𝙴𝚕𝚎𝚟𝚎𝚗

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Entretanto, não vou confundir nem a minha nem a sua mente, que já ambas devem estar um puro caos, pelo menos a minha. Com isso, ainda trocávamos alguns selares singelos quando eu chegava a casa ou quando me aconchegava ao seu lado nas noites em que ele estava sensível, nada muito além. Não quero rotular seja lá o que estamos tendo, afinal, Taehyung ainda se sente preso a Yesung e eu preciso ter certeza de que isso seja completamente mudado antes de nos relacionarmos de forma efetiva. Gostaria que ele fosse independente, um homem seguro de si e, por isso, assim que retornei do trabalho, já com o número da clínica, me apressei ao seu encontro para poder lhe contar sobre a novidade, tendo o coração se despedaçando ao vê-lo encolhido na cama, aos prantos.

Já era normal o encontrar a chorar, afinal, sabe-se lá o que se passa na sua cabeça enquanto eu não estou e ele fica sozinho, ter em mente que ele poderia passar o dia em lágrimas fazia um aperto incomum atingir o meu peito. Aquela necessidade de fazê-lo se sentir bem voltava como um tsunami me alcançava de forma dolorosa. De repente, após dias convivendo com Taehyung e cuidando de si, me vi tendo minha felicidade sendo compartilhada. Se ele estava triste, eu estava triste; se ele estava feliz, eu estava feliz.

Hoje, estávamos indo ao primeiro encontro seu com a terapeuta, o que me demorou imenso para convencê-lo. Ainda me lembro de toda a conversa — quase discussão — que havíamos tido no jantar da noite anterior.

— Taehyung, eu estava pensando aqui, e... — eu pousei meus talheres junto ao prato, sentindo seu olhar curioso sobre mim. Não sabia como começar aquela conversa, eu sabia muito bem sua opinião acerca das visitas a uma terapeuta e tinha a plena noção que essa conversa não seria nada fácil.

— Sim? — seus olhinhos brilharam, o homem fez o mesmo gesto que eu depois de levar uma garfada de comida à boca. Uma das coisas positivas era que, a seguir da ida à nutricionista, o mesmo estava se esforçando para cumprir o plano e se curar fisicamente. Seu corpo já estava melhor, eu conseguia perceber mudanças e seus ossos já não estavam tão salientes como antes, e isso me animava porque sentia que ele estava fazendo progressos e se esforçando para ficar melhor.

— Eu consegui o contacto de uma terapeuta para você. — eu pude ver que seu olhos ficaram tristes no momento em que eu acabei minha frase e ele teve dificuldades para engolir o pedaço que tinha em sua boca, ficando cabisbaixo em segundos. — Eu sei que é difícil, Taehyung, eu não estou afirmando o contrário. Apenas acho...

— O que você acha? Que por eu estar a viver em sua casa você pode me obrigar a fazer as coisas como Yesung fazia? — seu tom começou alto e foi diminuindo aos poucos, até chegar a um fio de voz. — Você não pode fazer isso comigo...

O silêncio reinou em todo o apartamento, eu não conseguia me pronunciar devido às suas palavras, tão frias e cruas. Ele achava que eu era como Yesung? Que eu o iria obrigar a fazer isso apenas porque eu queria, e não por ser algo de que ele precisasse?

— Taehyung... eu... eu não... — tentei balbuciar, mas ele não permitiu. O mesmo se levantou rapidamente e foi em direção ao cômodo, fechando a porta e ficando lá dentro. Meu corpo estava em uma batalha entre ir atrás dele ou lhe dar algum tempo, e optei pela segunda.

Eu não consegui acabar de jantar, havia ficado sem fome em questão de minutos. Arrumei toda a loiça e lavei a usada, guardando tudo o que não comemos. Me dirigi até ao banheiro, me preparando para ir dormir e, passado uma hora de nossa conversa, eu decidi bater à porta do quarto. No entanto, não sabia se ele me deixaria entrar.

— Tae? Posso entrar, anjinho? — eu não consegui ouvir nenhuma resposta vinda de si, por isso, entrei e a cena me assustou. Taehyung estava andando de um lado para o outro, sua face estava lavada em lágrimas e ele transportava roupa sua para a mala sob meu olhar. Eu caminhei até si, seu corpo estava tremendo e ele se amedrontou com minha aproximação, dando um passo para trás. — Taehyung, eu não vou machucar você, calma, por favor.

Apartamento 316Where stories live. Discover now