𝚃𝚎𝚗

3.5K 482 653
                                    

Taehyung

Durante todo o tempo que permaneci em casa do Jungkook, até este dia, me senti como se fosse um empecilho na sua vida. Ele fazia tudo para me agradar, desde refeições compostas a singelas flores e selares delicados em minha testa. Toda a sua dedicação e comportamento me fez lembrar Yesung no início de nossa relação, sempre carinhoso e zeloso. E eu simplesmente sentia que não conseguia retribuir da mesma maneira, a felicidade que eu pensei que iria experienciar quando me visse livre do meu namorado tóxico nunca chegou a comparecer.

Por Deus, eu até lhe havia tirado a cama. Ele insistiu tanto em que eu ficasse na sua habitação e tentou me dar o melhor, até mesmo o sítio onde ele dormia. E, como se isso não bastasse, eu não conseguia dormir direito — a não ser que o mesmo estivesse ao meu lado, claro. Todas as noites eu tinha sonhos ruins e acordava chorando, meu peito sacudindo vigorosamente e minha respiração alterada pelos acontecimentos fictícios que meu subconsciente tecia.

Eu tentava conter os meus soluços o máximo que conseguia, mas parecia que Jungkook conseguia ouvir a quilómetros de distância porque, em questão de minutos, no silêncio da noite escura, eu ouvia o sofá ranger e seus passos sossegados até à porta. Era incrível como, mesmo depois de se ter tornado um hábito ele entrar todas as noites, o rapaz ainda batia à porta e me permitia escolher entre seu apoio ou uma bebida para me acalmar. E, mesmo que ele não conseguisse ver, eu sorria pequeno e optava por sua companhia — afinal, se dependesse de mim, eu sempre o iria escolher.

Ele me acolhia em seus braços fortes e deixava sua colônia se espalhar por todo o ambiente, o cheiro do perfume masculino deixava meu coração mais calmo e meus sonhos bem melhores. Podia dizer que Jungkook se parecia com uma droga, eu necessitava da sua presença para me acalmar e deixar meus pensamentos menos turbulentos.

E, como eu disse, eu me senti um inconveniente na sua vida até hoje. Porque, neste dia, Jungkook havia me olhado de outra forma. Ele havia me tocado de forma díspar da qual eu estava habituado. Ainda consigo sentir seus dedos resvalarem a pele delicada de meus lábios, seu olhar sobre os mesmos fez minha pele arrepiar e desejar — erroneamente — que ele fosse além do toque com dígitos. E eu não era tocado com tanto carinho e devoção há tanto tempo que me senti enfraquecer com seu toque subtil e carinhoso.

— Hey, Taehyung, o almoço está pronto, venha comer. — fui retirado de meus pensamentos quando a voz do dono da casa soou pelo seu quarto, meu subconsciente voltou a permitir que minha sensatez voltasse a funcionar. Eu suspirei, eu tinha tomado uma decisão e precisava de a comunicar.

— Jungkook...

— Sim? — o rapaz, que acabara de entrar no cômodo que era, atualmente, meu aposento, me olhou em expectativa. — Precisa de algo, Tae?

— Eu só queria... queria pedir que não se chateasse comigo...

— Chatear? Porquê? — Jungkook esboçou uma face de dúvida, chegando mais perto do meu corpo. — Eu não me chatearia, só se você tiver cometido um crime. — ele sorriu, seu tom brincalhão pairando no ar, e eu mordi meu lábio, arrancando uma pele em nervosismo. — Hey, não faça isso. Onde está seu protetor labial?

Eu apontei na direção da cômoda, fazendo com que o mais novo se dirigisse até ao local e esquadrinhasse as gavetas, finalmente encontrando o batom e voltando até ao meu lado. Ele tirou a tampinha azul do pequeno canudinho e levou o objeto até os meus lábios, os rodeando com o creme. Eu o observei durante todo o momento, a sua face de concentração — muito provavelmente para não sujar minha pele que não fosse a dos lábios — era, para mim, muito desconcertante. Quando deixei de sentir o contacto, ele se exprimiu de novo. — Prontinho. O que você estava dizendo?

Apartamento 316Where stories live. Discover now