𝙽𝚒𝚗𝚎

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Jeongguk

Os primeiros dias de Taehyung em minha casa foram... bastantes complicados, assim se diga. O, de agora, cabelos negros — cor que, por acaso, lhe assentava perfeitamente — ainda se notava abatido e foram diversas as vezes que eu adormecia antes de o escutar chorando no cômodo que, de momento, era dele, visto que eu estava dormindo no sofá. Eu simplesmente acabava acordando a meio da noite e escutava o ruído baixo vindo do quarto, suspirando de tristeza pelo ser delicado com quem convivia estar passando por tanto sofrimento.

Quando isso acontecia, eu me levantava e arrastava meu corpo sonolento até ao cômodo, batendo à porta, e o rapaz terminava por me conceder a passagem. Normalmente, o questionava se queria que me deitasse com ele ou se preferia que eu lhe trouxesse um copo e um comprimido para dormir, mas ele sempre negava a segunda opção, ficando-se pela primeira. Acabei por presumir que, provavelmente, o mesmo não conseguiria dormir se negasse minha companhia. Eu me enfiava em baixo das cobertas, meu corpo pedindo por algum descanso e o obtendo quando finalmente ouvia a sua respiração tranquila e pesada. Era como se eu tivesse acabado de ter tido um bebê — não no mau sentido, eu estava amando a sua companhia — e ele necessitasse de minha atenção a todo o momento.

Apesar de eu dizer ao mais velho que podia ficar o tempo que quisesse em minha casa — o que ele aceitou de bom grado —, eu também expus a ideia do mesmo ir até ao seu apartamento buscar algumas roupas e objetos pessoais que necessitasse. Não preciso de dizer que ele negou veemente, não me dizendo o porquê — ainda que eu não carecesse da confirmação de que ele estava amedrontado de algo terrível acontecer e das suas memórias ainda estarem frescas —, mesmo eu insistindo que ficaria à porta vigiando.

Já para além de não falar em alguns acontecimentos estranhos quando eu falava na eventualidade do mesmo sair comigo para fazer pequenas compras, ir até ao salão ou simplesmente dar um passeio no parque mais próximo. O seu comportamento podia ser classificado como assustado quando eu falava na chance do mesmo por um pé fora de casa, e eu compreendia. Afinal, Taehyung devia temer que Yesung fosse solto sem o nosso conhecimento — o que jamais aconteceria, eu havia falado com Yoongi para me avisar caso alguma coisa fosse alterada em relação à prisão do namorado violento e ele me garantiu que eu teria informações em primeira mão acerca de todo o processo.

E o que mais me irritava é que tudo isso tinha acontecido porque ninguém havia tido a coragem de intervir na maldita relação dos dois, toda a gente ignorava as constantes discussões e agressões que aconteciam e isso me deixava nervoso e puto. Se um casal tem problemas tão graves ou pior que Taehyung e Yesung, deve-se intervir sim, e quem diz que não está errado! Muito menos se deve ignorar os sinais de abuso quando os envolvidos o demonstram. Porque as pessoas pensam que, por não ser a sua relação, não tem que ver com elas? E eu me pergunto se, eu não tivesse me mudado, será que isto teria tido um final diferente? Mais trágico?

Hoje era o sétimo dia que Taehyung permanecia em minha habitação e, depois de jantarmos — Taehyung mal tocou na comida, me preocupando —, assistimos um pouco de TV até o mesmo confessar que se sentia ensonado. Eu lhe desejei uma boa noite e beijei os seus cabelos antes do mesmo desaparecer dentro do cômodo, me fazendo lamentar por toda essa situação e ansiar que tudo ficasse melhor em um estalar de dedos. No entanto, constatei que isso estaria longe quando, ainda antes de desligar tudo e me deitar, ouvi seus soluços baixos.

Mais uma vez, apaguei todas as luzes e me dirigi para o quarto, levando meu punho até à porta de madeira e a socando levemente, ouvindo um "Entre" fraco. Repeti o processo de me deitar debaixo da colcha, à sua frente, levando minha mão até à sua cintura e o puxando para perto de mim. Enquanto o olhava e abraçava o seu torso, afaguei os seus cabelos, esperando que o mesmo adormecesse como costumava fazer.

Apartamento 316Onde as histórias ganham vida. Descobre agora