#17

29 2 1
                                    

Apesar de não ter gostado do que o Henrique me falou, não consegui parar de pensar no que ele me disse. Será que eu estava sendo tão ruim assim? Depois de muita reflexão, eu percebi que eu não estava brava com o meu pai, e sim com a minha mãe, é verdade que nem um dos dois nunca me deu muita atenção, mas estar com o meu pai esses dias, começar nossas tradições de jogos e filmes, tem sido muito divertido e me faz até esquecer que um dia não foi assim. Só que a minha mãe não mudou nada, mas eu acho que não é culpa dela, ela tem que ficar do outro lado da cidade a semana toda, e ela sempre trabalhou muito para manter o estilo de vida dela, ela é muito forte e eu a admiro muito. Acho que todos temos culpa no cartório, odeio admitir mas o Henrique estava certo, o meu pai está tentando recuperar o tempo perdido e não deveria piorar as coisas.

***

Já era quase noite, eu estava no quarto conversando com a Júlia e decidida a falar com o meu pai e resolver toda essa situação, afinal ele não tem culpa, a minha mãe só precisa de tempo para se adaptar...

De: Júlia
Para: Liliana
Finalmente as coisas se acalmaram, meu tio jura de pé junto que não tem nada com a minha mãe, mas meu pai precisa de um tempo, então meu pai vai ficar com a minha avó por uns dias, até que ele esteja pronto pra voltar.

De: Liliana
Para: Júlia
Realmente hoje foi um dia cheio pra você hein?

De: Júlia
Para: Liliana
Aqui é sempre assim. A cada dia, uma emoção diferente.
Mas eai, como você tá? Já sabe o que vai fazer com relação ao seu pai?

De: Liliana
Para: Júlia
Acho que vou desculpar ele, afinal, ele não tem culpa e a minha mãe só precisa de tempo.

De: Júlia
Para: Liliana
E o que você vai fazer com seu vizinho?
Ele até que ajudou, fora que é um gatinho...

De: Liliana
Para: Júlia
Primeiramente: Ainda não sei, mas com certeza não vou admitir nada pra ele, ele foi muito rude.
Segundamente: QUE ISSO JULIAAAA, tem garotos muito mais bonitos do que ele nesse mundo.

De: Júlia
Para: Liliana
E daí? Isso não anula o fato dele ser lindo também.

De: Liliana
Para: Júlia
Aham, lindo e um babaca né
Fora que é o cachorrinho da garota chata que tá pegando no meu pé
Se quer saber, pra mim é um desperdício de homem bonito

De: Júlia
Para: Liliana
Então você admite que ele é lindo?

De: Liliana
Para: Júlia
Eu sou orgulhosa e não cega.
Mas como eu disse, não estou interessada em mais um como o Lucas, ser trouxa uma vez já foi o suficiente.

Escuto a porta abrir e meu pai me chamar da sala.

De: Liliana
Para: Júlia
Meu pai chegou, hora de botar tudo pra fora.

De: Júlia
Para: Liliana
Vai lá e arrasa, boa sorte!


- Pai! Tô no quarto, pode vir aqui? - gritei e sentei na cama, esperando por ele.

- Oi querida, tudo bem? - diz ele entrando no quarto.

- Tudo sim, senta aqui, eu quero te falar uma coisa. - disse o convidando a sentar - Olha, eu queria pedir desculpas pelo meu comportamento de mais cedo, eu sei que você não tem culpa de nada e que não foi certo eu ter te tratado daquela forma.

- Tudo bem Liliana, eu sei que você estava irritada com a sua mãe.

- Ainda não acabou, eu quero pedir desculpas mas também quero perguntar uma coisa: Por que você sempre foi tão distante de mim?

- Como assim? - diz ele com uma cara confusa.

- Você nunca esteve presente, nem nos meus aniversários, peças da escola, até mesmo quando você estava em casa, você nunca prestava atenção mim, era sempre trabalho, trabalho e mais trabalho. - digo sentindo meus olhos encherem - E agora, você presta atenção em mim, mas isso não apaga todos os anos em que eu me senti sozinha.

- Liliana, eu não sabia que você se sentia assim. Eu sei que nós últimos anos eu não fui muito presente, mas essa mudança me fez notar o que é importante de verdade, e eu prometo que vou te compensar por todos esses anos.

- E quem me garante que você não vai voltar a se concentrar somente no trabalho? E me deixar de lado?

- Se eu fizer isso, você pode me acordar com um banho de água fria, e aí eu vou saber. Tudo bem assim?

- Sim. - digo isso e o meu pai me abraça.

- Mas então, você quer fazer alguma coisa?

Depois de pensar por uns momentos decido o que quero fazer. A minha avó dizia que quando o meu pai era criança, ele adorava cantar enquanto ela tocava piano, mas eu nunca tive a oportunidade de vê-los juntos fazendo isso.

Chamo o meu pai para se sentar comigo na sacada, em frente ao teclado, e o convido a me acompanhar em uma música. A noite está parcialmente fria mas não tem problema, esse momento com o meu pai vale mais do que qualquer coisa.

***

Já é segunda de manhã e eu estou saindo de casa, Henrique não está me esperando na porta do elevador como nos outros dias, mas acho que é melhor assim, mesmo que ele tenha ajudado ontem, ele ainda foi muito rude e me deve desculpas. Entro no elevador e quando ele está quase fechando, alguém põe a mão entre as portas e as faz abrir novamente.

- Vai sair sem mim? - pergunta Henrique entrando no elevador, até parece que eu vou responder - O gato comeu a sua língua? Vixi, ficou muda. Bom, já que é assim, não diga nada se eu puder levantar a sua blusa.

- Você tá doido?! - digo segurando a minha blusa.

- Olha, ela fala. Porque não me esperou? Eu te espero todo dia.

- Não sou obrigada. - disse de cara fechada e saí do elevador que já chegara ao térreo.

- Porque você tá brava comigo? - Ah, por que será né? Talvez porque você seja um babaca? - Ah pronto, agora ela vai descontar a raiva dela em mim. Bom dia Jefinho. - diz ele quando chegamos ao térreo. 

- Bom dia Jeff, tchau Jeff. - digo quando passamos por ele na portaria, o mesmo acena com a cabeça. - Eu não estou descontando raiva, eu tenho motivos pra estar irritada com você.

- E eu posso saber quais são?

- Inacreditável - digo parando na frente dele - Você vai na minha casa, se mete na minha vida, praticamente grita comigo e ainda tem a cara de pau de perguntar se eu estou brava com você? Sinceramente, inacreditável.

- Eu só tentei ajudar.

- Ajudar gritando comigo?

- Digamos que eu ajudei em voz alta. - diz ele dando um sorriso de canto de boca. Fofo, mas ainda babaca. Eu reviro os olhos , volto a andar e ele me acompanha - Tá bom, desculpe por ter ajudado em voz alta.

- Bom, a sua ajuda em voz alta não foi completamente inútil - digo com um sorriso - Nós fizemos as pazes.

- Ah, então acho que eu mereço um obrigada pelo menos.

- Você já tem o prazer da minha companhia. - rimos - Aliás, já que eu te contei que fizemos as pazes, isso vai contar como uma das cinco curiosidades do dia.

- Isso não é justo mas acho que não estou em posição de discutir.

- E obrigada... - falo baixo sem encará-lo.

- Disponha.

------------------

Cabou o epp
Espero que estejam gostando
Deixe sei voto e comentário
Bjuuss
:3

Complexo de PrincesaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora