calourada. 

- Organizar o quê? - pergunto confusa.

- A Calourada é uma festa que nós, alunos, fazemos todos os anos para dar boas-vindas aos calouros, e todas as turmas a partir do segundo ano participam. - explica Jéssica, como sempre, ela é super bem informada. 

- Resumindo, é uma festa. - diz Jean, chegando e se sentando na cadeira ao meu lado.

- Tá escutando a nossa conversa agora é? - questiona Ana.

- Achei que fossemos amigos agora.

- Vai sonhando. - diz Ana sorrindo - Mas enfim, hoje a tarde vai ter a primeira reunião sobre a Calourada. Esse ano nós vamos ter que pegar mais leve já que no ano passando, alguns alunos foram pegos dando mais do que só uns amassos e os pais culparam o colégio.

- A diretora ficou uma fera e disse que caso algo assim voltasse a acontecer, ela iria cancelar a Calourada para sempre. - completa Jean. 

- Puxa, um pouco drástico. - falo.

- Foi exatamente o que eu disse! Ela não pode punir todo o colégio só por causa de uns idiotas que não souberam se controlar. - declara Ana.

- Uma pena, mas essa tarde eu não posso.

- Como assim "não pode"? - questiona Ana fazendo aspas com as mãos - É a primeira reunião, nós temos que comparecer! - diz Ana surpresa. 

- Eu não posso ué. Tenho que sair com a Júlia. 

- De novo essa garota? Vocês saíram a semana toda! - afirma Jean.

- Realmente, o que vocês tanto fazem que não podem deixar de sair uma vez na semana? - pergunta Jéssica, droga, o que que eu vou dizer agora? 

- É... Nada demais, é só faz algum tempo que nós não saímos juntas.

- Mas você não foi pra casa dela no final de semana passado? - questiona Jean, pondo a mão no queixo pensativo.

- Muito suspeito, anda desembucha logo. - ordena Ana. 

- Gente, não é nada de mais, e para provar isso, eu vou agora mesmo mandar uma mensagem pra ela dizendo que hoje não vai dar - digo pegando meu celular e mandando para Júlia uma mensagem - E pronto. Viram? Não é nada.

Depois disso, eles meio que aceitaram e não tocaram mais no assunto. O resto da manhã correu normalmente e a Júlia entendeu que eu não poderia estar presente hoje e que eles iriam sem mim. 

À tarde, a reunião sobre a Calourada começou. 

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cabooouu

espero que vocês estejam gostando

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bjuus

:3

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