𝚃𝚑𝚛𝚎𝚎

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Jungkook

Era uma tarde estranhamente chuvosa, estávamos em pleno verão e as pingas de água grossas caíam intensamente lá fora. O delicado ser de cabelos azulados permanecia encolhido na cadeira em frente ao balcão, brincando com os seus pequenos dedinhos e evitando qualquer conversa possível. O silêncio pairava no ar, sendo que os únicos sons que poderiam ser ouvidos eram a chuva fora de estação e nossas respirações pesadas. O rapaz aparentava um nervosismo palpável, suas pernas tremendo em expectativa e, contra meu pedido, continuando a morder os lábios secos.

Eu ainda esperava uma explicação pela sua aparição repentina em meu apartamento, para além de devolver o objeto que me pertencia. O rapaz usava aquele velho moletom vermelho, com um grande furo no bolso, o mesmo que usara na primeira vez que me batera à porta para me pedir o sal. Arrisquei uma conversa, perguntando com cuidado para não o afugentar.

— Então... quantos anos você tem, Taehyung? — questionei, recebendo pela primeira vez os olhinhos brilhantes sobre mim.

— Tenho vinte e quatro anos, Jungkook. — respondeu, ainda baixo. Será que era muito repreendido quando mais novo? Geralmente, crianças que recebem bronca o tempo inteiro por falar, tendem a se tornar adultos mais quietos e fechados, Jin me contou uma vez. — E você? — indagou, me tirando dos devaneios.

— Vinte e dois. — respondi, abrindo um sorriso por estarmos desenvolvendo uma conversa. — Pensei que você tivesse vinte e seis ou vinte e sete. Parecia mais velho. — solto um riso anasalado para descontrair o clima tenso, porém, ele não devolve. Engulo um seco imaginando que, talvez, ele esteja se sentindo cada vez mais desconfortável. — Você frequentou a faculdade? — sua expressão indiferente se transformou em tristeza, ele primeiro assente com a cabeça e depois murmura a afirmação. — Em que curso se formou?

— Música. — respondeu, achando cada vez mais interessantes os seus dedos, se encolhendo tanto na cadeira que eu poderia jurar querer se fundar com ela. — Era minha paixão, mas não exerço mais.

— Por quê? — indago, verdadeiramente interessado no assunto. Taehyung poderia ser um bom músico até, mas nunca vi ele pisar para fora de casa. — Você chegou a lançar alguma coisa?

— Motivos pessoais e não. — respondeu, concluindo o assunto e, muito provavelmente, querendo acabar a conversa por ali mesmo. Consegui perceber que Taehyung era uma pessoa fechada, tímida. A maneira como ele olhava continuamente para o chão e se remexia na cadeira em desconforto demonstrava que não queria estar no mesmo cômodo que eu, ou, talvez, ainda não estivesse à vontade comigo. Não conseguia tirar os olhos dele, mesmo que eu estivesse parecendo um pouco amedrontador, eu estava apenas curioso, queria saber mais e mais.

— Taehyung. — o chamei, recebendo um resmungo, as orbes escuras voltadas para mim. Percebendo que ele havia arrancado mais uma pele da boca, suspirei. — Por favor, pare com isso, está se machucando. Isso pode ficar muito pior se continuar. — ele lambeu os lábios e parou, mas não demorou muito para retornar a fazer.

Uma ideia piscou em minha cabeça, levantei e fui em direção ao banheiro, enquanto seus olhinhos acompanhavam meu passo. Retornei e lhe entreguei um hidratante labial novo.

— Isso vai ajudar a cuidar dos seus lábios. — digo, enquanto ele pega a embalagem curioso. — Assim ó. — fiz o movimento de como funciona, passando meu indicador pela minha boca, o que o fez rir, acabei o acompanhando. — Desculpa, eu sou um pouco idiota.

— Eu sei como funciona, Jungkook. — disse, me devolvendo o objeto e negando com a cabeça. — Obrigado, mas não posso aceitar.

— É um presente. — rebato, tentando convencê-lo e lhe empurrando o protetor labial. — Sei que é meio estúpido, mas vai te fazer bem. É novo e eu tenho mais para mim, se for esse o motivo pelo qual não pode aceitar.

Apartamento 316Where stories live. Discover now